Romântico
O amor está na falta, na saudade absurda que sentimos do sorriso torto, da textura de sua camiseta favorita, do cheiro do pescoço e do cabelo bagunçado do outro. É esquecer-se propositalmente de todas essas coisas só para se apaixonar novamente por elas no reencontro. O amor é reencontro. É uma constante mistura dolorida e gostosa de uma saudade daquilo que, muitas vezes, ainda nem aconteceu.
Ela é perfeita... É sim, eu acho!
É tudo aquilo que sempre quis e desejei. Seu senso de humor me faz pular carneirinhos em plena luz do dia.
Fico eufórico, completamente bobo.
Na boa, ela é demais.
Tá, sei que exagerei um pouco. É que essa “tonta” me deixa assim. Perco a noção de raciocínio e fico só elogiando-a.
Que coisa!
Estou em suas mãos, em seus pés, braços... Sei lá, sou dela... Hoje, amanhã, ou na porcaria do dia e do ano que for.
Aliás, ela foi esperta. Lógico que irá murmurar e salientar que não. Mas cai entre nós...
“Cê ganhou um presentão hein garota”?
Tirou-me de minha mãe e nem se quer agradeceu... Sem embrulho, sem laço e muito bem educado. Um tremendo Chefe de Cozinha. Especialista em saladas sem tempero, arroz insonso e café fraco.
É... prontinho... Não precisou nem gastar dinheiro com pilha ou bateria.
Tá vai, sei que tenho defeitos. E não adianta ficar escondida com esse sorriso bobo e com esse olhar sacana.
Quer que eu diga né?
Então tá, vai zombando...
Vou contar pra vocês...
Ela vive reclamando. Deve achar que sou um robô ou um “Power Ranger”... Salienta que vim com defeito de fábrica. Sem aquela porcaria de “botão de liga e desliga”.
Veja só, viram como sofro né?
E além de tudo tenho que ficar aturando essa “bobona”, zombando, “tirando uma palhinha da minha cara de besta”.
Ah, querem realmente saber o que penso sobre ela?
Então tá, senta aí, vou lhe dizer.
Nossa casa vive bagunçada, de “pernas pro ar”. Eu tento arrumar ( Tá... é ela quem arruma tudo, haha), porém cinco minutinhos pós-brilho, coberta dobrada e roupas arrumadas, tudo vira uma “zona” que “cê” nem imagina. Uma tremenda loucura. Divertimo-nos feitos loucos ( os vizinhos não aguentam mais, pobre sindico, passa por apuros conosco. Um beijo seu João! ).
Ah, ela vive derretendo chocolate. Até hoje não entendi direito o motivo. Sempre pensei que fosse por causa da TPM, mas não é não. Deve estar querendo virar uma bola charmosa e elegante só pra desfilar nesse tal evento de moda famoso; São Paulo Fashion Week, deve ser isso, sei lá. Porém, sou eu sempre quem “pago o pato”. Fico com o rosto todo “melecado” com esse açúcar nojento e ainda tenho que esfregar a panela que ela faz questão de deixar suja na pia e com o chocolate derretido seco... Ó CÉUS, eu mereço!
Se eu amo ela?
Eu até queria responder, mas não vou não.
Preciso ir...
Preparei algo especial.
Não conta pra ninguém tá?
É hoje...
Vou pedir essa doida em casamento.
(Eí, garçom... prepara a mesa, as velas e o pianista. “Tô chegando, sô!”).
Psiu, depois te conto tudo... Não saia daí...
Ter você por perto é como cobrir-se com o cobertor em um dia extremamente frio, é como sentir o sol depois de uma semana de chuva intensa, é como receber um abraço profundo em momentos de perdas, é como ouvir a música mais romântica tocada pelo rádio na madrugada, aquelas antigas e apaixonantes, do estilo que sempre se tornam internacionais traduzidas por vozes marcantes. Ter você por perto é o suficiente, é aquele instante maravilhoso que dispensa qualquer outro fator para poder proporcionar ao meu ser a mais veemente felicidade.
Fui a inúmeros lugares, conheci várias pessoas, provei incontáveis sabores, senti as mais intensas fragrâncias, mas nada foi como estar ao seu lado, conhecer-te, saborear-te, exalar o teu perfume. Nada, absolutamente nada, me fizera ter a junção aguçada de todos os sentidos simultaneamente como fora o momento em que senti o teu corpo unir-se ao meu.
Me beije sem motivos, me abrace sem pretextos, me envolva sem que haja frio, me acaricie sem que eu esteja carente, pergunte-me sobre o meu estado mesmo que eu aparente estar bem. Não quero apenas juras de amor e promessas de sentimentos grandiosos, quero atitude e gestos naturais vindos de ti sem que eu venha solicitá-los para que estes sejam executados.
Bom mesmo dever ser o sol que te aquece frequentemente. Tão satisfatório dever ser o vento que te toca a todo o momento. Quão bom deve ser a terra revestida de grama que tu deitas à sombra quando o sol te esquenta com mais intensidade, terra que te conforta e aconchega toda a extensão do seu corpo. Exageradamente completa, abundantemente alegre e totalmente realizada é a chuva que quando aparece, depois de muito tempo de predomínio do calor do sol, te banha, percorre cada milímetro do seu corpo. A chuva que ao encontrar com a terra te traz um aroma exorbitante. A chuva que apenas com seu toque e existência é capaz de te fazer extremamente feliz.
O amor dar-se pela compreensão de ambas as partes. Quando o ato de compreender se põe ausente não há amor que perdure ou que seja suficientemente verdadeiro. A compreensão no amor não vem apenas da aceitação das condições de personalidade daquele que se ama, ela se dá também no total esquecimento das coisas acontecidas no pretérito. Os fatos do passado não possuem nenhuma relevância. O encantamento surge no presente, é nele que se brota a paixão, o desejo, o amor. Aquele que ama alguém ignora julgamentos de terceiros, preocupa-se com o futuro, importa-se com a edificação de um sentimento, com a construção de uma vida através dos dias que estarão por vir.
Quem não gosta de poema é desprovido de conhecimento, de união de sentimentos. Afinal, poema é uma forma afetuosa. É uma emoção pessoal através da linguagem. É a liberação do subconsciente. É revelar-se o nobre, o lírico nas ideias. Poema é expressar o que sentimos no mais profundo do nosso coração.
Acho que errei na dose - Por Hermes C. Fernandes
Quando te encontrei, parecia hipnose
Não via outra coisa senão você
Acho mesmo que errei na dose
Pois meu dia recusou-se a anoitecer
O amor contagiou-me feito virose
Que remédio poderia me curar?
Não percebe o quanto errei a dose?
Estou doente de tanto te amar
Você é a causa da minha neurose
Seu colo o divã onde o ser se desnuda
Seja linho, seja lã, seja viscose
Nada impede que minh’alma se iluda
O que espero é que haja simbiose
Não te peço mais que eu possa oferecer
Mas paixão não se pega por osmose
Tem que se abrir, se entregar, tem que querer
Quando velhos e já cheios de artrose
Vou te amar sem pressa, por lazer
Deste amor quero morrer de overdose
De mãos dadas assistir ao entardecer
O que seria da bomba sem o chimarrão?
Dos arreios sem o pingo e o peão?
O que seria de mim sem tu,
linda flor do meu rincão!