Saudades de quem está longe
O SILÊNCIO DAS ÁGUAS
O silêncio sufoca a solidão
Nas invioláveis raízes mortas
Amordaça em ácidas mágoas
E é no das silêncio das águas
Que me sento encostado
Ao tronco do velho loureiro
Que está na margem do rio
Entre as fragas escorregadias
E escuto o silêncio das horas
Nas memórias já distantes
Limos transformados em lamas
Palavras que deixam saudade
Consumidas em lodos, medos
Trilhos de silêncio perpétuo
Caminhos feitos da imortalidade
Entre o nascimento e a morte
Na calmaria do silêncio das águas.
Solidão
Eu precisaria aprender a ser a minha amiga para estear a solidão
Pois sendo eu minha amiga, mesmo que só, não padeceria,
aparentemente desaprenderia a solidão.
Seria eu sempre a minha companheira de invenção
dia e noite, noite e dia, nada mais me prenderia
já não me abismaria a tempestade da saudade,
tampouco me assombraria a tormenta da solidão.
Muitas vezes choro em silêncio apenas com a solidão
As noites se tornam eternas, com pensamentos da saudade
Uma saudade que dói, uma falta inexplicável de se conter
Faço das noites dias em lembranças
Tento apagar um pouco com as lembranças de estar com você
Sei que tudo isso é temporário e vai passar
Mas enquanto não te abraço novamente
Me afogo nas lembranças de estar com você
E poder te dizer o quanto eu te amo
Imagino a todo o tempo
A hora que entrar por aquela porta e dizer voltei, e voltei para ficar
Porque aqui é o meu lugar
Saudade, saudade, saudade.
A solidão não é a ausência do outro na sua vida, é ausência da sua vida em outros.
Seja vida em outras vidas, que outras vidas estará sempre com você, e a solidão nunca estará te acompanhando.
Lágrimas da Solidão
Lágrimas da solidão, salgadas e puras,
Escorrem silenciosas pela face marcada,
A alma solitária vagueia pelas ruas,
Buscando uma luz na noite enluarada.
Um coração solitário anseia por abrigo,
Em um mundo de rostos desconhecidos,
A dor da solidão é um grito perdido,
Um eco de tristeza em sonhos adormecidos.
E de forma imersiva a solidão, encontrei-me quando partiste e esqueci quem um dia fui nos melhores dias ao teu lado.
Na minha solidão via ondas
Agora observo vales e montanhas
Conto casas, vejo festas, ouço barulhos
Vejo os carros que passam entre caminhos estreitos
Observo as estrelas no céu, minhas fiéis companheiras
Sinto a falta daquele que expulsei com os meus temores
Sinto o vazio de sua presença, a incompletude
Observo o caminho que outrora fazia
Reflito sobre o compassar do tempo
Concluo que o tempo de Deus é perfeito e os acontecimentos nunca são frutos do acaso.
Espero que, na solidão do teu novo amanhecer,
O meu nome, como um espinho, te machuque,
E que a saudade, como um fantasma, te persiga,
Até que a dor te faça lembrar do que me fez sofrer.
Eu sou confuso, confuso ao ponto de às vezes, no meio da madrugada quando a solidão me toma de forma violenta e avassaladora, eu pensar em te ter novamente, pois naqueles momentos era quando estávamos falando ao telefone.
Tenho tanto medo de perder o tanto que já perdi nesta dimensão, que a solidão, as orações suprimidas secretas e o amor pleno pela imensidão e a multidão, me fortalecem.
Sonatina
É mau que eu viva areado, e sem prumo
Posto numa solidão daquele que não crê
Que já está acostumado, ao léu, à mercê
Prosando lembranças, poesia sem rumo
Mas, lá no fundo, a esperança, presumo
Tenha a compaixão deste pobre crupiê
Do amor, sem sorte, e cheio de porque
Pois, a boa sonatina a paixão é insumo
E, se insistir com a poética nesta saga
Deixando a poesia com a emoção vaga
Não serão somente versos de soledade
Será também a alma cheia de lamento
Porque no vazio há sempre sofrimento
E a dor o verso imerso numa saudade!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29 agosto, 2023, 15’56” – Araguari, MG
GRILHÃO
Por que hei, desta solidão, o memorial
Por que hei, do silêncio, o chamamento
Se o caminho tem o seu início e o final
E o fado nunca é só descontentamento
Fosse possível ser apenas um ato fatal
Depois de tanto e tanto aborrecimento
A vida seria apenas passagem acidental
E no acaso não teríamos o sentimento...
Vária lembrança no tempo, nunca lento
De vias que nos parecia uma eternidade
E que nos foi reservado no esquecimento
Por que? Me encadeias sem piedade
No grilhão do vil ignoto e do tormento
No cárcere dum martírio da saudade?
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
25 de setembro, 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
SARAU ...
Ao canto da emoção, o sentimento deserto
ele numa solidão e ela tão cheia de agonia
o senhor amor e a senhora paixão. E vazia
a sensação, tudo assemelhava tão incerto
No ritmo da alma, o desejo estava coberto
de insatisfação. E a cadência de carícia fria
os olhos soluçando e um silêncio ali se via
na escuridão, se ouvia o medo de tão perto
Toca a orquestra da noite, a lua faz serão
balbucia gemidos nas batidas do coração
tal um surdo dando o seu último adeus
E o sarau adentrava o alvor, no compasso
o pranto, as lágrimas, num memo espaço
bailando queixas, sofrência e pesares meus ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30/03/2016, 19'33" – Araguari, MG
O amor que enlouquece e permite que se abram intercadências de luz no espírito, para que a saudade rebrilhe na escuridão da demência, é incomparavelmente mais funesto que o amor fulminante.