Saudades do Tempo
Aqui estou
Mas nem tanto assim
Disperso
E sem fim
Um completo incompleto de mim
Nos pensamentos
perto
No coração
a lacuna
E o tempo
perde-me
Ou talvez
Eu perca tempo
Canta o homem,
a sua passagem
que o tempo não muda,
e saudando a vida,
vai bebendo de sua taça de sonhos
Ser vaga é a tradução de um vazio latente. O que se vê nem sempre se pode ter. E o que um dia foi, pode voltar, repentinamente.
"Às vezes vezes sinto que o tempo não passou. Então, percebo que é a ilusão provocada pela saudade chegando de mansinho..."
Quarta feira, em cinquenta tons de cinza...
O mar ficou cinza.
A linha do horizonte, nesta manhã de quarta feira tem um fundo cinza.
A areia, confete colorido, também ficou cinza.
Passou o carnaval, e o amor de carnaval também virou cinza.
Mas, cinza não é fim de nada.
Cinza é o início em cor, como gota de orvalho, nuvem de chuva,
É tempo de espera entre o preto e o branco na cabeleira dos avós.
Foto antiga que mata saudade também é cinza.
Até o amor no cinema moderno tem tons de cinza.
E nós hoje coloridos de preto, branco, amarelo, marrom...
Seremos um dia cinzas,
Em todos os tons de cinza.
A história é uma Fábrica de Tecidos
Houve um tempo em Baldim
que muita moça bonita
com seu vestido de chita
e charmoso chapelão,
com orgulho e alegria
se sentava na carroceria
de um velho caminhão
e ia para São Vicente
fiar algodão.
Ah! Que tempo “bão”!
Monólogo ao tempo
E o tempo que sempre foi sensato, o que lhe aconteceu? Quem me dava pistas de como manter-se vivo, hoje, nem dá um suspiro. Dizem por aí que você se apagou, outros, que você deu uma leve pausa no serviço para com o mundo e eu, meramente desacreditado, acredito que esteja de birra comigo.
Você um dia falou: "Vai com calma que seu coração não vai aguentar!" Lembro nitidamente a primeira surra que levei por não ter lhe escutado, por não ter dado ouvidos ao condutor do mundo, o verdadeiro arquiteto. Hoje, com mais calma, eu percebo o quanto você faz falta. Um falta que não faz um amor não correspondido nem o que já passou. É dor dissimulada que estrangula o meu peito por perder um bem que tanto admiro.
Advento da sua preocupação, lembro da paciência de lidar com problemas alheios. Assim como uma matriarca, cuidou, alimentou e deu conselhos, faltou o afeto, mas sabe... Há muito tempo uma professora de semiótica falou
que dentro de relações sintáticas/sociais e diárias a demonstração de afeto mais forte é aquela que, dentro dessa análise, se esforça pra ser irritante. Era você. Tempo.
Não sei por que você desapareceu tão repentinamente mas espero sua volta de braços abertos e com aquela calma que me ensinaste.
Se foi por causa dele eu entendo, temos muita coisa para conversar.
Eu aprendi que tudo tem o tempo certo pra cada coisa, que nem tudo vai ser como nós queremos e que nem tudo voltará a ser como antes.
Ainda olho para o alto e
Tenho lembranças suas,
A cada dia que passa,
Nossos momentos
Ainda consomem minha memória
E ainda penso se tudo
Realmente valeu a pena,
Sinto falta da gente,
Dos momentos que passamos,
Dos lugares onde fomos
E dos sorrisos despertados,
Momentos de alegria, são só lembranças,
Como estaríamos hoje
Se o tempo não estivesse nos separado
Só hoje , só hoje
Vejo que irá ser difícil encontrar
Alguém como você de novo,
E escuta,ainda queria viver bons momentos Com você
Daqui pra frente só quem manda é o futuro,
E continuaremos felizes
Vivendo o presente
E esperando um final feliz.
Sabe qual o grande problema do calendário?
A repetição.
Sim, a repetição anual de um ano novo que se inicia e traz com ele datas nada diferentes. E cá para nós o calendário é cruel, porque não importa o quanto uma data tenha sido importante e marcante em nossa vida, basta olhar para qualquer lugar e lá está ele, maldito calendário, insistindo em lembrar e trazer à tona sentimentos dolorosos de uma saudade impetuosa de momentos vividos que não voltam mais...
É como se alguém te amarasse os pés e as mãos e em enfiasse uma faca no peito. Entretanto você é imortal, porém vai ficar sentindo a dor. Com o tempo você acostuma, mais a vida sempre vai lá dar uma cutucada na faca, pra te lembrar que a dor da saudade vai estar sempre ali mesmo que aprendas a conviver com ela.
