Rua
Cachorro de rua.
Fui assassinado sem poder me defender, até tentei, mas eram mais fortes do que eu. Acharam que eu estava incomodando no território deles.
Não sabem que nada neste mundo é nosso? Que tudo é emprestado? Esqueceram deste fato e me assassinaram.
A RUA
Não era itinerário nem outra nova direção
Suspiros! Calor no cerrado. Lembrança
Aqui havia uma rua, casa em demolição
O tempo era maior. A nostalgia uma lança
Tantos são os mortos na minha indagação
O tempo roendo a recordação, em dança!
E nas casas, impregnada de tenra poesia
A saudade, e não mais havia vizinhança
Tudo em ruína, mais nada dizia...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, dezembro
Cerrado mineiro
MINHA RUA (soneto)
Das tuas sombras dos oitis a saudade ficou
És a rua do príncipe dos poetas, laranjeiras
Coelho Neto, onde sonhei de mil maneiras
E alegre por ti minha felicidade caminhou
Das tuas pedras portuguesas, o belo, cabeiras
Ao chegar de minas só fascinação me criou
Se triste em ti andei também o jubilo aportou
Me viu ser, indo vindo emoções verdadeiras
Em tuas calçadas a minha poesia derramou
Criando quimeras, quimeras tais derradeiras
Da Ipiranga a Pinheiro Machado o tempo passou
Em ti a amizade os vizinhos em nada mudou
Carrego tua lembrança, lembranças inteiras
Rua da minha vida, estória comigo onde estou...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Fevereiro, 16 de 2017
Cerrado goiano
ao dia 16 de fevereiro 1976,
quando chegamos ao Rio de Janeiro...
Situação de Rua
Um brilho no olhar reluz gemido
Que alguém conduz fazendo um pedido,
Tentando suprir os que a vida consomem
Na grande carência existente de um homem.
Andando e catando opróprio alimento,
Respirando odores do próprio excremento,
Criam escudos na pele ao relento
Depois das feridas saradas ao vento.
Nos horrores da sobrevivência humana,
São doutores da experiência insana
Insurgida aos preceitos da vida.
Na grande cidade, mais querida...
Na idade racial da humanidade...
Ser um mendigo éidentidade!
Situação de Rua II
Uma águia trocando o bico a garrido
Além da alta montanha o reclama,
Esperando sozinha, sem alarido,
Aquém seu instinto oproclama.
Alguém pedindo a outrem um ouvido
Sussurra sobre o ombro um problema,
Tentando sozinho, sem ter um abrigo,
Por um diálogo, para esquecer um dilema.
Como aliviar as dores na solicitude
Dos passos da vida, se em atitude,
Uma criança quer mais que um abraço???
Na escuridão de um rua sozinho,
Um andarilho, menino sem ninho,
Como a solidão de um grande pássaro!
OUTRA RUA
Onde estou? Está rua me é lembrança
E das calçadas o olhar eu desconheço
Tudo outro modo em outra mudança
Senti-la, saudoso, no igualar esmoreço
Uma casa aqui houve, não me esqueço
Outra lá, acolá, recordação sem herança
Está tudo mudado do tempo de criança
Passa, é passado, estou velho, confesso
Estória de vizinhança aqui vi florescente
Pique, bola: - a meninada no entardecer
Hoje decadente, e conheço pouca gente
Engano? essa não era, pouco posso crer
Ela que estranho! Se é ela ainda presente
Nos rascunhos, e na poesia do meu viver...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Agosto de 2020, 31 - Cerrado goiano
A VELHA RUA
Passou o tempo, ligeiro, distante
e a lembrança ainda uma guria
guardou aonde brinquei bastante
aquela velha rua... terna poesia!
Então, encanecido e inquietante
saudoso quis revê-la. Tão vazia
suas calçadas. Estreito instante
velhos momentos, velha alegria
Achei, por ali, tudo tão desigual
outrora garrida, agora com danos
avelhada, cansada, quase casual
Casas idosas, calçamento mordaz
iguais a mim, se foram os anos
e a velha rua, por fim, contumaz!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
08 de maio, 2022, 16’34” – Araguari, MG
XXI - Porto Alegre
Rua Alegria, do Bairro da Tristeza, em Porto Alegre,
Estradas de vidros, muros de vielas, casas de panela.
Solitários em companhias, companhias sem velas,
Malucos sem sequelas, pensamentos com parcelas.
Se a localização procurar, talvez encontre o lugar,
Talvez nem vidros ou muros tenham lá,
Muito menos casas de panela ou solitários em companhia,
Escrevo isso para não perder o meme que um dia via.
Skate! À arte de cair faz parte
Skate! É Força de vontade
Expressões livres do corpo
Quase sem limites
Sem regras
E sem padrão
No mundo do skatista
Cair, se torna diversão
E se levantar é obrigação.
