Saudades do seu Corpo
Chega de reclamar da segunda-feira, de dias chuvosos, do vizinho que escuta som alto, do corpo que você tem, do texto que alguém postou, de algo que você escutou. Só se importe com aquilo que realmente lhe faz bem, e ignore as outras. Algumas coisas são eternas, outras, estão por aqui só de passagem. Aproveite a vida!
Não quero o primeiro beijo:
basta-me
o instante antes do beijo.
Quero-me
corpo ante o abismo,
terra no rasgão do sismo.
O lábio ardendo
entre tremor e temor,
o escurecer da luz
no desaguar dos corpos:
o amor
não tem depois.
Quero o vulcão
que na terra não toca:
o beijo antes de ser boca.
"Mia Couto"
É um mantra que acalma a alma. É terapêutico. É algo que o corpo tem que ter, como comida. É muito importante entender o poder da música. Quer você esteja em um elevador, ou numa loja de departamentos, a música afeta o modo como você faz compras, o modo como você trata seu vizinho.
(perguntado se a música é um instrumento para a cura)
A música é a maior conexão entre meu corpo e a minha alma. É ela que me traz de volta quando me perco de mim.
Menina ou mulher
Uma menina se preocupa com a aparência, a beleza e o corpo, uma mulher se ocupa com projetos, com sua atitude e inteligência.
Uma menina faz pose, caras e bocas, uma mulher conversa.
Uma menina sonha com um príncipe encantado que lhe dê atenção, uma mulher quer um companheiro que a respeite.
Uma menina usa um homem como estratégia, uma mulher compartilha a sua existência.
Uma menina é ingênua, carente, mimada, imatura e não respeita o seu próprio corpo, uma mulher é independente e sabe o seu valor.
Uma menina curte a emoção do momento, uma mulher valoriza o diálogo, o amor-próprio e o sentimento.
Uma menina preenche os vazios de um homem, uma mulher ama com intensidade e quer apenas reciprocidade.
Nocturnamente
Nocturnamente te construo
para que sejas palavra do meu corpo
Peito que em mim respira
olhar em que me despojo
na rouquidão da tua carne
me inicio
me anuncio
e me denuncio
Sabes agora para o que venho
e por isso me desconheces
Por meio de uma ginástica perseverante e gradual, as forças e agilidade do corpo se desenvolvem ou se criam numa proporção que espanta. O mesmo se dá com os poderes da alma. Quereis reinar sobre vós mesmo e sobre os outros? Aprendei a querer"
...sou mulher de sorriso largo, coração aberto, só que mantenho meu corpo fechado;
sou mulher de exercitar a alma, perfumo as palavras e mantenho minha opinião;
sou mulher de tempestades e maré mansa, tenho bálsamo para as feridas, mas evito-as, sinto medo da dor.
sou mulher de longe, de perto, sou mulher de um jeito incerto, mas quando amo é sem medidas e sem razão;
Respeito as pessoas, mas minha verdadeira paixão, são os animais; antes de me ver mulher me sinto fêmea da cabeça aos pés, na maneira de ver, sentir, tatear e saborear; não renego minhas origens, tenho orgulho delas.
Aceitar-se como fêmea é entender o que é ser mulher; longo aprendizado;
Por isso admiro o homem que amo, seu maior encanto é sua inocência de macho. Nosso amor transcende a carne, faz de nós pontos de luzes e seres irracionais, nos leva a sensações e lugares que ultrapassam o entendimento dos "normais".
Sou uma mulher que sabe a dor e a delícia de ser o que é.
Se voltar mil vezes ao mundo, oxalá permita-me voltar como mulher...
Como precisamos de uma outra alma para nos agarrar, um outro corpo para nos manter aquecidos. Para descansar e confiar; para dar sua alma com fé. Eu preciso disso, eu preciso de alguém onde me derramar.
Quando você olhar em seu corpo,coração e mente e ver cicatrizes, com certeza o passado foi muito real.
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Nota: Trecho de fala de um personagem da novela Fera Ferida, de Aguinaldo Silva. Muitas vezes atribuído de forma errônea a Pablo Neruda.
...MaisA Alegria na Tristeza
O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se "Alegría de la tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.
O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.
Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música. Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.
Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.
Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não sentir nada.