Sertão
O VALE DOS ENGENHOS
Urandi com muitos rios
é o Oásis do Sertão.
Imagina tudo preservado,
antes da depredação.
Tinha água o ano todo,
podia fazer irrigação.
Faziam muitos açudes
pra molhar a plantação.
O rio Raiz era o mais forte,
molhava muita roça de cana;
movia até engenho de ferro,
uma das maiores fontes de grana.
Eram muitos engenhos
rodando ao longo do rio.
No tempo da moagem
podia estar quente ou estar frio.
Quando os bois puxavam
o engenho rodava;
jorrando garapa
quando a cana esmagava.
Tinha muitos alambiques
de cachaça de qualidade.
Tinha muitos acidentes
mutilando com fatalidade.
Produzia também rapadura
e mel com total perfeição;
além do tijolo e da puxa,
tinha o bagaço pra criação.
O rio agora está seco,
não tem mais plantação.
Do engenho pode ter ruína;
o que resta é só a recordação.
O RIO RAIZ
Esse presente da natureza
Que nos deu em pleno Sertão,
Jorra água milagrosamente
E só pede em troca preservação.
O rio Raiz é a nossa maior riqueza
E sua nascente é na serra dos Gerais.
Ele Jorra a melhor água do mundo
Pra matar a sede do homem e animais.
Irriga lavoura e abastece a cidade.
Ele á a razão da nossa existência,
Mas o urandiense não agradece
E maltrata por não ter consciência.
Sua força moveu engenho,
Roda-d’água também moveu,
Fez monjolo funcionar
E a lagoa de Urandi encheu.
Serviu água pra maria fumaça,
Gerou energia elétrica.
Urandi foi pioneiro
Em instalação de hidrelétrica.
A energia era fraca;
Não tinha tecnologia,
Mas dava pra iluminar,
Só não era igual hoje em dia.
Por aqui andou Virgulino
carregando sua patente
o carcará cantava o hino
no sertão de terra quente
entre a seca e o destino
terá sempre um nordestino
com a missão de ser valente.
No sertão cenas reais
de um cenário deprimente
sem verde nos matagais
o poder se torna ausente
e no centro das capitais
o preconceito mata mais
que a dor que fere a gente.
NO SERTÃO!
Quem quer paz e tranquilidade
assossega e não tem pressa
fica velho na idade
mas o corpo não regressa
lá pras bandas da cidade
tem vida boa e qualidade
mas pra mim não interessa.
Andanças Climáticas
O sertão vai virar mar,
mas não se engane
o mar não vai virar sertão.
este ser tão só
ama a sua solidão.
iemanjá
não deixe o povo se afogar
eles foram em direção ao mar
e ele por sua vez
fez o mesmo que eles.
Renovo do Sertão
Novembro tá chegando, a seca vai embora,
O sertão resplandece, é festa que aflora.
Com timidez, o verde começa a brotar,
O mato se enfeita, vem pra nos alegrar.
Os riachos que antes só guardavam saudade,
Agora cantam vidas com a nova umidade.
Água corrente e fresca, dá gosto de ver,
É bênção do céu que faz a gente renascer.
A alegria do nordestino é pura emoção,
Quando as chuvas dançam na palma da mão.
Trovoadas ressoam, é música no ar,
Armazenando esperanças pra um ano de plantar.
Assim, o sertão se veste de esperança e cor,
Cada gota é um sonho, cada chuva é amor.
Novembro é renovo, é vida a florescer,
No coração nordestino, sempre vai prevalecer.
O VELHO CARRO DE BOI - João Nunes Ventura-10/2024
Nasci no sertão minha terra adorada
Sou nordestino do Pajeú meu rincão,
Com disposição o homem da enxada
Tangendo boiada cantando a canção.
Tenho saudade do velho carro de boi
No meu aboio festejando a plantação,
O touro valente e a poeira da estrada
Da invernada banhando nosso sertão.
Sou sertanejo e por todos abraçados
Campeando gado é a nossa tradição,
É a cultura derrubar o boi no terreiro
Sou vaqueiro em festa de apartação.
O grito de vaqueiro chapéu de couro
Origem dos cantos todo o esplendor,
Que linda morena no cavalo montada
Seu sorriso e vida seu gesto de amor.
