Saudades de quem Morreu
Do caroço da fruta já fui o que sou.
Da vida que levo já tive um amor verdadeiro, morreu.
Já precisei do meu eu emprestado pra mim
Desajustado que veio precisei devolver
Fizeram de mim um sujeito largado, rasgado desconectado do mundo.
Deitaram-me em cama de espinhos pontudos
Gemido por dor em um grito calado o fogo gelado queimava
A alma ardia na lata do lixo e o bicho comia e latia
Um gato de sapato bicudo matava baratas no canto da casa
Olhava e sorria com olhar de maldoso.
Cavei uma cova e me enterrei com a terra tirada da cova
Assustado acordei e voltei a dormir.
O que não te acrescenta, não faz falta. Abandona logo essa mania de cultivar um amor que já morreu faz tempo. Dói. Eu sei que dói perder a rotina, o toque, o abraço, o olhar, o calor. Mas é preciso desapegar do que não desperta mais, nem mistério, nem arrepios nem vontade, nem desejo e nem amor.
Jesus não morreu naquela cruz. Ali foi o seu corpo físico que foi moído, porque Ele vive. Quem morreu foi a condenação do pecado sobre nós. Na cruz do calvário, nasceu a Igreja de Deus, um reino eterno celebrado na Santa Ceia.
Hoje eu ponho café sem pelourinho, sem chicote só com uma colher. ouço choro de quem morreu por um pouco de café. Onde esta o senhor dos escravos a não ser no cemitério... Escravo e aquele que nem mesmo o mar deu conta de salvar, Deus dos desgraçados onde você esta? Poderia ao menos Livrar-los do "MAR"
Pobre sr. Coração morreu a pouco, mas ninguém sabe ao certo quando. Aos poucos começam chegar os conhecidos e dizer pobre sr. Coração era tão boa pessoa, sera que morreu de que? -De esclerose multipla dos sentimentos, sussurra alguém. Nossa! Isso deve doer mesmo! -Oh e como! O pobre coitado estava sobrecarregado de guardar feridas abertas, de esconder magoas, ressentimentos e de amar e não ser amado. Por fora parecia belo e forte, mas por dentro estava definhando aos poucos. Disseram que ele foi se esquecendo dos sentimentos bons, que alimentam a vida, que a muito tempo já não sorria para alguém, e se apegou a dinheiro. Deixou de ver as coisas boas da vida e foi se transformando em uma pessoa amarga e solitária, e o resultado foi batata! Não aguentou tanta dor e se desacelerou, desacelerou...até que o sr. Coração parou. Pobre sr. Coração! Quem dera soubesse desvendar as belezas da vida!
DECISÃO
De ilusão morreu a paixão, acomodou-se com a verdade
e assustada refugiou-se na saudade,
de tristeza morreu a solidão, enfeitiçada sorriu pra vida ,
encheu-se de coragem e vestiu-se de liberdade
de alegria assustou-se a realidade,
encontrada renasceu pra vida e tomada por um impulso,
deixou-se sonhar com envaidecida felicidade!!!
meus sentimentos estão num abismo
não tentei me dizer palavras de amor
meu coração morreu no momento que me amou.
Morreu enquanto ainda dava tempo
Desenristou a mão e encostou-a ligeira ao peito
como quem apalpa, apertando forte, uma banda de carne embalada à vácuo
dessas que ficam em prateleiras em balcões frigoríficos nos supermercados
Dedilhou o ar e esfregou os dedos uns nos outros para sentir se tato havia
e se fim dava àquela dormência que o acometia a mão esquerda.
Arranhou a pele umas duas ou três vezes
para ver se o sangue ainda corria pleno em suas veias
fazendo fértil o terreno de seu coração.
Fértil como aparenta estar a terra quando bem irrigada,
em uma bem cuidada plantação.
No caluniar da escuridão da morte parou, e se arrependeu de tudo!
Parou, por que não tinha como não parar.
Se seguisse em frente talvez lhe faltasse pernas para chegar.
Aos cento e quarenta e sete anos pediu, quase implorando, que o deixassem ali.
Apoiou a língua já quase sem movimento no chão da boca
e gritou de dentro pra fora bem alto:
- Todo mundo parado! Ninguém faz nada! Ninguém se mexe!
Ele parecia estar negociando com a vida e com a morte ao mesmo tempo
Ninguém interviu.
E antes que todos dessem conta, ele morreu, enquanto ainda dava tempo.
PRISIONEIRO DA VIDA.
Morreu ou libertou-se? Qual será o crime que tivera cometido, que lhe trouxe à essa prisão? Não sei...
Mas alguns, cumprem logo a pena, e então se vão. Outros demoram. E outros ainda, partem sem cumpri-lá.
Não sei de seus delitos, mas ninguém é merecedor desse cárcere cheio de promessas.Promessas que nunca se cumprem.
Sozinho
Foi um dia longo no fundo do monte,
Ela morreu com o coração partido
Ela me disse que eu estava vivendo do passado,
Bebendo num copo quebrado.
Eu estou sozinho (eu nunca quero estar sozinho),
Agora eu (agora eu) volto para encarar o frio.
Eu estou sozinho (eu nunca quero estar sozinho),
Agora eu (agora eu) volto a viajar para casa.
