Rua

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Um Adeus

Se um dia me encontrares na rua, não precisa mudar de calçada.
Pense logo que somos estranhos e que entre nós nunca ouve nada.
Parra não cruzar teus olhos nos passarei por você sem rancor, sem lembranças que um dia entre nos ouve um grade amor.
Nossos sonhos nossos sonhos são tão diferentes assim o destino escreveu...
Tentarei encontrar m outros braços o amor que entre nós não viveu!

Tive vontade de sentar na calçada da rua augusta e chorar, mas preferi entrar numa livraria, comprar um caderno lindo e anotar sonhos.

Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza
Luiza

Tom Jobim

Nota: Letra da música "Luíza"

O enterro de meu pai. Lembro que atravessamos a rua e entramos na casa mortuária. Alguém dizia que meu pai tinha sido um bom homem. Me deu vontade de contar a eles o outro lado. Que ele era um homem ignorante. Cruel. Patriótico. Com fome de dinheiro. Mentiroso. Covarde. Um impostor. Minha mãe só estava há um mês debaixo do chão e ele já estava chupando os peitos e dividindo o papel higiênico com outra mulher. Depois alguém cantou. Nós desfilamos diante do caixão. Talvez eu cuspa nele, pensei.

Você segura na minha mão na hora de atravessar a rua, você me olha triste quando eu olho para o celular pela milésima vez, você sente orgulho de mim quando eu solto uma gargalhada e você vira o rosto se algum homem vem falar comigo. Você prefere não ver, mas eu vejo você o tempo todo.
Eu torço pra não fazer Sol, eu torço pra não chover, eu torço para acordar no meio do dia, eu torço para o dia acabar logo. Eu torço para ter alguma coisa que me faça torcer, que me diga que eu ainda sei torcer por algo mesmo sem torcer pela gente.

“Outro dia me peguei pensando que entre dobrar aquela esquininha da sua rua e ganhar na mega-sena acumulada, eu preferia a esquininha…”

Eu tenho alguém que me faz rir de um jeito louco, que me faz andar descabelada na rua, que me acorda domingo às sete da manhã com um sorriso lindo e que me faz esquecer de brigar. Eu tenho alguém que se importa com o que sinto, que se preocupa com o que penso e que me diz o que as outras pessoas têm medo, a verdade. Eu tenho um alguém que xinga por mim e se for preciso bate, que ama comigo e me apoia mesmo quando sabe que não vai dar certo, ela acredita que vou aprender. Eu tenho alguém que sabe seduzir e me faz rir vendo idiotices tão cotidianas, que me ensina que certos temperos não combinam, na comida e na vida, que me apresentou meu amor, um amor que eu não era capaz de sentir. Tenho alguém que sente ciúmes, mas que sabe que ela me têm também. Tenho alguém que é único pra mim, que é meu anjo, não por escolha, mas por se tornar, por vida e não vai ser qualquer coisa que vai nos separar, porque eu tenho alguém por quem vale a pena lutar, por quem vale a pena viver, por quem eu descobri que o amanhã pode ser melhor, se você estiver disposto a viver.

Sem açúcar

Todo dia ele faz diferente
Não sei se ele volta da rua
Não sei se me traz um presente
Não sei se ele fica na sua
Talvez ele chegue sentido
Quem sabe me cobre de beijos
Ou nem me desmancha o vestido
Ou nem me adivinha os desejos

Dia ímpar tem chocolate
Dia par eu vivo de brisa
Dia útil ele me bate
Dia santo ele me alisa
Longe dele eu tremo de amor
na presença dele me calo
Eu de dia sou sua flor
Eu de noite sou seu cavalo

A cerveja dele é sagrada
A vontade dele é a mais justa
A minha paixão é piada
A sua risada me assusta
Sua boca é um cadeado
E meu corpo é uma fogueira
Enquanto ele dorme pesado
Eu rolo sozinha na esteira

Bom...acho que vou pra rua...
Mas não beberei
Nem vou entregar-me aos encantos de nenhuma mulher.
Caminharei apenas, até onde meus passos forem,
mas não irão longe, eu sei. Estou triste.
Logo me entrego ao consolo de uma calçada solitária,
e me esforçarei para colocar um sorriso no lugar dos olhos rasos d’água,
na esperança de que o orvalho venha anunciar
o alvorecer de uma nova manhã...