A esperança do sertão
As vezes me lembro da última chuva
A maninha ainda tava na barriga da mamãe
Conseguia ver o sorriso de painho em seu rosto
Agradecíamos a Deus por cada gota de água que nos abençoava
Ainda tínhamos esperança
Gostava dessa época
Acordávamos bem antes do galo cantar
Miguel sempre resmungava das longas caminhadas até o poço
Ajudávamos papai até nossas mãos se enxerem de calos
Eu nem ligava, o importante era que nós estávamos juntos
Ainda tínhamos esperança
Depois que partimos de lá
Não se falava mais com vovô
Tentava chamá-lo, mas ele não respondia
Mamãe rezava mais uma Ave Maria, com os olhos cheios de saudade
Ainda tínhamos esperança?
Muito tempo se passou e a chuva no sertão não volta atrás
Olhando para baixo, vejo os registros das pessoas que já passaram por aqui
Olhando para frente, vejo a seca assombrar cada pedaço de vida desse nosso interior
Olhando para o lado, vejo a face de todos se apagando lentamente
Não temos mais esperança
Fim de tarde no sertão
O sol se põe em brasa lenta,
tingindo a terra de alaranjado,
o céu se veste de paz cinzenta,
e o sertão descansa, calado.
A seca faz poeira no vento,
levanta murmúrios de histórias passadas;
na aridez, o verde é um lamento,
mas a vida insiste, entre rachadas.
O gado marcha, já tão cansado,
as sombras crescem sobre o chão,
no horizonte, um vulto alado,
um pássaro, em lenta procissão.
A natureza respira profundo,
cada som, um som de oração,
na quietude, se encontra o mundo,
e a beleza bruta do sertão.
É um quadro de fogo e saudade,
um instante que o tempo retém,
o fim de tarde traz a verdade
de uma paz que o sertão contém.
Conquista joia rara do sertão
Vou pelo mundo, tocando meu berimbau, quem quiser me conhecer sobe a serra do marçal.
Sou de Conquista Jóia rara do sertão, terra de Elomar figueira, tocador de violão.
Carlos Jeová, nosso grande escritor, representou o sertão, conquista, interior.
Serra dos pombos, voltando de outro lugar, quando chego em Conquista não me canso de falar.
falo de tudo que há de bom nesse lugar, logo penso Glauber Rocha cineastra igual não há.
Na cento e onze, saindo do meu sertão, com o mestre Acordeom e Balança na direção.
É tanta história que me esqueco de contar, por falar em capoeira, salve o mestre Sarará.
Do outro lado, quem passou também já viu, o Cristo de Mario Cravo, foi ele quem esculpiu.
Nos quatro cantos capoeira eu fui jogar jóia rara do sertão tem história pra contar.
Foi muita coisa pra chegar aqui, onde é catedral, foi casa dos ben-ti-vis.
Joao gonçalves com maldade no olhar, fez o banquete da morte para os índios dizimar.
Daqui pra frente Conquista virou história, passando a se chamar, Imperial vila da Vitória.
Mas com tempo seu nome se transformou em Vitória da Conquista, a capital do interior.
Conquista terra que me conquistou, jóia rara do sertão capital do interior
Conquista terra que me conquistou, capoeira do sertão, grandes mestres de valor.
Sandro capoeira
O sertão da caatinga
Os caminhos são tortuosos
Nas estradas do meu sertão
Cercado de estacas e farpados
A caatinga reina nessa região
Uma floresta branca atípica
Cheia de diversidade e beleza
Como o mandacaru com sua flor típica
E o tronco do Juazeiro com sua dureza
Os cactos estão aqui para reinar
Suas folhas dão lugar a seus espinhos
Para registirem a seca e sua água conservar
E suas flores embelezar a terra com carinho
Sem pasto para o gado sobreviver
A macambira e as palmas são a solução
Para boi poder ter o que comer
Homem e natureza estão em comunhão
E assim são os caminhos pela caatinga
Cheio mato e uma beleza bem peculiar
De tanta utilidade que niguém imagina
Só andando pela magia desse lugar.
Quem vive aqui no sertão
com tudo pode brincar
bola de gude e pião
e pipa solta no ar
quem corre de pé no chão
não pensa em celular.
Vejo o amor como chuva no sertão, como uma benção merecida, que renova a esperança em nós e faz brotar de novo a vida.
Minha sorte!
Terra seca e rachada
não tem quase nada
que alimente o sertão
é a sorte que vaga
sem ter quem lhe traga
um pedaço de pão!
No sertão!
Aqui tem felicidade
tem aperto de mão
tem amor e amizade
um bom dia do irmão
lugar de simplicidade
e o agito da cidade
passa longe do sertão.