Reflexão sobre a Morte
Decisão da Morte -
De suspirar a cada dia já cansado
deitando no meu leito a solidão
eis que junto a mim pegando a mão
senti um toque longo e velado!
Era a Senhora dona Morte
mensageira de todas as nortadas
espalhando pela noite a cor do nada
trazia um tal silêncio no seu porte!
Tinha olhos frios e desgarrados
trajava negro luto sobre o corpo
vi-lhe traços pálidos d'um morto
passos lentos, tristes e pesados!
Falou da solidão onde me afundo
falou da dor que visto no meu corpo
disse que sou vivo mas estou morto
por isso não me leva deste mundo!
Habemus Nada -
Alguem diz habemus Papam
na varanda de São Pedro
mas da morte Ele não escapa
e o que habemus é segredo!
E o que habemus nós de querer
deste mundo de mortais
além da fama de não ser
tão diferente dos iguais?
E o que habemus nós de ter
não sabendo o que é amar
numa ânsia de correr
sem saber quando parar?
E o que habemus nós de ser
procurando ser alguém
num caminho que é esquecer
que esta vida vai e vem?
E o que habemus nós de dar
a quem nos dá o que não queremos?
O segredo é não esperar
por aquilo que não temos!
E o que habemus de sentir
perante a crueldade
de uma gente que a fingir
é tão má na realidade?
E por que habemus de chorar
quando houver separações
se não temos quem amar
no bater dos corações?
E o que habemus ante a morte
quando a vida é despojada?!
Nada fica, triste-sorte,
e afinal habemus nada ...
De que adianta um eu te amo depois da morte, se antes ele pode valer um mundo, depois, valerá não mais do que uma lágrima?
Acredito que todos nós temos uma consciência inconsciente sobre a nossa morte, uma inteligência acima do neocórtex que nos informa quando ela está chegando e nos impele a comportamentos que só serão compreendidos depois.
Quando se está próximo da morte a percepção do que realmente importa viver se intensifica de maneira profunda. Tudo que não faz sentido para uma vida plena perde espaço, por mais que tenha sido valorizado no passado.
... E tudo isso parece tão PEQUENO diante do “Não!” que a Senhora Morte sussurra, quando minha Alma grita “Sim!”.
É ela que há de me ensinar a diferença entre a acolhida e a despedida, entre aquilo que “possuo” e aquilo que sou - desse aprendizado, depende a felicidade ou a dor que hão de conduzir minha mão, enquanto escrevo minha história.
A Senhora Morte tudo pode sobre aquilo que “possuo”, e nada pode sobre aquilo que sou. Talvez porque só na minha imaginação, as coisas e pessoas são minhas; talvez porque minha real natureza pertença à dimensão da Vida que sussurra “Não!”, quando a Senhora Morte grita “Sim!”
grita grita, doce criança
cega de vida, indo pra morte
teu sorriso acende a minha esperança
meus olhos te seguem por onde tu corre.
corre e corre, cai se machuca
adiante tem história, sobre essa luta
chora chora, linda menina
faz chover no céu da matina
que leva embora teus sonhos perfeitos
que faz esquecer os teus bons momentos
te deixa sozinha, sem dó e sem pena.
anda anda, bela mulher
que já não ignora qualquer pensamento
que vira e revira os teus sentimentos.
procura por paz, conexão e leveza
tu quer esquecer, apagar sua tristeza
E eu te vejo crescendo, sonhando, sorrindo.
Superando os espinhos, do passado que já passou
flor que caiu, flor que lutou
renasceu radiante, com força brilhante.
Sentimentos sobrevivem ao fim do relacionamento
Relacionamentos não sobrevivem à morte do sentimento
Se existir um mínimo de sentimento, minúsculo que seja
Uma relação acabada pode reviver das próprias cinzas
A Vida Chega Tarde -
A vida chega tarde
quando breve vem a morte
e sem fazer alarde
vem num golpe de má-sorte!
Entre a vida e a morte
quem escolhe nunca pensa
estar vivo é ter sorte
porque aos mortos só lamenta!
Quando vi no teu regaço
amortalhada, sem esperança,
tanta mágoa, só cansaço,
morreu em mim a confiança!
E em silêncio fui embora
dei à morte a minha vida
e num segundo se fez hora
de partir sem despedida!
O maior troféu do herói é ser lembrado depois da morte, é isso que eles chamam de viver pela eternidade.
Glória, Poder e Guerra -
É breve a glória deste mundo
chega com o Tempo, vai-se com a morte,
chega d'um silêncio tão profundo
como os braços negros da má-sorte!
E o porquê de tão vis separações?!
Credos e raças que se odeiam,
homens que se aglutinam, destroem corações!
Porque não se tocam nem se amam?
E é tão breve o tempo - passageiro ...
A vida passa p'ra quem vai chegando ...
Tanta guerra no mundo inteiro
e tanta gente que apenas vai passando!
Se tu fosses a morte, eu me despreenderia da vida para ir encontrar-te
E por trás de todos os seus mistérios, poder amar-te
'Se tu fosses um porto e eu um barquinho, sobre esse mar de ondas eu podia remar, na aventura de amar e procurar me aportar
Longe de ti, me sinto como um peixe fora do mar
Sem ti, sou como uma noite sem estrelas, nem luar.
Sou como um poeta sem nenhuma alma para encantar.