Saudades de um pai que já se foi
TIMONEIRO VIAJOR
Sublime impulso divino, evoca ternura inefável
O véu do passado se rompe, à sombra do vento eclodir
Estrela guia de amor, fulgente persona notável
Doces memórias suplantam, pungente saudade a ferir
És pássaro livre a planar, garbosa aquarela em coral
És peixe no horto do éden, da cor do amanhecer
És poesia e viola matuta, de afeição passional
És harpa do chamamé, polca e rancheira a tanger
És pai, avô e marido, sogro, amigo e irmão
És vida pura do campo, um vale de águas corrente
És crepúsculo de aurora e ocaso, e noites de solidão
És sacra capela, és fé, oração em suplício presente
És zelo com o bioma, apogeu de justiça e beleza
És o colosso no ofício, o próprio toque de Midas
És a estância olvidada, esplendor que raia tristeza
Gravura de dias felizes, de juventude esquecida
Inelutável sentir sua falta, quando tudo memora você
Dispõem cicatrizes latentes que manam de fados velados
Afeto insurge aos olhos, entranha à alma e a gente não vê
Prenúncio de alegre delírio, de retro visor encantado
Caro me custa aceitar, a dor que desatina e abrasa
Nutre em mim um rancor, do romper do negro manto
Inverno transpõe primavera, e como abrolho o amor arrasa
E de ti, atroz outubro, ódio e ira se comuta em pranto
Sigo perene tormento, atos de mancebo penitentes
De entender-me ser feliz, com refutada tardança
Quisera dispor novos azos, rogo ao onipotente
Qual pólen ao pé da flor, junto a ti uma criança
O vento desnuda a flora, ramalham as folhas no ar
Liras quimeras esvaem, no desabrochar da aurora
Espuma das águas do flume, se dissipam no mar
Só o amor não consuma, essência divina de outrora
Oh! Meu Deus, perdoai! Bradei Senhor em devaneio
Profanei em sonhos de ventura, cantos de vã melodia
Ao sorver o agre do fel, e me ver amputado o esteio
Senti brumal despedida, transverter em cruel nostalgia
Mas o âmago da criação, de amor e eterno luzir
Face ao lampejo dos círios, fez fulgurar minh’alma
Levou-me o coração desvairado, fez desalento exaurir
Embucei o meu prantear, me fartei de saudade calma!
Agradeço ao Arauto de paz, o privilégio auferido
A progenitura afetiva, fruto de nobre etnia
Âncora na tempestade, secular precetor erudito
Comandante de sua estirpe, estrela de epifania
Prateado céu da idade, dourada índole jubilosa
Prematura ceifa no jardim, orfanando frutos nativos
Dissipando eflúvios de amor, ofuscando áurea luminosa
Recôndita presença ditosa, prelado de olhar cativo
Cruzastes trilhas e montes, trechos unidos cursamos
Novos nautas te escoltam, no cosmo que ora senda
Marchamos prantivos por ti, segues como estamos
Padece quem fica aqui, sofre mais quem se ausenta
Perde sua descendência, patriarca de exímia essência
Esmói coração em estilhas, pedras e espinhos a calcar
Mas logra anjo de luz, astral de aurifulgência
Pedras lajeiam o caminho, espinhos são rosas a brotar
Protetor celeste supremo, converto em prece o recital
O rogar do peito extravasa: Envolve em manto sagrado!
Consente regaço luzente, esplandece a rota do naval
Bênçãos em teu recomeço, no lar de etéreo estrelado
Destas veredas ao certo, segues zelosa oração
Que eternamente versaste, aos filhos teus com ardor
De amparo, alento e carinho, bonança e sublimação
Com excelsa fonte de fé, dossel de alvo resplendor
Em sacra vigília de guerra, iminente corona a raiar
Deus recrutou ao flagelo, soldados de sua falange
Nosso anjo da guarda, convocastes a batalhar
Em coro os céus regozijam, a família do eleito plante
Capitão meu capitão, o bom timoneiro viajor
Aguardo ansioso o dia, do reencontro fraterno
O brado da proa da nau, ”rema meu remador”
Te amo hoje e sempre, meu amigo paterno
Edson Depieri
https://www.edsondepieri.com/
LEMBRANÇAS
Nas horas em que bate uma incerteza,
em que meus pés não pisam com firmeza,
eu busco, pai, a força dos teus passos.
