Saco
NEM TANTA COISA DEPENDE
preferes o canto, o lugar oculto
a folhagem, a sombra, o quarto, este
saco de trigo: ouro de um texto
sobre a velha escrivaninha do real
lá fora o clarão do arvoredo
atalhos para a tingidura da paisagem
cá dentro menos caminho, outro
panorama: a presença tão-só
desabitada de uma pessoa, mistério sem
atributo ou função
sempre a desfeita de um coração
o cultivo intensivo das figuras
e sobram tristeza e dias ao corpo que escreve
no calabouço de uma manhã muito larga
reluzente de gotas de mel
enquanto os gatos lambem o sábado
e sentado, sapo de ouro, permites-te pôr no mundo
(mas porquê) outro poema
Além
Ler é bom!
Por isso que eu leio!
Esse é meu dom!
Mesmo estando de saco cheio!
Por isso eu viajo sem rumo!
Pelos céus e pelos mares!
Mesmo sem pensar vivo com aprumo!
Leio até em cima de árvores!
Então eu lhe aconselho!
Leia como ninguém!
Até os olhos ficarem vermelhos!
Lendo você irá além!
Eu estou coçando o saco pra quem desvaloriza meu trabalho. Afinal, quem paga minhas contas além de mim?
Sociedade eu estou de saco cheio do seu jeito tosco
Muda regra, mata, fuma, fica no esgoto, fala de Jesus e o amor no bolso
Quando vejo o tanto de gente que morre com a minha idade, penso que ainda não enchi o saco dos que merecem.
Dias tristes
Coração apertado, ando meio de saco cheio do mundo, das pessoas, dos sorrisos plastificados.
Nem a vontade de falar com amigos me surge em mente.
Fiz da solidão nestes últimos dias, minha melhor companhia.
Conversei com minhas insanidades, fiz um resumo das vitórias e derrotas e reconheço quantas falhas cometi.
Hoje duvido até da existência do amor.
Consigo compartilhar um link, uma mensagem, mas não sei mais como e que é compartilhar de verdade os sentimentos, os afetos.
Gosto de pessoas que estão distantes e quero distância de muitas pessoas que estão perto.
Todas as vezes que você se dá ao luxo de ficar de saco cheio e desiste de continuar a lutar pelo que quer, uma parte do seu futuro que você jamais vai conhecer imediatamente morre.
SÚBITO REVÉS
Súbito revés de algum sentimento oculto
entre as dobras da frustração em entono
sacode-me, eu tristonho, e no abandono
da solidão, e que na emoção faz tumulto
Mas este terror sombrio e sem indulto
que levo no peito, e a tirar meu sono
apodera-se e se declara agente e dono
do sossego, tirano e vomitando insulto
E eu sinto o árduo suspirar da saudade
preso no encolhimento da imensidade
que me joga na sofrência que me guia
Sinto nada de mim, salvo a sensação
que bate desesperada e com tensão
e que amofina a poética vazia e fria
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22/11/2020, 15’04” – Araguari, MG
É um saco né?
A vida as vezes nos dá vontade de só querer ficar onde estamos, e puf.. Você somente está cansado das constantes brigas e preocupações que surgem, e que as vezes olhamos para aquilo e não damos mais tanta importância... As vezes só precisamos olhar, respirar e esquecer toda essa bagunça que está o mundo.
Não é que a gente seja intolerante, é que, às vezes, está com o saco tão cheio de tanta indiferença que é melhor engolir a própria angústia que ficar angustiada em dobro com o tanto faz de quem não tá nem aí pra ouvir o que você tem pra dizer.
Ah estou de saco cheio de falsos religiosos, falsos moralistas, de conversa de auto-ajuda. Ah que preguiça dessas coisas.