Eu caminhei para o outro fim do dia
Apenas para pegar aquelas últimas ondas
Eu estendi minha mão e lentamente acenei adeus
Eu volto agora meus olhos para o céu.
Eu estou sozinho (eu nunca quero estar sozinho),
Agora eu (agora eu) volto para enfrentar o frio.
Eu estou sozinho (eu nunca quero estar sozinho),
Agora eu (agora eu) volto a viajar para casa.
Ela voltará para mim (Ela voltará para mim).
Ela voltará para mim (Ela voltará para mim).
Totalmente sozinho nesta miséria.
Ela voltará para mim
Eu estendi minhas mãos para a luz e a assisti morrer
Eu sei que eu tinha um papel a fazer
Meu deus, minha hora de morrer
Nunca quis passar a vida sozinho
Eu estou sozinho (eu nunca quero estar sozinho),
Agora eu (agora eu) volto para enfrentar o frio.
Eu estou sozinho (eu nunca quero estar sozinho),
Agora eu (agora eu) volto a viajar para casa.
Para muito além do silêncio
Meu amado morreu numa noite de agosto, como um passarinho abatido por um tiro certeiro. E nem foi por nada. Apenas para deixar de viver e pronto. Para que nunca fosse meu e eu nunca fosse dele ou para que fôssemos um do outro para sempre, sem que entre nós nunca houvesse desencantos nem mágoas, banalidades e desgastes. Não houve tempo para mais que a ternura do amor primeiro, a mágica doçura de uma lembrança que ficou guardada, escondida para sempre naquele lugar mais secreto onde se guardam as relíquias. Virou claridade, congelou no tempo da memória que não é o mesmo que o tempo da vida. Não é passado, nem presente, nem futuro. Parou naquele agosto de todos os silêncios, porque se calou para sempre, parou ali e caminha num espaço sem referências, num vai e vem, talvez andando em círculos, não sei. E, se não fala, porque ouço essa voz que me chama e me consola com sorrisos inesperados, vestindo uma camisa de seda azul? Por que teima em não me deixar e fala que me aguarda, pede que me apoie na esperança, diz que não me trai e que é fiel à promessa que fizemos.
Meu amado morreu e eu não fiquei triste. Fiquei vazia. Tristeza faz sentido e um dia passa, dá lugar à saudade, vira lembranças e até pára de doer, tem como consolar porque as alegrias sempre vêm pra socorrer e a tristeza se esconde envergonhada. O vazio não, esse precisa ser preenchido, senão não há como viver. No vazio a gente se perde, se confunde num labirinto sem fim, como se fosse sensação de fome e sede. E eu comi e bebi de fontes envenenadas, só pra não me sentir assim, vazia.
Só sei que fiquei aqui e que meu amado morreu, que tive de viver sem ter sido dele, sendo dele para sempre. Que o busquei em muitos, tudo em vão. Meu único abrigo é a certeza que em algum lugar meu amado me espera , que sairá do esconderijo secreto onde guardei minha dor, o choro que ninguém viu e o fogo que não me queimou, que só fez doer, onde nada faz muito sentido, de onde sai o grito que não encontra eco nem consolo, mas me segue vida adentro e me fere como um raio de sol enviesado.
Meu amado morreu sem me dizer nada, apenas me pediu pra não morrer também.
Maria Alice Guimarães
COLCHA DE RETALHOS
Pra mim vc morreu
esta morto e enterrado
seus ossos ja estao deteriorados
virarao zinzas
poeira e estao no vento
vc nao existe mais
MERCEDES: GRACIAS A LA VIDA!
Morreu Mercedes Sosa, a voz das veias abertas da América morena.
Cantora que fez os corpos de tantos amedrontados se mobilizarem para resistência.
Nos pesados anos de chumbo, os que optaram pela força do fuzil entenderam, e com razão, que suas músicas lhes eram mais perigosas que a luta armada. Por isso, trataram de prendê-la , e deportá-la.
Erraram ao perceber que ela se tornaria ícone de “una Hermana mas hermosa que se chama liberdade”
Erraram também ao não imaginarem que quanto mais as botas pesadas lhe espezinhasse, tanto mais forte ela deixava sair de sua voz e de seu bumbo-engajado, os versos e a alma do poeta :
“Os poderosos podem matar uma, duas ou três flores, mas não podem impedir a chega da primavera”.
Assisti “ la Negra” no teatro Guaíra, quando ela voltava de seu exílio em Paris e Madri. Período de redemocratização do Brasil. Período que estavam voltando as flores. O teatro veio abaixo quando ela cantou
Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar
En el valle en la montaña
En la pampa y en el mar
Cada cual con sus trabajos
Con sus sueños cada cual
Con la esperanza delante
Con los recuerdos detrás
Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar
Morreu Mercedes Sosa nessa primavera. Sua voz está mais florida que nunca!
Algumas de suas utopias se concretizaram. Outras ainda nascerão de suas canções pois estas não podem morrer jamais.
Eu que um dia a vi esta guerreira ao vivo, continuo ouvindo-a quando empunho meu violão para cantar a canção que traduz o nome de Mercedes: “Gracias a la vida que me há dado tanto...”!