Saber e Sabedoria
Quanta felicidade você deveria sentir ao caminhar, conversar, sentar à mesa e comer ao lado de seus filhos. Mas você não dá importância às coisas corriqueiras, infelizmente.
Eu conheço pessoas que sabiam pouco, mas fizeram muito e outras que sabiam muito e não fizeram nada.
Se antes soubesse o que hoje agora sei, faria muitas coisas diferentes. Porém, se antes fizesse muitas coisas diferentes, não saberia hoje o que agora sei.
Saiba, que nem sempre aquilo que desejamos poderemos ter. Não porque somos fracassados, e sim, porque Deus trará sempre coisas melhores.
E porque Deus me daria uma canoa se posso comandar um navio?
Um argumento não compreendido, vira pensamentos distorcidos na mente daquele que não o compreendeu...
Minha Velha Tia
Minha velha tia me contava muitas histórias. E entre uma história e outra, ela me ensinava muitas coisas. Minha tia me contou que houve um tempo em que os animais falavam. Ela me ensinou que a Terra é redonda e que se eu sair andando sempre em frente, acabo voltando ao mesmo lugar. Minha tia me ensinou que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil e que Santos Dumont inventou o avião. As histórias de minha tia eram sempre assim. As coisas mais difíceis ela explicava do jeito mais simples. Era preciso que cada coisa tivesse o seu inventor ou o seu descobridor. Se Santos Dumont não tivesse inventado o avião, até hoje estaríamos andando só a pé ou de carro.
Um dia minha tia me ensinou um acróstico: Minha Velha Tia Mandou Jogar Sal Úmido Nas Plantas. Para que eu nunca esquecesse os nomes dos nove planetas do Sistema Solar. Nunca me esqueci dessa tarefa que, é bem verdade, não cheguei a realizar; mas nunca me esqueci dos nomes dos nove planetas.
Eu sempre ouvia maravilhado as histórias de minha tia e nunca me esquecia de nada do que ela me falava. E ela dizia que quando eu crescesse iria saber muito mais do que ela. Talvez esse tenha sido o ensinamento que mais me intrigou. Eu não fazia idéia de como isso seria possível, embora soubesse que tudo o que ela me dizia era verdade. Lembro-me de quando comecei também a contar a minha tia as coisas que tinha aprendido sem ela. Minha tia sorria e ouvia atentamente tudo o que eu lhe dizia. Sei que às vezes ela achava que era tudo bobagem, mas nunca me dizia isso. Ficava feliz por eu estar aprendendo. E eu sempre esperava que ela complementasse as minhas descobertas com o que ela sabia. Minha tia é que sabia verdadeiramente das coisas; e só com o seu aval é que eu podia acreditar em tudo o que aprendia.
Vez ou outra eu a interpelava sobre algumas incoerências. Por que Colombo descobriu a América e Cabral descobriu o Brasil? Eles não descobriram, na verdade, a mesma coisa? Por que foi Colombo quem descobriu a América, e não os índios, que já estavam aqui? Minha tia sorriu e me explicou que os índios não tinham consciência de quem eram, nem de onde estavam, mas Colombo sim. Por isso os chamou de índios.
Lembro-me do dia em que contei à minha tia que a professora tinha dito que não foram nem Cabral, nem Colombo os nossos descobridores, e sim outros homens que estiveram aqui antes, mas que se nos perguntassem, era preciso dizer o que estava no livro. Minha tia abriu o mesmo sorriso carinhoso, sem dizer nenhuma palavra. Sei que ela nunca mais se lembrou dos nomes que eu havia dito a ela, mas, para dizer a verdade, eu também não me lembrei.
Hoje me arrependo de ter deixado tão cedo de visitar a minha tia. Lembro-me de que nas últimas vezes em que a visitei, eu ouvia atentamente o que ela me dizia, e sorria. Às vezes gostaria que ela ainda estivesse aqui. Mas sei que não seria mais possível. Talvez o mais duro exemplo de uma das tantas coisas que ela me ensinou: “cada coisa tem o seu tempo”. No tempo de Cabral, de Santos Dumont e da minha tia, as coisas mudavam muito pouco. Ela pôde me ensinar o que havia aprendido com a tia dela. Hoje, ela certamente se sentiria enciumada por causa da Internet. Eu não saberia como dizer a ela que o seu acróstico não vale mais. Não saberia dizer a ela que Plutão não é mais um planeta. Minha velha tia não sabia muito bem o que era um planeta. Não saberia me explicar por que isso aconteceu. Talvez ela fosse sorrir e dizer “isso é bobagem”. E, para dizer a verdade, eu também não saberia explicar isso a ela. Minha tia tinha razão em tudo o que dizia. Teve razão ao dizer que eu saberia muito mais do que ela. Mas minha tia é que entendia verdadeiramente das coisas. E hoje eu não sei onde aprender as coisas que ela sabia.
Vou parar de explicar, para as pessoas
¨Que sabem tanto..¨
e passar a usar o
¨Confia em mim, faz o que estou dizendo
¨
não sabe fazer ?
não faça ! não queira usar trabalho dos outros.
Existem aqueles que nunca serão alguém,
Pois desperdiçaram a vida;
Sempre buscando ter.
(Nepom Ridna)
E quando passares a olhar ainda mais para seu interior e utilizar o que sabe, não será mais necessário dizer que sabes de tudo.
Sempre achei curioso óleos e olhos rimarem mas não combinarem. Da mesma forma, o saber parece transitar numa linha tênue entre o sabor e o sabão, entre o amor e a paixão, entre a sabedoria e a ignorância.
A única coisa que existe é AMOR, e sua decorrência, felicidade, alegria e harmonia, tudo o mais é escolha das criaturas, do seu livre arbítrio, a escolha é de cada um, viver num mundo Maia (ilusão), ou viver no mundo Real ... conheceis a verdade e a verdade vós libertará.
Kairo Nunes 30/01/2019.