Reflexo
A JANGADA
A jangada solitária
partiu para o alto mar,
enfrentou a tempestade
e se pôs a afundar.
Ficou só uma imagem,
um reflexo, miragem
do que não vai mais voltar.
ECLIPSE INSÓLITO
O solo suntuoso do Astro Rei,
Ilustre absolutista.
Num fenômeno, jamais, antes visto,
Sobrepôs-se à lua.
Com seus raios pungentes, sempre em sol maior,
Travessando, entrevando as insolúveis trevas,
Movido por um narcísico intento:
Dissolver e devassar
As ilusões-solo onde persiste
Insólito, insular, insolente,
Bruno, como a bruma:
Branco, sombrio, silente.
Cabendo parcamente em seu vazio,
Que a humanidade quer colonizar,
E acima de tudo,
Pelo mais implacável dos algozes:
O mais argucioso e perigoso:
O que mais conhece seus pontos fracos.
Sim, o sol, por não tê-lo entre seus súditos,
Tirou de toda a humanidade, o sono
E o entregou ao pior dos inimigos:
Seu próprio Reflexo
Quando uma ave bica uma fruta verde, ela amadurece antes do tempo. Assim acontece quando uma criança é exposta a uma situação traumática. Ao crescer, por fora vemos alguém bem sucedido, mas por dentro ainda é criança, uma criança magoada. Daí a Carranca.
A indiferença não é sinônimo
de culpabilidade,
ela é apenas reflexos
da ausência da importância
que sentimos por algo
ou por alguém.
A cada dia que passa é uma realidade a mostrar uma evidência que muitos ignoram, a de que o dia e a noite são apenas meros instrumentos que o tempo sinaliza para mostrar o óbvio, que as ilusões do cotidiano não são o caminho para a felicidade.
Mais nas reflexões da vida jamais se analisa o tempo que passa na velocidade da luz, e sim a razão pautada nos acontecimentos diários. Aliás, este é um pretexto sempre usado por quem gosta de enganar a si mesmo.
Quando se sente calor intenso durante o dia, reclama se do sol mas, durante a noite admira se a lua cheia que nada mais é que o reflexo da luz do sol.
Em céu de diamantes durante a noite há um encantamento com as estrelas que ficam distantes anos-luz da Terra.
Durante o dia uma estrela bem próxima ilumina a vida daqueles que vivem a sonhar com as estrelas distantes.
Fontana do Trevi
Caem as moedas como migalhas de brilho,
partem das mãos com o desejo de se tornarem sonhos,
e o fundo as acolhe como silêncios,
esperando que o tempo lhes devolva voz.
A fonte, imensa em sua mudez,
de costas, recebe pedidos que não ousam gritar.
Em Trevi, o desejo pactua entre águas,
como se um murmúrio pudesse concretizar o devaneio.
Cada moeda que afunda carrega um preço,
um desejo que custa a esperança.
É um pacto entre a moeda e o homem: ele joga, e a fonte o dissolve em segredo,
restituindo-lhe um pouco de vazio,
como se o vazio fosse tudo que temos.
O que desejamos, na verdade, não é sermos atendidos — mas sim que o mistério siga impenetrável,
e, no reflexo da fonte, o que buscamos ver
é apenas o eco de nós mesmos,
profundo e mudo.
Vida interior eu tenho bastante para viver até no deserto. Quem escreve poesia não padece de solidão e nem de falta de distração.
Você percebe que está evoluindo quando param de fingir elogios e começam a bombardear com críticas.
Ela só sussurra eu te amo enquanto desliza as mãos para abrir os botões da minha calça,
Ela só me fala "você é incrível" enquanto estamos suados, deitados em uma cama, e em um lugar onde ninguém pode ouvi-lá.
É ai que você tem que entender a diferença entre querer e precisar, eu posso querer muito ela, mas não preciso dela.
Se der o valor que merece (falo olhando pros meus olhos no reflexo do espelho), você merece mais, e te digo, bem mais.
Jonathan Marzo