Senta
Mamãe sempre faz a mesma cara quando acorda. Titia sempre senta no mesmo lugar. Lucas sempre está dormindo. Eu odeio rotina.
Quero lembrar sem nunca esquecer que tudo é uma imagem onde o pensamento se senta...até que a ausência se faça silêncio na forma de um adeus...
Vem senta-te aqui junto de mim,
vamos jogar conversa fora,
vamos desenhar o nosso futuro,
vês, aquelas estrelas ali? juntaram-se para nos ouvir, querem ter o
prazer de realizar os nossos sonhos, desejos enfim, querem a
nossa felicidade.
Certa vez, um filósofo disse:
Tudo aquilo que não me mata, me fortalece!
Então eu pergunto:
Sentar em um formigueiro o deixa mais forte?
Eu fiz a dor como a minha amiga, como a legítima amiga, que anda comigo para lá e para cá, ela senta ao meu lado na escola e me faz escrever esse texto.
Ligação Anormal?...
Ainda procuro a conexão
Entre o vaso sanitário e o telefone...
Senta num e o outro toca...
Pas comme les légendes urbaines
No alto da montanha
A Loba senta alerta.
Com seus olhos tudo observa
Seu corpo sempre tenso.
Os seus pelos prateados
sob os dedos da Lua reluzem
escondendo sob seu manto sedoso
as cicatrizes de uma vida.
Depois de tantas Luas permanece solitária
escorraçando inúmeros lobos
que não conquistam seu interesse,
não despertam sua curiosidade,
e não a excitam pelo desafio.
Um dia uma outra Loba se aproxima.
Cautelosa, de passada firme, forte.
Senta devagar perto da Loba
encarando os olhos dela com respeito e desafio.
Devagar, com admiração e curiosidade
seus olhos percorrem a pequena e orgulhosa fêmea.
Reconhece as cicatrizes,
sua força,
sua astúcia
e agilidade.
Percebe a inteligência inibriante
e sua combatividade instigante.
Então decide.
Sem levantar-se, devagar,
avança as patas da frente até deitar-se.
Olhando afetuosamente para essa magnífica Loba.
Determinada a ser dela e conquistar seu coração.
Não importa o calor do dia,
a força da tempestade,
a proximidade dos raios,
a altura das ondas,
o frio da noite,...
Ela nunca arreda pé do lado dela.
Quieta, determinada.
Sempre atenta aos desejos dela,
aos seus temores e fantasmas.
Sempre pronta para incentiva-la
quando ela está sem forças ou em duvida.
Sempre firme ao lembra-la
da sua força e coragem quando ela hesita.
Sempre cuidadosa procurando respeitar
o desejo de independência dela.
Loba fêmea
Que reconhece, na sua amada Loba,
a necessidade crônica em provar
o quão forte e independente é.
Loba fêmea
Que aguarda, paciente,
o dia em que ela perceber
que não precisa provar nada.
Não para ela fiel Loba
que reconhece sua dona.
Falibilidade
Senta só este pobre
Ainda sonha, ilude-se
Vive desta crença e melhora
Um coitado aos olhos elitistas
Um forte, um bravo
Vigoroso em seus ideais
O soco contra a covardia
O arroto diante da boa educação
A revolta, a espontaneidade, a graça
Um papel, só um bilhete
Anunciando o próximo encontro
Já não será tão breve
Está de pé, ainda
Inabalado e coerente
O tal quebra-correntes
Corre a todo o tempo
Do tempo que lhe foi imposto
E não desiste
Queimando panos e papéis
Jamais se curva, jamais entoa hinos
E à autoridade oferece seu repúdio
Andarilho livre
Que se nega a aceitar presentes, suborno
E bebe da fonte, não do copo
Vejam, estão limpos
Mas fazem questão em rolar na lama
Gostam de emporcalhar-se
Espíritos asfaltados
Nu e cru, vasto e fértil
Um dia falecerão todos de fome
A ganância de uns
A ambição de outros
E a morte da maioria
Em resposta, a disposição em dizer não
Bater sem as mãos
E ainda assim agredir
Ferir, desagradar e continuar a sorrir
Violar, destruir, destronar
Para distribuir felicidade entre os injustiçados
Bernardo Almeida
Ela chega cedo, sorridente, dizendo bom dia. Senta-se... a esperar o dia terminar. Fica ali, só olhando, sem dizer nada. Sabe que já estou acostumado, como uma amante que chega na véspera do fim de semana e vai embora nas primeiras horas da segunda-feira. Tento fingir que ela não está ali, me distraindo, ficando ocupado; mas o tempo vai passando e sei que ficarei com ela, que ela está pacientemente à minha espera.
Junto com ela chegam os amigos fieis, daqueles que estão sempre em minha volta, e acreditam me conhecer profundamente, como quem admira um daqueles ridículos ovinhos pintados a mão, sem se importar com o que tem dentro. Possívelmente faço o mesmo com eles... não os culpo.
Pra piorar, ou melhorar, nesta semana a Syco (apelido que eu dou a psicologa) teve que mudar o dia para a quinta-feira, ontem, que é a vespera das sextas, que é a vespera dos metódicos fins de semana, que levam a igualmente metódicos dias de trabalho. Esta Syco tem sido diferente. Me manda eMails, recados pelo celular... quase que uma terapia 24/7. Procura os meus fantasmas e os explora, me empurrando de encontro a eles.