Realidade Indigesta
O quê que eu vou comer?
O brado retumbante cravado nas ondas sonoras do universo, meu estômago que fez gemer.
Como pode a clava forte a mão de um povo, linchar o meu direito de comer?
O quê que eu vou comer?
Se só me restaram essas lágrimas amargas pra beber.
Pegue o chão de cabeceira,
As estrelas de cobertor,
O frio por companheira,
A prece por um clamor.
Não reconheço esse bicho,
Atrás do dulçor da maçã revira lixo,
Pra não desmamar o menino e vê-lo crescer
Come, mesmo sem ter o que comer.
O quê que eu vou comer?
Uma reza
Me desperta na matina um banho de água fria,
Quem perdura na miséria não merece nem um bom dia.
O vazio e o soluço, queima mais do que azia,
Cadê aquele povo meu Deus?
Que tanto dizem ser dos seus e só falam de empatia?
O quê que eu vou comer?
Os rosto antes desnudo se veste na sujeira,
Os poucos dentes que restam só servem pra roer o osso,
Quem caiu no fundo do poço,
Não sorri pra qualquer bobeira.
O quê que eu vou comer?
Se até quem come, não consegue comer bem.
Quem muito tem, nada divide.
Quem pouco tem, partilha e transgride.
Quem nada tem, que a sorte duvide.
É difícil acreditar na invisibilidade que se constrói,
Parece que o ser em mim aos olhos deles se corrói,
Não sou visto, não sou quisto, nem parece que sou gente.
Mas se tem bom coração,
Joga um pão meu irmão,
Minha fome é urgente.
O quê que eu vou comer?
Um foguete no espaço
A adefagia em mim me iguala a um animal,
A miopia deles não os fazem especiais.
Quem sabe eu fique rico, ganhe um tostão a mais
Pra queimar em combustível das corridas espaciais.
O quê que eu vou comer?
Um pão ou uma poesia?
A Deus eu somente peço,
Que todo irmão tenha acesso ao pão,
Não enfrente um dia o quinhão
De não ser visto e virar verso.
Aleksandro Silva
Rua deserta
Andas sobre resquícios da solidão
Uiva som vasto da alma deserta
Destruição do sentir, inspiração do andar.
✍️
Aquele ser
queria escrever,
e a sua
inspiração se insinua,
e ele em frenesi naquela rua, sem nada para anotações...
*
Quem de longe o observa,
em frases silenciosas diz:
"No mínimo este maluco deve ser poeta."
***
Entre os espertos sabe se que nasce um novo otário querendo levar mais vantagens de forma fácil por cima dos outros a cada minuto.
Na noite escura,
A alma é nua,
Escuridão pela rua,
Iluminada pela lua.
A noite é escura,
E a certeza é sua,
A cidade em sonho flutua,
A palavra doce é crua.
A noite é pura,
O silencio intua,
A penumbra perpetua.
Nas artes plasticas e visuais no Brasil pintores amadores de fins de semana se julgam grandes mestres e os mestres de verdade se julgam mero artífices e eternos aprendizes.
A verdadeira arte contemporânea no mundo inteiro nas diversas plataformas não dão mais velhas respostas mas sugerem novas perguntas, convidam ao pensamento livre e propiciam as revolucionarias reflexões, é a arte fora dos clássicos museus, nas ruas em dialogo permanente com toda a sociedade.
As Causas
Na rua eu estava, quando veio o Carneiro,
aos cinco anos foi isto quando, aconteceu.
O animal com impacto me acometeu...
E me deitou pelo da rua, duro terreiro.
Em outra vez ia eu na mula, com o meu irmão
quando uma velha dama atira pela janela,
um cavaco de lenha em fogo, à mula, na rua dela,
caímos os dois do animal de reboleta, pelo chão .
Outra vez ia eu com outro irmão, num carro de mão,
que ele conduzia, mas não teve poder na sua mão,
e eu do carro cai, ficando com muitas dores no chão.
Hoje tenho uma doença de Parkinson, em mim.
E pergunto a mim próprio, se não surgiu assim,
a minha doença que me veio mais tarde a mim?!
RUAS TÊM CORAÇÃO DE PEDRA
Não espere nada do seu amor por elas
A não ser cimento, asfalto
E uma família nova
Na casa de um velho conhecido
Quando menos se espera
Uma RUA muda de SENTIDO.
Sou da rua
-Sou da rua...
Meu compromisso é com a lua...
Com o sol não quero caso!
Deus do céu compreenda,
esta tórrida tormenta!
-Ser a noite inspiração...
-Ser egrégora o balcão...
-Ser o vinho religião...
Sou da rua, não tem jeito!
Enterro culpa ao peito...
Só sei florescer do chão!
☆Haredita Angel