Sertão
Ara chão!
Surgi o sol na alvorada
com seus raios de quentura
quem no sertão faz morada
investe na agricultura
deixa o chão da terra arada
que na primeira chuvada
no plantio vai ter fartura.
Um vaqueiro nordestino, morre sem deixar tostão
O seu nome é esquecido nas quebradas do sertão
Nunca mais ouvirão seu cantar
Meu irmão
Sacudido numa cova
Desprezado do senhor
Só lembrado com o cachorro
Que ainda chora sua dor
SEGUE!
No sertão nordestino
pela seca causticante
nesse clima em desatino
num interior distante
segue firme seu destino
o sertanejo desbravante.
SUGUE!
No sertão nordestino
pela seca causticante
nesse clima em desatino
num interior distante
segue firme seu destino
o sertanejo desbravante.
TOCAIA (soneto)
Ao sopro do vendaval no cerrado
No céu azul da vastidão do sertão
Segue veloz os sonhos do coração
Entre os uivos do já e do passado
A quimera, se acautela na ilusão
Prudente, contra o sentir errado
Tenta equilibrar estar apaixonado
Pra não sufocar a sofrida emoção
Na procela no peito esganiçada
Brami uma dor abafante e escura
Que perambula pela madrugada
E, em aflitivos véus da sofrência
Dando-lhe, assim, ar de loucura
No amor valência é ter paciência
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
24/07/2020, 15’15” – Triângulo Mineiro
OUTONO EM POESIA (soneto)
Bailando no ar, gemia inquieta a folha caída
No azul do céu, do sertão, ao vento rodopia
Agitando, em uma certa alvoroçada melodia
Amarelada, vai-se ela, e pelo tempo abatida
Pudesse eu acalmar o seu fado, de partida
Que, dos galhos torcidos, assim desprendia
Num balé de fascínio, e de maga infantaria
Suspirosas, cumprindo a sua sina prometida
A vida em uso! Na rútila estação, obedecia
Um desbotado no horizonte, desenhado
E em romaria as folhas, em ritmo e magia
No chão embebido, o esgalho adormecido
Gótica sensação, de pesar e de melancolia
No cerrado, ocaso, do outono em poesia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/07/2020, 10’22” – Triangulo Mineiro
Meu amor de ontem
Ele havia chegado.
Foram 25 cinco anos de sertão. Barba por fazer, desodorante faltando, mal-cheiro falando.
Português capenga, só ficava rachando lenha, trabalho braçal mesmo. Verbalizar algumas palavras somente depois de uns goles de pinga.
Até que morava bem, num “igarapé” fresquinho às margens do Rio das Mortes, uns 100 quilômetros da cidade, na seca. Na chuva nem tiro ideia. Ventilação só do vento nos buritis.
Lugar bonito por lá. Tem duas estações: a seca e as águas. Ouvi dizer que vendem perfumaria nos alagados.
Vizinhança próxima, toda sorte de animais silvestres e rastejantes.
Ele me explicou bem como era feliz. E fez esta viagem com proposta de sermos mais unidos.
Na verdade fiquei embasbacada e pensando se o banheiro
tinha lixa de pé e “bidê”.
Olhei sua camisa de um algodão rústico e desbotado, seus pelos agora também descoloridos saindo revoltos entre os botões.
O vento derrubou meu chapéu panamá e ele não se inclinou para pegá-lo.
Disse que tinha hóspedes e muita pressa.
Saí da conversa com um calor sufocante e uma pergunta im- pertinente.
“Será ele o mesmo que tanto amei ?”
Ele virou Anhanguera e não o reconheci.
Lembranças, às vezes, é um lugar confortável.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Vida de sertão!
A seca me maltratava
me trouxe judiação
a chuva ameaçava
só não caia no chão
mas se a água brotava
nenhum motivo faltava
pra se viver no sertão.
Gosto das areias secas do sertão
Meu nordeste árido, com pequenas manchas perdidas na vastidão
Dessa caatinga estorricada do sertão.
Veio chuva.
Não pense que o sertão
tem seca por todo lado
por aqui tem plantação
e tem verde no roçado
o nordestino em oração
agradece de coração
por tudo que tem plantado
Grãos.
Aqui no meu sertão
temos a fertilidade
o prazer de arar o chão
e ter grãos de qualidade
quando é boa a produção
a gente aluga um caminhão
e vende tudo na cidade.
A natureza aqui investe
no verde da plantação
no mar de azul celeste
e nas belezas do sertão
quem fala mal do nordeste
só pode ser cafajeste
ou quem não vale um tostão.