Me agarro às novidades como uma criança à um novo brinquedo. Há alguns meses tem sido o ciclismo, aquelas breves duas horas quase que diárias de dor literalmente escrota que eu, apesar disso, tenho valorizado mais do que um banho de espuma, no sentido absolutamente próprio da palavra.
Agora já são 11 horas da manhã. E ela continua alí, quieta e sorridente. Enroscos os dedos, balanço as pernas, me contorso na cadeira... inquieto... incondicional... Fujo para o banheiro, lavo o rosto, a vejo no espelho...
- Boa noite! Como será nosso fim de semana?, ela diz...
Não digo nada...
- Será do jeito que você quizer... leia um bom livro, saia com seu filho, gaste energia, encontre seu espaço... relaxe...
Continuo sem dizer nada...
- Te vejo semana que vem...
TUDO QUE TU FIZER PÕES O QUE TU ÉS POIS ASSIM TU BRILHRAS PORQUE QUEM TEM MEDO DE DEITAR DORME SENTADO QUEM TEM MEDO DE CAMINHAR NÃO FICA EM PÉ;QUEM TEM MEDO DAS DECISÕES VIVE EM CIMA DO MURO QUEM TEM MEL DA O MEL QUEM TEM FEL DA O FEL (ANONIMO)
Ela existia, mas o mundo se tornou bem menos inocente – cretino e ordinário –, só restou a ela sentar de costas e enxergar o que ela conseguisse ver.
“Eu quero eu, você, nós. Eu quero a gente na nossa casa, eu quero a gente num inverno rigoroso sentados na sala tomando chocolate quente, eu quero a gente passeando na rua de mão dada, eu quero a gente deitado na nossa cama, eu te mordendo e você me fazendo cocegas, eu quero você me abraçando quando eu estiver com medo de algo, eu quero você acariciando meu cabelo enquanto estou deitado no seu colo, eu quero a gente abraçados olhando filme, eu quero que quando eu estiver fazendo pipoca você chegar atrás de mim me abraçando forte e falar: Precisa de ajuda? Eu quero te fazer ter arrepios na nuca com o meu carinho, eu quero dormir com você abraçadinho sentindo a sua respiração no meu pescoço, quero acordar do seu lado te acordando com beijinhos, eu quero rir com você nos filmes de comédia, eu quero você me levando e buscando da escola, eu quero que mesmo a gente longe um do outro trocarmos sms fofas, eu quero você de madrugada me acordando com a sua meiguice, eu quero você me batendo, me mordendo, me xingando, me mimando, me abraçando ou me beijando. Eu quero você, meu amor.”
Se você se senta e assiste a sua Constituição sendo rasgada, se você come deliberadamente comida envenenada, compra produtos manufaturados (que ninguém precisa) e "revira os olhos" indiferente, enquanto milhares de pessoas sofrem e morrem ao seu redor...Este é o "Direito Universal" que você assina?
Turbilhão
Escuta o final de uma conversa ao telefone, quando se senta ao lado de uma mulher no ônibus:
- Mas olha, Valmir, eu vou ter que desligar. Meu bônus tá acabando e eu ainda tenho que falar com…
Mas deixa a conversa alheia para lá. Mergulha nos sentimentos daquela música que ainda cantarolava desde que saiu de casa. Era de Caetano (sempre), I’ts a long way. Pegou dois ônibus para chegar ao seu destino e, na metade do caminho do segundo, um da linha 500 e alguma coisa, repetia, já cansada:
- “We’re not that strong, my lord, you know we ain’t that strong. I hear my voice among others…”
Mergulha não só nos sentimentos que essa música lhe causa, mas cai de cabeça na sua vida. Dói. Ela sempre dói. Sempre falta alguma coisa, sempre tem algo de errado. Ela, menina. Ela, mulher. Ela tão confusa. Incompreensível até para ela mesma. Dói. Sua cabeça bagunçada. Entorpecida, nada disso lhe vem à tona. Mas assim, pegando dois ônibus de uma vez só e triste com as coisas que não tem controle sobre, pensa em tudo. Sempre se entristece. Sempre acha que tem algo errado. O que seria? O que será? O que é?! As perguntas sempre lhe angustiaram. Mil imagens passam pelos seus olhos abertos que fingem observar as coisas que passam borrando pela janela. Mas não dá tempo de entender nada, ela pede parada, tem que levantar logo porque o ônibus tá lotadíssimo de gente, tá apertado. Desce, anda pela rua de pedras pretas e brancas, observando o anel no dedo do seu pé. Pensa que é melhor deixar para lá… são só coisas da sua cabeça, invenções que ela nunca compreende mesmo. Tem tempo para essas loucuras mínimas - ou máximas -, não. Vai embora, esquece a perturbação momentânea que teve. Já não sabe mais direito o que é sossego. Mas pensa que pode amar, ainda. Quem sabe esteja chegando a hora de novo. Pensa que daqui a dois ou três dias estará meditando e tomando banho de cachoeira. Pronto! Contenta-se com as coisas que lembra, assim, do nada. Mesmo quando são as memórias saudosas da sua breve vida. Conversa com as outras pessoas e brinca, sorri, dança. Passou. Pelo menos por enquanto.
É raro encontrar alguém que vê além das nuvens, que se senta no meio do nada pra caçar estrelas e trocar ideias com a lua. Há pouco azul na cidade, ninguém dá mais bola para o firmamento, estão todos vivendo sem perceber os prédios se erguendo na volta e engolindo nossa capacidade de reparar nos detalhes.
..Eu fui desacreditado e aguentei calado, senta no meu lugar e vamos ver o quão forte será quando for julgado..