Sal
Antes eu queria mudar o mundo, agora quero ganhar dinheiro para poder usar parte dele ajudando a salvar o mundo. Sem dinheiro é difícil salvar qualquer coisa que seja, quanto mais o mundo.
Sem você, minha vida não tem sabor. Você é como meu sal e açúcar. Você é meu óleo de gergelim.
O REFUGIADO A NADO
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O sal das lágrimas
misturava-se ao das águas:
só queria vida, só queria um chão.
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Mas encontrou as armas, nas mãos de um guarda.
Encontrou o exército, de todos os países do mundo,
e a serviço de todas as burocracias do Universo.
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Ele pedia um lugar, e implorava pão;
mas encontrou um muro,
para além dos muros
(não bastassem as águas
contra as quais nadava).
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O Refugiado a Nado
construiu seu escafandro
com garrafas e boias de plástico.
Conseguiu quebrar a violência das ondas...
Mas não conseguiu derreter o coração das autoridades.
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Duros, e como a um peixe, devolveram-no ao mar
– ao mar da morte, e da vida em morte –:
ao mar cinza dos apátridas
a quem não se quer.
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Devolveram-no
– ao Refugiado a Nado –,
como se nunca o tivessem recebido.
Entregaram-no àquela vasta extensão de oceano
– desoladora, fria, e muito mais implacável –
para além do Mediterrâneo,
e de todos os mares:
para aquém da Terra.
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Depois que ele se foi,
como se não tivesse chegado,
rasgaram sua presença como uma foto incômoda.
No fim, os noticiários o deglutiram ao avesso
como uma fome indigesta...
qual mera curiosidade
para sessão da tarde
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[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Crioula, nª31, 2023]
Nascemos entre o Sol e o solo, somos filhos do sal, ansiando pelo céu. Mas somente quando exploramos horizontes além do solo, criamos asas para voar.
Foge pra Lua
Eu to em tudo. Em tudo que vc olha, em tudo você que cheira ou toca
Cachorros salsichas no Instagram, no pão da paquera de manhã, no copo americano deixado no canto do armário porque não to lá pra usar, ou pra quebrar
Me esqueça, tente ao menos!
Fuja da sua casa, vai pra rua, se enfie no meio de 500 pessoas e eu vou ta la
Na sua cabeça, na musica que toca, ou na cerveja gelada que te embriaga
Tenta! Porque até no mercado na sessão de biscoito ou do amendoim, aquele que eu morro por um pacote, vc vai lembrar de mim
Sua casa, suas roupas, seu teto, ta impregnando por mim, suas cachorras ate hoje não me esqueceram
Tira a minha ultima cerveja da sua geladeira, a farinha e tudo aquilo que te faz pensar em mim
E falhará, e quando falhar, foge pra lua, e vai procura do tal espaço que vc tanto falava e ate la no meio de todo aquele infinito vc me encontrará.
O mar limpa meu corpo com seu sal, revigora a minha alma e leva de mim tudo o que me faz mal. Suas ondas acolhedoras me abraçam, levando embora as preocupações, tristezas e cansaço. Nele, encontro renovação e paz, como se toda a negatividade fosse levada pelas marés. No mar, encontro um refúgio para a minha mente e um bálsamo para o meu espírito. Ele me lembra da imensidão do mundo e da importância de me conectar com a natureza. Em sua presença, sou plenamente eu, livre para ser quem sou, deixando para trás todas as impurezas do dia a dia.
Vc jogou sal
Onde no solo do meu peito plantei saudade
De alguma forma você diminui a tristeza que meu peito constantemente invade
Como o calmo azul do céu
Como cortes de papel
Me lembra que estou vivo
Me recorda que eu existo
Me perco em recorrentes pensamentos
Talvez por ser humano ou só porque eu realmente tente
Mas eu que costumava só enxergar todo esse caos passei a enxergar você dentre esses cantos
Eu não sei como você me mudou tanto
Me mudou para uma versão melhor de mim uma versão mais verídica e fiel a quem sou tão eu que nem eu lembrava que eu poderia ser assim
Você me faz não desejar tanto o fim
Não podemos salvar todos. Às vezes, nos deparamos com o dilema interno de escolher entre tentar salvar o mundo ou salvar uma única pessoa. No entanto, optar por ser autêntico pode ser a decisão que tem o maior impacto no mundo.
AMAR O MAR
Ver as ondas
Em abraços parvos
Com aquela areia branca
Nutrida de sal
Linda paixão por se observar
O rebolar das ondas
Nos lençois do alto
Até ao final
Cumplicidade plena
Sem espaço para fofocas
Comprei a cidade plana
Que jamais se curva
Aos caprichos das ruas
Onde o vento fala em silêncio
Cada um faz das suas