Nato compositor
Sou um nativo,
Trovador lá do sertão.
Vou improvisando sozinho,
Com as dores do meu coração.
A bota de couro
Vai chiando no estribo,
E o meu cavalo,
Vai levantando poeira no estradão.
Derramando lágrimas,
A nevoeira vai acentando no chão.
Levo comigo,
Uma sacola em mãos,
Mantimentos,
Um deles arroz e feijão.
Levo também meu amigo,
Um cachorro da raça pastor alemão.
Naquela fronteira,
Antigamente eram tudo flores.
Depois que decidi,
Amanheci deixando saudades.
Nem disse adeus,
Parti não devendo um tostão.
As aves que voam no céu,
São minhas companheiras.
Para onde eu vou,
Elas migram comigo ao léu.
Na cintura,
Uma fita de couro suporta meus trajes.
Entender minha jornada,
Não é tão fácil assim não.
Se canto sentindo tormentos,
Espanto até os que comigo vão.
Mas logo tudo se acalma,
E eles voltam a comer,
Nas palmas de minhas mãos.....
Não posso mudar o meu destino,
Faço de mim o meu próprio momento.
Sou tímido,sou expressivo
Um nato compositor,
Ingênuo,
Natural e acaboclado...
Tem horas que sou civilizado.
Outras horas um índio mestiçado...
Passivo,paciente e de boa mente.
Vou compondo canção.
Para todo tipo de gente.
Insisto,
Porque tenho fé em Jesus Cristo.
Ah! Se não fosse ele.
Nessa hora eu estava era frito....
O fim de tudo para mim.
É um segredo ainda não revelado.
Vou vivendo meus dias.
Com o meu lápis sempre apontado.
Do nascer do sol,
Ao poente de cada tardinha.
Tomo banho no Ribeirão.
E aproveito pesco sardinhas.
A cair da noite.
Pego no sono profundo.
Ao acordar.
Faço meu precioso café.
Para esquecer,
Até que sou desse mundo.....
Autor:Ricardo Melo
O Poeta que Voa
VIAS!
Por esse país desatino
andei sem ter medo nenhum
quem vem do sertão sem destino
o difícil se torna comum
qualquer um pode ser nordestino
mas nordestino não é qualquer um.
Nossa terra é um presente
lugar que se vive bem
aqui o mar tem água quente
e o sertão é um harém
é fácil falar da gente
difícil é viver contente
sem ter o que o nordeste tem.
ROTINA DO SERTÃO
É tão bom viver a vida
Na rotina do sertão.
Bem cedo tomo o café,
Depois vou à plantação.
Levo o gado pra pastar,
Vendo a tarde só passar,
Com Rosa no coração.
CASTELO ZÉ DOS MONTES
O castelo Zé dos Montes,
Situado em Sítio Novo,
Bem no sertão potiguar,
É obra que é do povo.
Faz um grande labirinto,
Acredite pois não minto,
Lá feliz eu me comovo.
TRIUNFO
Encravada no sertão
Numa serra elevada
A cidade de Triunfo
Parece refrigerada
E pra não levar revés
Com a mínima de dez
Só saia agasalhada
TAPERA ESQUECIDA
De passagem no Sertão,
Eu parei pra contemplar
A tristeza de um lugar
Esquecido num grotão.
A palavra solidão
Não descreve uma tapera
Tão deserta que coopera
Com o vil termo ruína...
A Caatinga Nordestina
Dizimada não prospera!
Na tapera eu vi sentido
D’um celeiro de lembrança
E lembrei que fui criança
Num lugar bem parecido.
Senti-me desprotegido,
Órfão de identidade
Tomado pela saudade
Do meu tempo pueril...
Retomei o meu perfil
Com certa dificuldade!
No terreiro desolado,
Um grande mandacaru,
Ao longe pés de umbu,
Pinhão na cerca trançado
Que apesar de estar florado
Parecia mais alerta
Naquela cena deserta
Como um aflito recado
De um chão desertificado
Em decadência, na certa.
Apenas um solitário
Concriz catando no mato
Na calha de um regado
Seco compondo o cenário,
O pássaro qual relicário
Trouxe-me sinal de vida.
Apressei minha partida
Um tanto impressionado
Por ali ter contemplado
A tal tapera esquecida.
Nordeste minha morada
da cultura e da beleza
tem água doce e salgada
e no sertão tanta riqueza
quem fala da terra amada
ou não entende de nada
ou é burro por natureza.
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