Ruído
Em meio ao carvão
Busca o diamante
No ruído, o som
No fécio, o fragrante
Agente passivo da pseudo-cidadania
Crime e castigo ativo hipocrisia
Literatura? Ingenuidade!
A náusea perdura, imudável verdade.
E a vida se esvai
Conforme o costume
Do lixo se extrai
Nada mais que chorume.
Eu secreto
Acorda do nada.
Me cala quando me diz...Quando me digo.
Estrondo; barulho; ruído.
Me ensurdece e surdo escuto essa voz... E me mudo sem fala.
Me reconta pra mim. Me sofre. Me conclui versões.
Me mato por não duvidar.
Árvore sem fruto... Só sombra produz.
Nada me enxerga. Nem olhos brilhantes.
Existe vivo por não existir em outro; por nunca, nem por acaso, terem me dito.
Ó musa do meu aposento porque te foste
Era por do sol de um dia lindo
Até se ouvia o ruído suave da brisa
roçando esses caracóis
Ó musa de tacto com sabor
E paladar de maciez
Teu olfacto sentia o cheiro do nosso amor
Guardado no cofre do pensamento
Deixaste a ferida moral sem sarar
Pingando sangue sem gotas visíveis
Que secaram com quentura do amar
Ó musa…
Não existe mais nada. Não importa mais nada. Só aquele momento, só aquela pessoa, só o ruído daquela respiração, só o gosto daquela pele...
Que será, sinfonia? O teu ruído me espanta ao pensar que no teu canto as notas dormem. Eu me descubro na tua melodia e uma clave completa meu coração ao teu. Então, quero te ouvir nos silêncios da madrugada, onde os amantes se escondem para tratar de um universo musical infinito...
Engarrafamento, correria, estresse. Em um instante, o paraíso da loucura foi interrompido, um ruído que fluía pela chaminé de gasolina se fez ao longe. Dim, dom. Dim dom. Os sinos tocam, as luzes colorida dão cor ao preto e branco da cidade que cheira ilusão. O véu foi rasgado, grande harmonia se fez. É noite de natal. O salvador nasceu!
Sentimento de paz e de alegria logo habita no nosso interior, a cidade vazia foi preenchida, a terra se enche de esplendor. O bem venceu o mal, anjos cantam em louvor.
É natal que dia lindo! Vamos adorar e exaltar ao rei dos reis que mais uma vez venceu. Existe Esperança no ar, a gente quer acreditar, que um novo céu e uma nova terra surgil, o amor, sim triunfou, pra todo o sempre amém!
Ouço o ruído do dia que se encerra.
Nada diferente.
Nenhum sinal espontâneo anuncia vida saudosa.
Aguardo sofrendo o seu sopro.
Chove tristeza nesta hora.
SAUDADE
Na melancolia da escuridão quando a noite avançava e os sons entoados eram regados de ruídos únicos, Ela mais uma vez se entregou aos pensamentos. Buscou recordar-se em que momento do caminho havia se perdido, achava ter se distanciado de sentimentos que a transportavam para um passado distante e impudor. Ela queria o poder de descrever com palavras a saudade embebida de amor.
Então cerrou os olhos, tentou imaginar como reproduzir minuciosamente com palavras a saudade. Induziu seus pensamentos a mover-se como o vento nas paisagens mais distantes de sua imaginação, relembrando momentos que pudessem expressar tamanha exatidão.
Descrever a saudades é tentar esquecer o impossível. É imaginar os desejos como um sonho que se esvai, em meio a um mar de sentimentos e palavras que nunca foram ditas. É como um abraço ambicionado, desejado que nunca aconteceu. É como o impulso repentino e avassalador do último encontro. É como estar novamente encurralada nos braços de um amor que acabou. É lembrar-se de um grito desejado e entoado no ápice do devaneio, a princípio acanhado, no meio desinibido e no fim arrependido. É a tristeza que invade a alma ao término de todo encontro. É pairar sem equilíbrio na imensidão do amar exprimindo particularidades que só coração pode perfazer, narrar. É contemplar disfarçadamente sem querer mirar, mas os olhos de quem ama estar destinado eternamente a observar. É o amor quando transcende o olhar e integra o mais lindo limiar do desejo de querer e não poder tocar. É o turbilhão de sensações que torna ébria a alma e faz todo ser pleitear ser observado eternamente por um único olhar.
Abriu os olhos, e descreveu a saudade como uma tarefa inglória, sem o charme de uma conquista constante, sem o glamour das promessas, só com o lado obscuro da despedida que antevê sempre sufocado no silêncio das palavras nunca ditas, ficam lacunas, hiatos de vontades não realizadas e de quimeras que lentamente se transformam num oceano de lágrimas que se dissipam em meio uma torrente, no vai e vem da vida, que nunca será esquecida.
Ela nunca se despediu. Por fim, sorriu ternamente e partiu...
Sou a voz tímida que sussura ao pé do teu ouvido;
O ruído inquietante de passos de mulher, na lajota do teu corredor;
No silêncio impiedoso de certas noites.
Tem muito ruído, achando que é orquestra! Tem muito barulho, pensando que é canção! Tem muito silêncio, achando que ainda presta! Tem muito vazio, pensando que é chão.
O que queres de mim essa manhã?
Me acordaste com seu ruído
És tão misteriosa suas vestes,
E teu desconhecido sorriso.
Ó senhor, o que desejas?
O que posso oferecer-te mais uma vez?
Sois tão ambicioso em cada passo,
Que não veis o perigo que há de enfrentar.
Não tires a vida de meu semelhante,
O nosso vínculo hoje vai acabar
Veja em meus olhos a pura inocência
De uma india cheia de amor pelo seu lar
Estarei aqui amanhã de manhã,
Gostaria de poder ajudar,
Mas talvez eu não possa mais abrir meus olhos
Se tudo que é nosso tu decidires tirar.
Palavras sem atitudes só causam ruído e como elas gostam disso sem causar nada pois andam lado a lado com a conversa fiada. A esses, meus pêsames. O tempo é um bom esclarecedor de ideias que nunca antes fizeram sentido.
" Seja poesia em meio a tanto ruído. Seja calmaria em meio à tempestade e se nada disso der certo faça de mim seu verso preferido."
Entre o ruído das armas e as falas de um ditador, as leis do homem não se conseguem escutar. Nós, a isto, podemos chamar de Tirania.
Mas, quando entre o ruído das leis do homem, nem o próprio é reconhecido, nós, a isto, apelidamos de Democracia.
No primeiro caso, desejamos a Democracia.
No segundo caso, desejamos a Tirania.
© 10 de março de 1984 | Luís Filipe Ribães Monteiro