Como se eu fosse ainda uma criança
que tenta caminhar... treme... balança...
mas sabe que ao cair, cai em teus braços.
Nas horas em que eu erro (e eu erro tanto)
para acalmar as dores do meu pranto
eu tento recordar cada lição...
E então, como num toque de magia,
eu volto a ver o olhar que corrigia
e a ouvir a voz que dava o teu perdão.
Nas horas em que eu busco mais coragem,
ao reencontrar, na mente, a tua imagem,
com ela, os meus temores eu reparto.
E eu sinto que tu segues ao meu lado
me protegendo, como no passado,
afugentando os monstros do meu quarto...
Pai, eu cresci... E o teu menino agora
não pode te chamar sempre que chora
e nem pedir teu colo quando cai.
Porém eu sou, no mundo das lembranças,
a mais feliz de todas as crianças
por ter um grande amigo, herói e pai!
Será que daí de cima "cê" da tá me escutando
Será que quando me escuta "cê" tá se orgulhando
Queria saber de tanto, mas "cê" foi embora
E desde então a minha alma chora
Lembro de cada momento de quando disse que me amava
Mas tenho medo porque já esqueci o som da sua risada
Se você tá me escutando, vê se da pra voltar
Por favor, eu tô te implorando, tenho tanta coisa pra te contar
Já faz um tempo que você se foi e o mesmo tempo se tornou sem graça
Eu sinto tanta a sua falta
Por que é que você foi?
Eu sinto a sua falta
Eu tenho tanto medo
Por que é que tu não volta?
Queria algum dia de apresentar meu namorado
Você pagando de bravo e nois dando risada, mas não vai ser assim
Ta tão sem graça sem você aqui
Feliz é do ser que é forte
Pelo milagre de existir
Feliz é aquele com o olhar
Transmuta afeto só de incidir
Feliz é do ser que é "fraco"
Que deixa a lágrima deslizar
Pois a saudade é decorrente
Por uma estrela se tornar
Feliz é do ser que é "cego"
Se permite os olhos cerrar
Que as lembranças tornam
O "distante" perto ficar
O céu não é o começo nem o limite
Percorrer a estrada é necessário
Meu amor por ti carrego meu pai
aonde quer que eu vá, cabisbaixo...
Árvore seca...
De coração vazio...
Anos a fio...
Não tinha cor...
Não tinha amor...
O vácuo cada vez maior...
Raízes mortas...
Não mais florescia...
Sob um sol quente e árido...
Me contou sua história...
Foi semente...
Plantada com esmero...
Por um senhor...
Velada com carinho...
Cresceu...
Nas folhagens verdejantes...
Pássaros faziam seus ninhos...
Cantavam alegremente...
Retribuía com sombra...
Muitas flores ofertava...
Fronte de belas mulheres enfeitava...
Suas folhas eram remédio...
Doença ela curava...
Foi orgulho daquele senhor ...
Que um dia a plantou...
Seresteiros à sombra dela...
A todos encantou...
Conversas fiadas ouviu...
Pessoas que chegavam na cidade...
Um ou outro que já partiu...
O banquinho ao seu lado...
Foi ponto de encontro...
De amigos e de enamorados...
Quando o vento levou o senhor...
De tristeza a árvore chorou...
Me disse que se fechou no silêncio...
Que de saudades suas folhas cobriram o chão...
Não tinha mais forças para então florir...
Sua aurora tinha ido embora...
Sua madrugada chegara...
Sua hora findou...
Hoje...
Triste...
Seca...