Sempre tentar lembrar algo que já passou, se torna uma tarefa muito difícil. quando isso acontece, o ideal é nunca se conformar com a perda das lembras, e sim, criar simulações, como de um filme na mente, não avançando, mas voltando cada gesto, movimento, áudio, tudo que poderá contribuir para um acontecimento.
Mãezinha
Quando eu ainda era menino
minha mãe cantava cantigas
de ninar. Mas certo tempo mamãe
esqueceu de dizer pra mim...
Que menino quando cresce
vira homem e sente saudades.
Por isto eu canto já que enquanto
a gente canta espanta a saudade
para bem longe.
Mãezinha do céu eu não sei rezar,
eu só sei dizer que quero te amar.
Azul é o teu manto, branco é teu véu
Mãezinha eu quero ti ver lá no céu.
Já faz algum tempo. Mas se Deus
quiser tal dia a gente se reencontra.
Às vezes eu queria amar alguém tanto quanto amo a letra de Stop Crying Your Heart Out do Oasis. Assim como amaria flutuar em nuvens de quadros impressionistas.
Às vezes me flagro cantarolando com um violão invisível entre os braços. Eu desconheço os acordes. Mas ele os conhecia.
Ah, ele! Todos os clichês do amor cabiam nas suas sete notas. Ele repetia os refrões enquanto fitava o dia nascendo através da janela. Seus dedos brincavam em meio ao caos. Nunca começava antes do primeiro cigarro. Criou as suas próprias regras.
Seu violão era a sua máquina de escrever. Compositores são poetas que a vida esqueceu de presentear com a arte do silêncio. Os seus sentimentos têm tons e harmonias; pausas e bis.
Eu me acostumo! Mesmo sabendo que não duraríamos mais do que um álbum inteiro do Pink Floyd. Serei mais uma história, mais um balançar de cordas. Terei cinco estrofes e dois refrões. Meu nome vai ser ocultado. A canção irá servir como uma recordação boa para alguns; insuportável para outros.
Enquanto isso - do outro lado da cidade -, estarei me reestruturando aos pouquinhos.
Eu só preciso do barulho que vem do meu peito para estampar o papel. Eu só preciso lembrar-me do cheiro de cigarro mentolado para naufragar no mar branco das folhas. Porque poetas são compositores sem ritmo. Meus dedos são ágeis, assim como o músico nas cordas. Minha alma grita, pois precisa. Meu coração ritmado cria todo o tipo mirabolante de melodias.
Eu o conheci no meio das minhas incertezas. Nossos bloqueios criativos se atraíram. Esse era o nosso nível de igualdade. Um não era superior ao outro, havíamos cicatrizes iguais.
Não é o que dizem? Por onde passamos deixamos um pouquinho da gente. Pessoas que assinam as nossas peles; carimbam as nossas vidas. Eu sei que na vida dele muitas outras se tornarão canções pelo que não deu certo. E voltaremos ao recomeço, uma vez que o ser humano tem a necessidade de pertencer. Seja a uma música, a um poema ou lembrança.
E ele é todo sentimento. Eu sou toda pedra. Ele sempre viveu todos os momentos; fumou todos os cigarros; cantou todos os refrões. Mas aprendeu a duvidar das palavras e dos poetas. Nós queríamos ficar juntos, ao mesmo tempo em que todos os versos diziam ao contrário.
Mas eu nunca o amei!
Mesmo ficando com a mania de curtir os álbuns dos anos 70, de criar regras, de anotar as coisas em um bilhete na geladeira para não esquecer o que fazer. Mesmo esperando silenciosamente o fim do primeiro cigarro, em seguida o pigarro seco e, por fim, os graves e agudos do violão. Eu não o amei nem quando fiz o meu melhor poema dedicado aos amores que perdemos no meio do caminho. Ou os caminhos que perdemos em meio aos amores ilusórios.
Ele nunca soube me dizer o que era impressionismo, eu nunca quis aprender a tocar violão. Ele não gostou dos meus poemas; eles eram indecisos - porque lua em libra é o meu segundo nome. Eles eram tristes, pois eu sabia que nunca seria o seu Wonderwall, do mesmo modo em que ele nunca seria aquele que poderia me salvar.
Nossos mundos colidem, nossos karmas se cumprimentam como velhos amigos de uma vida cansada. Por isso preferi amar Stop Crying Your Heart Out do Oasis. É mais fácil. Aceitável.
Assim como a música, tivemos o nosso tempo cronometrado. Assim como um poema, seremos eternizados em pequenas estrofes do passado que resignamos.
“Aguente!” – diz a música – “Não se assuste! Você nunca mudará o que aconteceu e passou...”
E isso me conforta até a próxima manhã, sem ninguém cantarolando refrões na janela...