Mensagens de Rubem Alves
Sempre vejo anúncios de oratória. Nunca vi anúncios de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir!
Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso!
Valorizar o seu trabalho não é criar expectativa do reconhecimento alheio.
O reconhecimento deve partir de você. Autovalorização é o segredo!
Pôr do sol é metáfora poética, e se o sentimos assim é porque sua beleza triste mora em nosso próprio corpo. Somos seres crepusculares.
São tantos pensamentos imundos que destroem nossa nação, o sofrimento, a dor, e a solidão são frutos da árvore imunda.
Regamos a árvore todo dia com pensamentos imundos, nós somos a árvore, nós somos o mal.
Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.
Deus tem de existir.
Tem beleza demais no universo,
e beleza não pode ser perdida.
E Deus, é esse Vazio sem fim,
gamela infinita,
que pelo universo vai colhendo
e ajuntando toda a beleza que há,
garantindo que nada se perderá,
dizendo que tudo o que se amou
e se perdeu haverá de voltar,
se repetirá de novo.
Deus existe para tranqüilizar a saudade.
A saudade é um buraco dolorido na alma. A presença de uma ausência. A gente sabe que alguma coisa está faltando. Um pedaço nos foi arrancado. Tudo fica ruim. A saudade fica uma aura que nos rodeia. Por onde quer que a gente vá, ela vai também. Tudo nos faz lembrar a pessoa querida. Tudo que é bonito fica triste, pois o bonito sem a pessoa amada é sempre triste. Aí, então, a gente aprende o que significa amar: esse desejo pelo reencontro que trará a alegria de volta. A saudade se parece muito com a fome. A fome também é um vazio. O corpo sabe que alguma coisa está faltando. A fome é saudade do corpo. A saudade é a fome da alma.
São as crianças, que sem falar,
nos ensinam as razões para viver.
Elas não têm saberes a transmitir.
No entanto, elas sabem o essencial da vida.
Os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos.
Ah! Como as entrelinhas são importantes! É nelas que estão escritas as coisas que só a alma pode entender.
Tudo o que vive é pulsação do sagrado.
As aves do céu, os lírios dos campos... Até o mais insignificante grilo, no seu cricri rítmico, é uma música do Grande Mistério.
É preciso esquecer os nomes de Deus que as religiões inventaram para encontrá-lo sem nome no assombro da vida.
Patativa do Assaré
Que homem extraordinário! Leia esse poeminha e você virará um poeta:
“Pra gente aqui ser poeta
Não precisa professor.
Basta vê no mês de maio
Um poema em cada gaio
Um verso em cada fulô”.
(do livro: Ostra feliz não faz pérola)
Consulte sempre um advogado. Você tem direitos.
Consulte sempre um psicanalista. Você tem avessos...
Mas nós somos como as lagartixas que perdem o rabo: logo um rabo novo cresce no lugar do velho. Assim é com a gente: logo a vida volta à normalidade e estamos prontos a amar de novo.
A saudade doída passa a ser só uma dorzinha gostosa.
Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
Nota: Trecho da introdução do livro. O pensamento muitas vezes é atribuído erroneamente a Fiódor Dostoiévski. Acredita-se que a confusão aconteça por Rubem Alves mencionar o escritor e a obra "Os irmãos Karamazov" na introdução do livro "Religião e Repressão".
...MaisRubem Alves, foi um dos únicos escritores que eu vi abordar sobre a eutanásia, e ele abriu a interrogação, do porquê, que um ser humano, não tem o direito de escolha à vida.
Ver algo que não foi preparado pelo verbo é entrar no campo das sensações não organizadas, da alucinação, da loucura.
Porque a vida é feita de uma mistura de alegrias e tristezas.
Sem as tristezas, as alegrias são máscaras vazias,
e sem as alegrias, as tristezas são abismos escuros.
É por isso que os olhos, lugar dos sorrisos,
são regados por uma fonte de lágrimas.
São as lágrimas que fazem florescer a alegria.