Rio
Saudades da roça
De andar beira rio, beira lama.
Da garota na porteira que me chama.
Dos feixes de cana, garapa coar.
De no rio pular
Sem saber nadar.
De contemplar ás estrelas a noite
De sentar frente á fogueira
De ouvir casos e casos contar.
Eu acho que sou a pessoa mais complicada do mundo: choro sem motivos, rio sem razão, escrevo e poucos realmente sabem o verdadeiro significado das minhas palavras!
A fonte será, pois, mais graciosa do que o rio, o desejo mais encantador do que o gozo, e o que se espera mais atraente do que aquilo que se possui?
A vida é uma cachoeira
Nós somos um no rio
e outro depois da queda
Nadando através do vazio,
Nós escutamos a palavra,
Nós nos perdemos
mas encontramos tudo?
Eu choro, eu rio, eu amo
Eu apaixono, eu gosto, eu odeio
Sabe por que?
Porque eu posso, porque sou humano
Se alguém vier com grosserias e insultos, seja paciente e acalme-o. Até o rio mais impetuoso é engolido pela calmaria do mar.
Muitas pessoas acham que o tempo é como um rio, que anda calmamente e sempre em uma direção. Mas eu vi na face do tempo e posso lhes garantir, eles estão errados. Tempo é um oceano em um tempestade. Você faz eu acreditar em quem eu sou e porque digo isso.
Terra boa.
Vem do mar, da agricultura
vem do rio e do terreiro
vem do mel da rapadura
vem das terras do roceiro
do engenho a cana pura
e o nordeste tem fartura
que abastece o mundo inteiro.
O rio muda seu percurso conforme sua necessidade. Assim, deveríamos aprender com ele para cada fase da nossa vida.
O tempo é linear, sem curvas ou relevos, além de não voltar, ele corre como um rio, tem escolhas que só podem ser feitas uma vez...
Se não fosse o engarrafamento, o lixo, a violência e a desigualdade, o Rio seria a melhor cidade do mundo.
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente, fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
Enlacemos as mãos...
Nota: Trecho de poema de Fernando Pessoa (heterônimo Ricardo Reis).
Gosto de tomates. Resolvi plantar uns tomateiros lá em Pocinhas do Rio Verde (MG). Amadureceu o primeiro tomate, todo vermelho, com exceção de um pontinho preto na casca. Nem liguei para o ponto preto. Colhi o tomate e me preparei para comê-lo. Dei a primeira dentada e cuspi. O que havia dentro dele era um verme branco, grande, enrugado, gordo por haver comido toda a polpa do tomate.
Foi essa a imagem que me veio à memória quando me preparava para falar sobre o mais terrível de todos os demônios. Ninguém suspeita. Ele vai comendo por dentro as coisas boas que crescem no nosso quintal. Eu sempre digo: demônios fazem ninhos no corpo. Cada um tem sua preferência. Neste caso a que me refiro, o demônio faz seu ninho nos olhos. E ele não gosta de coisas ruins e feias. Como o verme, ele prefere os tomates. Gosta de coisas bonitas. E o resultado é que, quando uma coisa bonita que cresce no nosso quintal (note bem: o demônio só faz sua obra no nosso quintal) é tocada pelo olho onde mora o verme ela imediatamente murcha, apodrece, cai. E aí vêm as moscas.
O demônio que se aloja nos olhos se chama inveja. Inveja vem do latim invidere que, segundo o dicionário Webster, quer dizer "olhar pelos cantos dos olhos". Inveja não olha de frente. Quem olha de frente tem prazer no que vê. Quem olha de lado olha com olho mau.
Olho mau, olho gordo: muita gente tem medo desse olhar. Não precisa. O verme da inveja nunca faz nada com os tomates da horta alheia. Ele só como os tomates da horta da gente.
Explico. Fernando Pessoa diz que a inveja "dá movimento aos olhos". Olho de inveja não olha numa direção só. Lembre-se do que eu disse: que o olho onde se aninha o verme da inveja só gosta de ver coisas bonitas. Então é assim que acontece. Eu tenho um belo tomate crescendo no meu quintal. É certo que não há vermes dentro dele. Vai dar uma deliciosa salada. Mas antes, vou mostrar o meu tomate para meu vizinho... Um pouco de exibicionismo faz bem para o ego. Mas aí eu olho para o quintal do vizinho. Ele também cultiva tomates. Vejo o tomate que cresce no tomateiro dele. Lindo! Vermelhíssimo, mais bonito que o meu. É nesta hora que o verme entra no meu olho. Meus olhos se movimentam. Voltam-se para o meu tomate que era minha alegria e orgulho. Já não é mais. Vejo-o agora mirrado, pequeno murcho. E ele corresponde: apodrece repentinamente e cai... Perdi o prazer da minha salada.
Esse movimento dos olhos é a maldição da comparação. Quando eu comparo o meu 'bom-bom-mesmo-mais-que-suficiente-para-me-fazer-feliz" com o "bom" maior do outro, fico infeliz. E o que antes me dava felicidade passa a me dar infelicidade. Com a comparação tem início a infelicidade humana. Isso acontece com tudo. Comparo minha casa, meu carro, minhas roupas, meu corpo, minha inteligência e até mesmo meu filho.
Frequentemente os filhos são vítimas no jogo de inveja dos seus pais. Aquele meu filho, que é a minha alegria, delícia de criança, com um jeitinho só dele e que me encanta... Mas o filho do vizinho tira notas mais altas que o meu, é campeão de natação, é mais forte, mais alto e não é gordinho... Então, meu olho se movimenta e o verme se aninha. E se dá o mesmo com meu tomate: apodrece.
* Rubem Alves é escritor, educador e psicanalista. Texto extraído da Revista Psique, maio de 2009
Na nuven, no rio, numa poça ou até na lama... Numa xícara sou uma xícara, na garrafa tomo sua forma. .. Sólido, líquido, gasoso, no mais profundo do oceano; na alegria ou na tristeza de uma lágrima. .. Quero ser como a água. ..
O tempo é um rio que nos leva adiante para encontros com a realidade. Ela, por sua vez, exigirá que tomemos decisões. Não podemos parar nosso curso nem evitar tais encontros. Mas podemos, sim, abordá-los da melhor maneira possível.