Saudades de Quem Mora longe
Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e de estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que você conheceu quando jovem.
Toda saudade é uma espécie de velhice. É por isso que os olhos dos velhos vão se enchendo de ausências.
Nota: A primeira frase pertence a Guimarães Rosa, presente na obra "Grande Sertão: Veredas". Rubem Alves credita a frase ao personagem Riobaldo.
...MaisSinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.
Revelação
Um dia vestido
De saudade viva
Faz ressuscitar
Casas mal vividas
Camas repartidas
Faz se revelar
Quando a gente tenta
De toda maneira
Dele se guardar
Sentimento ilhado
Morto, amordaçado
Volta a incomodar
Aceito viver sem entender. Assim como aceito minha falta de jeito, minha eterna saudade, e essa vontade se ser tantas e tanto e ter apenas um coração.
A alma toma cá um banho de preguiça aromatizado pela saudade e pelo desejo. - É algo crepuscular, azulado e rosado; um sonho voluptuoso durante um eclipse.
A Um Ausente
Tenho razão de sentir saudade
tenho razão de te recusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Não me venha com saudades. É o sentimento de quem se apega ao físico e ao tátil. Quando não se tem mais o tangível, o "tocável", a gente sente saudade. Ingenuidade. Eu não sinto saudade, pois me apego a histórias, ações e a fisionomias. E não tem como sentir saudade dessas coisas. Eu levo tudo isso comigo. Pra sempre. Acomodo minha cabeça em qualquer travesseiro e fecho os olhos. O interior de minhas pálpebras me serve como tela para projetar tudo isso, sempre que eu sentir falta de você.
(...) Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Casa Velha em Ruínas
Da distância que estávamos, só era possível distinguir entre o verde pedaços soltos de telhas já amarelas que pareciam flutuar sobre a vegetação que cercara a casa.
Com dificuldade tentamos nos aproximar mais alguns metros, mas as plantas daninhas que ali moravam pareciam ter vida própria e uma vontade de aprisionar com seus galhos e folhas tudo que se aproximasse delas.
Tentamos a foice. E a luta foi lenta e árdua, o verde resistindo aos golpes que cortavem sua vida, mas conseguimos.
Não havia mais porta: apenas uma placa de madeira inclinada na parede onde estava telhado o nome daquele engenho. Quase não havia parede, só tijolos que ainda sobreviviam mas que, como o resto, cedo virariam pó.
A escuridão nos impedia de continuar. Tivemos de quebar as telhas que ainda estavam penduradas no alto, para que fosse possível a entrada da luz do sol que não brilharia por mais tempo.
No chão de madeira as ervas já começavam a surgir. Não havia móveis ou qualquer objeto que indicasse que havido gente morando naquela casa no passado.
Nem animais. Só o verde, intruso e vitorioso.
Em um dos quartos encontramos livros jogados no chão, uma cadeira, uma mesa e um copo de vidro quebrado. E também um retrato torto, pendurado na parede torta, cheirando a mofo e a pó, a unica indicação do passado naquela casa.
O resto era ruínas que, por contradição, não lembravam o passado e sim a decadência atual.
Começou a escurecer e tivemos de voltar.
E o verde, silencioso, seguiu em sua marcha lenta, para cima e para os lados, até fazer o velho engenho morto submergir de vez.
O sofrimentos nos torna egoístas, pois nos absorve inteiramente. Só mais tarde, sob forma de saudade, é que o próprio sofrimentos nos ensina a sermos compassivos.
Olho pro lado e sinto uma saudade imensa, doída, desesperançada e até cínica. Saudade de alguma coisa ou de alguém, não sei.
Para mim, graças a ter olhos só para ver,
Eu vejo ausência de significação em todas as coisas;
Vejo-o e amo-me, porque ser uma coisa é não significar nada.
Ser uma coisa é não ser suscetível de interpretação.
Mas o que vai te fazer falta mesmo, o que vai doer bem fundo, é a saudade dos momentos simples: da sua mãe te chamando pra acordar, do seu pai te levando pela mão, dos desenhos animados com seu irmão, do caminho pra casa com os amigos e a diversão natural, do cheiro que você sentia naquele abraço, da hora certinha em que ele sempre aparecia pra te ver, e como ele te olhava com aquela cara de coitado pra te derreter…