Retratos
e mesmo quando a minha imagem
não passar de um vulto embaçado
num porta-retratos empoeirado
mesmo quando o meu nome
estiver escrito apenas numa lápide
abandonada e encardida
mesmo quando nenhuma alma viva
lembrar da minha passagem por aqui
mesmo quando nada mais existir de mim
vultos, imagens, nomes ou lembranças
mesmo assim
meu coração continuará pertencendo a ti
A única expressão permitida em grandes retratos é a expressão de caráter e qualidade moral, não de algo temporário, fugaz, acidental.
As luzes acesas tingem o final de domingo com cores envelhecidas.
Como naqueles retratos que nos trazem saudades...
Imagens Paradas -
Há retratos feridos nas pedras
lisas (duras) do chão,
povoados de silêncio, por detrás
dos olhos fechados,
em ruas quase desertas!
Imagens paradas à superficie dos
lagos que pairam nos meus sentidos.
Uma imagem se destaca, teu rosto,
liquida imagem que perfura o meu
destino como a folha d'um punhal.
Pedras se entrechocam nas
profundezas da minha Alma porque
só no extremo da noite se comunga
na fome dos gestos ...
Há retratos feridos nas pedras lisas (duras)
do chão, e eu, permaneço em silêncio!
Foi com pregos de desgosto
que a saudade, do seu jeito,
pôs retratos do teu rosto
nas paredes do meu peito...
VOLTAR ATRÁS
Sinais de que foi feliz:
no porta-retratos
a imagem dela...
No sofá da sala:
numa almofadinha...
“Fui eu que fiz.”
Os dizeres dela.
Na gaveta do criado mudo:
O livro nunca começado...
Por ela presenteado...
Na página da dedicatória...
O amor dela pra sempre marcado.
No solar da porta:
Um tapetinho surrado
Mil vezes lavado
Por ela... pra trás deixado...
Tantos sinais...
Que de desfazer o tempo é incapaz.
E o que ele mais queria?
Era poder voltar, voltar no tempo... voltar bem, bem lá pra trás.
Vou me fingir de morto
para você me notar,
pois o ausente dos retratos
é aquele que é mais lembrado.
Congelei pessoas e lugares em retratos, depois os pendurei em paredes, mas o tempo os descongelou, lentamente e impiedosamente.
O que canto em abundância
são retratos de saudade...
És a flor da minha infância
E um cartão de identidade.
I
Nas passagens do rossio
o colorido do ervado,
velhas eiras, algum gado
e cem anos de pousio...
Na riqueza do teu brio
eu vivi sem importância,
sem o vício da ganância,
no carinho do teu leito,
é sincero e por direito
o que canto em abundância.
Ii
Para sempre a minha escola,
o meu teste de memória,
professora dona Vitória
e mil sonhos na sacola...
Sua imagem me consola
num padrão de eternidade,
vi em ti a liberdade,
muita força e muito medo,
e as promessas dum brinquedo
São retratos de saudade.
III
Aquela imensa multidão,
as promessas arrojadas,
com pessoas encantadas
oferecendo a exaustão...
Boa-Nova e devoção
demonstrados na constância,
o teu povo em abundância
vê passar mais um petiz,
mas que hoje ainda diz:
És a flor da minha infância.
IV
És a página mais amena
no meu livro desfolhado,
o sentimento emocionado,
a nostalgia que me acena...
Neste abraço para Terena
há carinho e amizade,
e aquela fraternidade
que eu guardo de criança...
foste tu a minha esperança
e um cartão de identidade.
sobre ela o nome.
A fotografia embaçou e sem porta-retratos em mãos descansou, de chinelo de dedos juntou os pés à raiz das constelações. O luar delineava o seu rosto dando brilho aos seus olhos. São pétalas os seus dedos juntando cada parte daquela noite triste, e por uma ocasião singela; bela escuridão. Juntou uma pequena parte infinita naquela imagem, e, sonhou.
Ricardo Vitti
parei de contar versos,
agora só conto emoções
afim de pendurar seus retratos sórdidos
na minha memória seletiva
O QUE SOBROU DO FIM.
Agenda com anotações, palavras soltas no ar, retratos pendurados na parede, uma corda atrás da porta onde eu pendurava minha rede.
Chegamos ao fim, porque aquilo que realmente você precisava cuidar, você não cuidou, aos poucos foi morrendo até que acabou.
O que restou do fim, se tornou retalhos, dois corações dilacerados que não se encaixam mais com ninguém, voltar não é o certo, e por outro lado não conseguimos mais gostar de ninguém.
O que restou do fim, foram as fotos na parede, elas agora retratam o sorriso de outrora, que não se compara ao sorriso de agora, sobrou para mim, escrever sobre o que restou do fim.