Sangue
O sangue que lava é o mesmo que jorrou lá na cruz a favor da minha família; então orarei por cada um deles e não perco tempo falando mal de ninguém.
Meu sangue é quente como as correntes que enjaula os condenados a eternidade infernal
Meu coração é negro como o vazio de um buraco negro que um dia trara o nada a tudo
Mas ele é doce como o favo de mel mais doce das primaveras
orfão
e se o sangue que corre
enviesado e esdrúxulo
por entre as minhas veias
imperceptíveis e silenciosas
não for o mesmo que o teu
é porque a memória
póstuma do pai
tão eloquente e imbecil
precisa e irredutível
acendeu a suspeita
brilhante e nítida
de que a névoa
impulsiva desvelou
a verdade de termos sido
na mentira sangrenta
irmãos.
(Pedro Rodrigues de Menezes, “orfão”)
O sangue do passado corre feito um rio. Corre nos sonhos, primeiro. Depois chega galopando, como se andasse a cavalo.
Enquanto houver estado haverá guerras, está em sua essência derramar sangue para atingir seus objetivos sórdidos.
Angústia de Influência
A mulher e o toureiro
têm em comum o cheiro
de sangue no esmero da roupa
têm em comum a graça
com que transpassam
a besta com a capa e a espada
têm em comum o estro
poético do gesto antes da
morte, os olhos de martírio
o homem-fera
babuja a bainha da Valquíria
quando
o infinito
lavra no lacre
seu sinete:
a besta expira, atônita
diante da verônica
de Manolete
Imolação
Dentro dos poemas
os espelhos rosnam
cães açulados
o sangue cintila na jugular
Sou devorada pelas imagens
Esta noite meu corpo parou
a pele fria, com tom azulado
o sangue pouco bom
mas os olhos este chorou e meu travesseiro se molhou com gotas de remorso
O sol insistia com seu calor
pronto sempre desperto
entre ele e eu só há uma semelhança
ambos existimos
Tá certo que um de nós
serve para alguma coisa
o outro fica lá em cima parado no céu
Aonde estou, como cheguei nesse estado mental? até ontem estava tudo normal
Ah pronto, me recordo
mas que saco
tive uma recaída para o maldito álcool.
Não carrega nada diluído no sangue por herança de família, traz na ascendência os Silvas que admira por aí.
Somos filhos por adoção, o custo, o sangue precioso de Jesus, que fez de cada um de nós, irmãos em Cristo, e transformou o mundo inteiro em nossos próximos.
Amor e curiosidade pela complexidade dessa criação, e por esse Criador, cuja tinta foi seu sangue que destrói e salva mutuamente! De forma a recompensar cada um de acordo com o sigilo da alma! Para uns sua irá, para outros seu espírito...
Justiça incompreendida pelo homem que julga merecer seu espírito, e inquestionável pelo sábio que compreende a profundidade de um plano celestial na ação e permissão de Deus na injustiça do homem sobre o único homem que foi justo
Ó! tu que foste o primeiro, que testemunhaste a criação, que se banhou no sangue de todas às guerras, que velaste o apogeu e a queda de todas às antigas civilizações, que julga e, sentencia à vida, grande Cronos, senhor do tempo concede-me o poder de acelerar essa noite, para que a aurora venha vertiginosamente, e traga o riso franco de uma criança, a lealdade de um cão, e o amor de uma mãe, a todos.
A ceia
A mesa está pronta!
Ódio, rancor e muito sangue.
O preparo para a comemoração foi lenta.
Passou se quase um ano.
Na mesa o reflexo de uma pessoa gélida e pálida, não há mais coração.
Ela olha a mesa posta, admira com frieza , o jantar está na mesa, não há convidados nessa noite tão sombria.
Suas receitas ninguém provaria.
Na taça o mais puro fel, cultivado nas montanhas das angústias, colhido nas noites sem céu.
A sua direita uma travessa, uma sopa de lamentos, uma entrada delicada que pede acompanhamento.
Pães feito com puro ódio, com a força do horror.
O prato principal, ela não esquecerá o sabor.
Servido em travessa elegante, grande pedaço de desamor, temperado com lágrimas e até com rancor.
Está frio, e sem sabor, mas ela provou.
De sobremesa um sorvete de coração pisoteado e triturado com calda solidão.
Na sua mente ela repassa todas as receitas que usou.
Percebe que de tudo nada mais tem sabor.
Ela olha para o lado e percebe que nada mais ficou.
E nessa grande ceia ela planejou, gostaria de receber um convidado.
No meio do tempero ela veneno usou.
Mas como não tinha convidados ela mesma o provou.
Um dia houve convidado, porém ele nunca mais voltou.
O veneno usado matou todo seu amor.
Nada mais de ceia, nada de amor
Nada de felicidade, ela nunca mais superou.
E num suspiro o jantar se findou.
Renata Batista
26/12/19
A honra de um homem não se lava com sangue, se lava com as calcinhas da mulher.
Saciar
de um
pequeno
rasgo
na alma
verte
banhada
em sangue
uma letra
depois
um grito
de dor
da alma
e nasce
um verso
após
infinitos
gemidos
aflições
de espírito
uma leitura
antes de
publicar
uma mentira
no sorriso
do rosto
cansado
nasce
um
escrito
missão
cumprida
pode
agora
morrer
o arremedo
de poeta
no suspiro do leitor que consumiu seu escrito e se saciou..