Saudades da Pessoa Amada
Quando passo o dia inteiro
sem ver o meu amorzinho
corre um frio de janeiro
no junho do meu carinho
Teus olhos tristes parados
coisa nenhuma a fitar
ah meu amor,meu amor
se eu fora nenhum lugar
Adivinhei o que pensas
só por saber que não era
qualquer das coisas imensas
que a minha alma de ti espera
Falaram-me em homens, em humanidade,
Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade.
Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si,
Cada um separado do outro por um espaço sem homens.
VI
Venho de longe e trago no perfil,
Em forma nevoenta e afastada,
O perfil de outro ser que desagrada
Ao meu actual recorte humano e vil.
Outrora fui talvez, não Boabdil,
Mas o seu mero último olhar, da estrada
Dado ao deixado vulto de Granada,
Recorte frio sob o unido anil...
Hoje sou a saudade imperial
Do que já na distância de mim vi...
Eu próprio sou aquilo que perdi...
E nesta estrada para Desigual
Florem em esguia glória marginal
Os girassóis do império que morri...
Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tange e range, cordas e harpas, tímbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço como sinfonia.
Todo o esforço é um crime porque todo o gesto é um sonho inerte.
As tuas mãos são rolas presas.
Os teus lábios são rolas mudas.
(que aos meus olhos vêm arrulhar)
Todos os teus gestos são aves. És andorinha no abaixares-te, condor no olhares-me, águia nos teus êxtases de orgulhosa indiferente.
E toda ranger de asas, como dos (...), a lagoa de eu te ver. Tu és toda alada, toda (...)
Chove, chove, chove...
Chove constantemente, gemedoramente (...)
Meu corpo treme-me a alma de frio... Não um frio que há no espaço, mas um frio que há em vir a chuva...
Todo o prazer é um vício, porque buscar o prazer é o que todos fazem na vida, e o único vício negro é fazer o que toda a gente faz.
Conheço-te a pouco,mas por ti já sinto um amor imenso,um amor tão grande que seria incapaz de medir...
Te amo,mesmo sabendo que só me amas com os lábios,mesmo sabendo que omites sinceridade para me agradar,mesmo sabendo que me tens como opção,mas amar-te não significa aceitar migalhas do seu amor,o quanto eu puder omitir esse amor,serei forte,quando não mais puder,não sei o que será de mim...
A nossa vida não tinha dentro. Éramos fora e outros. Desconhecíamo-
nos. como se houvéssemos aparecido às nossas almas
depois de uma viagem através de sonhos. . .
Tínhamo-nos esquecido do tempo, e o espaço imenso empequenara-
se-nos na atenção. Fora daquelas árvores próximas,
daquelas latadas afastadas, daqueles montes últimos no horizonte
haveria alguma cousa de real, de merecedor do olhar aberto
que se dá às cousas que existem?. . .
Na clepsidra da nossa imperfeição gotas regulares de sonho
marcavam horas irreais. . . Nada vale a pena, ó meu amor longínquo,
senão o saber como é suave saber que nada vale a pena. . .
E nós não nos perguntávamos para que
era aquilo que não era para nada.
Nós sabíamos ali. por uma intuição que por certo não tínhamos.
que este dolorido mundo onde seríamos dois, se existia,
era para além da linha externa onde as montanhas são hábitos
de formas, e para além dessa não havia nada. E era por causa
da contradição de saber isto que a nossa hora de ali era escura
como uma caverna em terra de supersticiosos, e o nosso senti-la
era estranho como um perfil de cidade mourisca contra um céu
de crepúsculo outonal.
SEGUNDA. - Talvez por não se sonhar bastante. . .
PRIMEIRA. - É possível. . . Não valeria então a pena fecharmo-
nos no sonho e esquecer a vida, para que a morte nos esquecesse?
. . .
SEGUNDA. - Não, minha irmã, nada vale a pena. . .
Não sei o que é isto, mas é o que sinto. . . Preciso dizer frases
confusas, um pouco longas, que custem a dizer. . . Não sentis
tudo isto como uma aranha enorme que nos tece de alma a
alma uma teia negra que nos prende?
SEGUNDA. - Não sinto nada... Sinto as minhas sensações
como uma coisa que se sente. . . Quem é que eu estou sendo?
. . . Quem é que está falando com a minha voz?. . . Ah.
escutai. ..
DOBRE
Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão
Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.
Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;
Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.
Fernando Pessoa, 1913
Há um tempo atrás eu sempre deixava as coisas pra amanhã, até que comecei
a fazer as coisas hoje. Então hoje eu colho o que plantei ontem.
Quadras
Morto hei de estar ao teu lado
sem o sentir nem saber
mesmo assim isso me basta
para ver um bem em morrer
Quando passo o dia inteiro
sem ver o meu amorzinho
corre um frio de janeiro
no junho do meu carinho
Teus olhos tristes parados
coisa nenhuma a fitar
ah meu amor,meu amor
se eu fora nenhum lugar
Adivinhei o que pensas
só por saber que não era
qualquer das coisas imensas
que a minha alma de ti espera
Vai alta a nuvem que passa
vai alto meu pensamento
que é escravo da tua alma]
como a lua o é do vento
Ambos á beira do poço
achamos que é muito fundo
deita-se a pedra e o que ouço
teu olhar que é meu mundo
todas as coisas que dizem
afinal não são verdades
mas se nos fazem felizes
isso é felicidade