Morta...
Ainda conta sua história...
Da saudade que ficou...
Do tempo que passou...
Sandro Paschoal Nogueira
Árvore, pata-de-vaca, branca, que meu pai plantou, em frente de minha casa.
Homenagem póstuma Scylla Dias Nogueira
— em Conservatória, Rio De Janeiro, Brazil.
PAPAI.
Até hoje trago comigo os singelos momentos que juntos compartilhamos, as tuas fotos ainda carrego na bolsa, na memória, no meu coração.
O tempo passa ligeiro e a saudade das história contadas por ti ainda permanecem em mim, sou capaz de recitar tim-tim por tim-tim. Saudade sim, saudade de ti.
SABIÁ-LARANJEIRA
Quão belas são as lembranças
Lá dos tempos de criança...
Sendo um bom homem do campo
Meu pai tinha antigos pios.
E tal como a brincar
Ficávamos a imitar
Dos pássaros, os assobios.
Qual era a nossa emoção
Quando os pássaros nos ouviam!
E, então, retribuíam
Com uma linda canção!
E ontem, ao entardecer,
Sem querer voltei no tempo...
Ouvi um doce assobio
Vindo de uma paineira.
E mal pude acreditar
Lá estava a cantarolar
Um sabiá-laranjeira.
Revivendo meu passado
Eu ouvi, maravilhado,
Seu impecável assobio.
Desta vez fiquei calado
E com os olhos marejados
Eu não dei sequer um pio.
Pereço forte,
Mas fico ouvindo seus áudios
Para não esquecer sua voz;
Pareço forte
Mas fico vendo seus vídeos,
Para não esquecer de cada detalhe do seu rosto...
Fico tentando lembrar cada número do seu CPF, pois parece que quando eu me esquecer, também me esquecerei de ti.
No início não foi tão doloroso como está sendo agora, pois me apeguei a memória de vc sempre viajar e voltar a cada 4,5, 7 dias...
Agora faz mais de um ano que não vejo se sorriso, não escuto suas piadas, e não vejo aquela pessoa cheia de sonhos e planos.
A dor da saudade é tão ruim...
Te amo hoje e eternamente, meu pai.
Quando então ele partiu,
sem tempo para despedidas,
já passavam dos dezesseis,
o compartilhar das nossas vidas.
Sem remorso,
e sem disfarce,
sem lamento,
e sem perdão,
o singelo desenlace,
de uma ausência viva em mim,
na eterna presença de quem um dia chamei de Pai.
Meu rosto não esconde as cicatrizes e a decepção.
Começo a chorar e lembro de ti.
Triste demais olho ao meu redor,
tu estás no meu coração.
Por todo meu coração,
De longe por favor me escute, estou orando por você.
Eu quero voltar ao tempo, quero te ouvir dizer, que um dia vou crescer.
Oque mais precisava
Era compartilhar das alegrias que passo
Como seria bom se você estivesse aqui
Era tudo que eu queria...
Nunca disfarcei minha admiração e minhas tristezas meu coração nunca temeu.
Esperei por você e hoje estamos distantes, um mundo que nos separam
Agora sou um homem! Você sabe!
Ah eu poderia ter dado o máximo de mim, o tempo agora machuca,
A vida é curta e é intensa, posso me arrepender, mas as feridas ainda estão abertas, mas as cicatrizes me faz aprender a viver...
Que a saudade nos ensina muito...as lembranças são alegrias e um abraço mudaria minha vida..
E de forma imersiva a solidão, encontrei-me quando partiste e esqueci quem um dia fui nos melhores dias ao teu lado.
Quando você faz duas pessoas felizes, é bem provável que uma delas seja você...
Nelson Moreira Souza (meu saudoso pai...)
" Te desejo um domingo de sol
sorrisos de filhos
olhares
te desejo encantos
tantos
que tua vida seja.
te desejo vitórias
e a mão, na tua mão, de quem te é especial
que Deus te abençoe sempre.
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