Retratos
A única expressão permitida em grandes retratos é a expressão de caráter e qualidade moral, não de algo temporário, fugaz, acidental.
Lembranças
Teus retratos — figuras esmaecidas;
mostram pouco, muito pouco do que foste.
Tuas cartas — palavras em desgaste,
dizem menos, muito menos
do que outrora me diziam
teus silêncios afagantes...
Só o espelho da minha memória
conserva nítida, imutável
a projeção de tua formosura,
só nos folhos dos meus sentidos
pairam vívidas
em relevo
as frases que teu carinho
soube nelas imprimir.
Sou a urna funerária de tua beleza
que a saudade
embalsamou.
Quando chegar o meu instante derradeiro
só então, mais do que eu,
tu morrerás
em mim.
Nem todos meu poemas são retratos de meus sentimentos,
uso da empatia poética, que é se permitir sentir o que o outro guarda em sua alma e revela em poucas atitudes. É emprestar sentimentos e descrevê-los.
e mesmo quando a minha imagem
não passar de um vulto embaçado
num porta-retratos empoeirado
mesmo quando o meu nome
estiver escrito apenas numa lápide
abandonada e encardida
mesmo quando nenhuma alma viva
lembrar da minha passagem por aqui
mesmo quando nada mais existir de mim
vultos, imagens, nomes ou lembranças
mesmo assim
meu coração continuará pertencendo a ti
Gosto dos retratos, mas o que me fixa os olhos é a tinta espalhada à tela de forma a tentar explicar as inquietações geniosas da cabeça de cada artista.
Nenhum de nós passeia impune
pelos retratos: fazem-nos doer
os recessos da memória.
Deles saltam, por vezes, sustos,
primeiras noites, secreta
loucura, lábios que foram.
Interditam-nos sempre.
Trepam-nos pelo torpor
mais desprevenido, subsistem.
A sua perenidade é volátil
e cheia de venenosos ardis.
Um sopro no acetato.
Distintos, os seus contornos
não são nunca
os que supomos.
Ligando os fatos, os sinais e os retratos, ligando os pontos soltos, os abraços mornos, tão frágeis que se soltam com passar do tempo, tão longe que nem de perto se enxerga, se sente, se toca.
Imagens Paradas -
Há retratos feridos nas pedras
lisas (duras) do chão,
povoados de silêncio, por detrás
dos olhos fechados,
em ruas quase desertas!
Imagens paradas à superficie dos
lagos que pairam nos meus sentidos.
Uma imagem se destaca, teu rosto,
liquida imagem que perfura o meu
destino como a folha d'um punhal.
Pedras se entrechocam nas
profundezas da minha Alma porque
só no extremo da noite se comunga
na fome dos gestos ...
Há retratos feridos nas pedras lisas (duras)
do chão, e eu, permaneço em silêncio!
►Bem Cedinho
Sonhei acordado nesta viagem
Não vi paisagens, muito menos retratos
Tudo o que ouvi foi o soprar do vento,
Da mata ao relento, minha blusa aos espasmos.
.
Nesta viagem, que bem cedinho me acordou
Me leva para longe, aonde não há amor
Não sei ao certo onde vou,
Só sei que não ouvi pássaros, não vi paz
Vi apenas lágrimas e dor.
.
Passei dos montes, dos rios e orvalhos
Vi casas aos montes, vi alguns pobres operários
Lá no pico vi mato, eu vi cercas e arames farpados
Deparei-me com alguns, três ou quatro vigários
Confesso, até, que fiquei um pouco assustado.
.
Bem ao fim da serra vi uma nascente
Que em pedras bate, se descansa levemente
E ao fim da tarde, ao voltar
Nada vi ou ouvi no caminho
Apenas deitei-me na grama, voltando a sonhar.
Na minha imaginação
eu possuo tudo que sempre quis
As cenas que produzo em minha mente
são retratos claros dos meus profundos fúteis desejos
Às vezes fico um pouco triste
por que tudo aquilo que imagino
não se tornará realidade
e isso é angustiante
Também pode ser perigoso
ficar completamente absorta
e acabar não aceitando a sua realidade
Foi com pregos de desgosto
que a saudade, do seu jeito,
pôs retratos do teu rosto
nas paredes do meu peito...