Quando vejo aquele rapaz ajudando aquela senhora a atravessar a rua, quando vejo o jardineiro que rega as flores e nos diz “bom dia!”, quando vejo a moça a sorrir ao consolo de um rapaz desajeitado – e apaixonado! – dou graças ao meu Deus por ter colocado neste mundo tantas pessoas boas.

Minha grande altivez: prefiro ser achada na rua. Do que neste fictício palácio onde não me acharão porque – porque mando dizer que não estou, “ela acabou de sair”.

Clarice Lispector
Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Nota: Trecho da crônica "Acabou de sair".

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Para um Amor na Rua

Meu amor,
vem pra casa que ouvi dizer
que vai estourar a guerra
Nostradamus previu
Raimunda, nega Raimunda confirmou
Por favor, ponha os pés na terra
Chão firme cama da gente
ouvi dizer que vai estourar a guerra.
Você que é mundano convicto
você que erra
vai argumentar que não há perigo e o escambou
que é apenas o "bicho" internacional.
Vai confundir tudo com show
vai dizer que tem Prince, Rock n'roll
Gun's N'Roses e talvez Gal;
É mau, meu bem
tem também Sadam, Bushes e mesquinharias
Vem pra casa guardar num cofre sua ingenuidade
vem proteger da maldade sua fotografia.
Aqui fiz cuscuz farofa e feijão fraldinho
aqui pintei filosofia, comigo-ninguém-pode
espada de São Jorge, jasmim, arruda, carinho.
Tudo anti-míssil
tudo bruxaria anti-crueldade bélica
Lá fora alguns meninos
querem experimentar a potência
de seus terríveis brinquedos.
Não tenha medo
vem pra casa sem nem telefonar
aqui tem ar, poesia, fé
e tudo que a alegria da alma encerra.

Vem, meu amor
que ouvi dizer que vai estourar a guerra.

(verão de 1991)

Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.

Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Sei quem não quer minha sorte, mas não vai me ver cair que a oração da coroa é forte.

JOANINHA

Essa é a história de Joana dos Santos
Mais conhecida como Joaninha
Linda menina com tantos encantos
Seu sonho maior era entrar pra marinha

Tinha dois irmãos, mãe e padrasto
Numa casa simples da periferia
Rosto de boneca e corpo casto
Os vizinhos diziam que artista seria

Aos 11 anos tudo mudou
Joaninha tornou-se mocinha
Chegou na escola com o braço roxo
Sorriso amarelo e olhar de desgosto

Cada dia uma história contava
Bati na maçaneta, caí da escada
Escorreguei no banheiro
Cortei-me com o espelho

Dona Rosa, sua professora
Percebeu haver algo errado
Ela confessou à protetora
Que era violada por seu padrasto

Chorou amargamente
Disse que pra casa não voltaria
Dona Rosa tinha algo em mente
No dia seguinte o denunciaria

Ao acordar ouviu a manchete
Menina jogada em terreno baldio
Não entrou pra Marinha nem tornou-se artista
A pobre criança virou estatística.

Futebol se joga no estádio? Futebol se joga na praia, futebol se joga na rua, futebol se joga na alma.

Ficar só refletindo é coisa pra acadêmico, que, vai debater a reflexão dele com outro; que vai ganhar ou perder a razão nas palavras. É a prática que vai confirmar a teoria. Muitas vezes a prática é o que produz a teoria, muitos acadêmicos acham que não; acham que a teoria que é mais importante que a prática. Em sua maioria, tudo começa na prática!

Não creio que se possam considerar homens todos esses bípedes que caminham pelas ruas, simplesmente porque andam eretos ou levem nove meses para vir à luz. Sabes muito bem que muitos deles não passam de peixes ou de ovelhas, vermes ou sanguessugas, formigas ou vespas.
(Demian)

⁠Meu sonho!
Ver a cultura do Grafite
Tomando os muros da cidade
Olhar para os muros e ver arte.

Sujo sem nada
Apenas um papelão
E a rua vazia.