Reflexão sobre a Morte
Por que ter medo da morte?
Enquanto somos, a morte não existe, e quando ela passa a existir,
nós deixamos de ser.
Morte em vida
Não chore pelos mortos que deixam saudades e admiradores.
Pois eles viveram a vida e agora descansam ao lado do Senhor.
O pior é estar vivo e esquecer-se de viver a vida.
Lamente por estes!
Filhos da Morte
"Tristes pés negros,
descalços e sujos,
pisam solitários
caminhos sem fim.
Chão machucado
pela dor das feridas abertas
em tanta pedra pisada.
Não há chegada
sem destino.
Ninguém espera seu regresso.
Nem horizonte...
Crianças tristes,
negras e descalças
em caminhos mortos
da vida.
Olhos cegos,
à procura de um oceano perdido,
Mar que divide fome,
sede e sonhos...
Órfãs de piedade.
Sem bagagem.
Mãos vazias.
Agasalhados nos trapos
do abandono...
Esperanças guardadas
no bolso rasgado
vão caindo pelo chão...
Um rastro de tristeza
que fica.
Nada deixam para trás!
Tristes pés descalços
de crianças negras,
sujas, famintas,
chorosas e mortas,
Vagando nos caminhos da vida..."
Nossa vida desceu para esta terra e levou embora a morte, matou a morte
com a abundância da vida: e Ele reclamou chamando-nos para voltar para Ele,
para aquele local secreto do qual Ele viera direto para nós - primeiro no útero da Virgem, no qual a humanidade uniu-se a Ele, nossa carne mortal, nem sempre destinada a ser mortal.
Ele não tardou, mas apressou-se, chamando-nos por sua morte e sua vida, por sua vinda e sua ascensão, para voltarmos a Ele.
E Ele retirou-se de nossa visão para que pudéssemos voltar ao nosso próprio coração e encontrá-lo.
Como Ele se afastou, ainda está próximo. Ele não está conosco e nunca nos deixou.
A morte é agressiva em todas as suas esferas. Seja no acidente que ninguém esperava, seja no ventre da mãe, seja no paciente terminal, seja no cidadão com morte cerebral declarada, seja no inconsequente que vivia brincando com a vida, seja no idoso de quase 100 anos. Não interessa. Ela assola, nos deixa devastados, impotentes, perplexos, nos faz tremer e temer. Afinal quando vai chegar nosso dia? Ou pior: quando vai chegar o dia daqueles que amamos?
Estar em um velório é algo curioso. O morto não é só aquele que está dentro do caixão, imóvel. Morrem também várias pessoas ao redor. Sim, elas respiram, andam, falam, seus corações ainda batem. Mas uma parte... aliás, me arrisco a dizer: uma GRANDE PARTE é enterrada junto com o ente querido. Os sonhos, as risadas, os planos, os abraços, a voz, o aconchego, a alegria. Vai tudo embora. Sorte a nossa que nos restam as lembranças boas, ainda que em certos momentos evitamos até lembrar. Machuca demais.
Sei que nossa esperança é renovada em Jesus. Sei que estamos aqui de passagem, sei que existe um céu e uma vida eterna de alegrias para aqueles que acreditam na salvação em Cristo. Mas sou de carne, osso e emoções. Enquanto estiver aqui na Terra vou chorar, vou sentir, vou sofrer com a morte.
Sempre que alguém que eu amo morre, uma parte de mim vai junto. E ainda que o tempo passe e novos amores surjam, esse pedaço nunca volta, nunca regenera. Ele se vai pra sempre.
E por enquanto é assim que eu vou vivendo.
Com meus buracos, com meus remendos, com minhas falhas.
Eu acho engraçado ver tanta gente jovem pelo mundo pensando em morte, morte, morte, vermes podres. Parece que quando se é jovem os vermes têm muita importância nas discussões sobre a morte, não é? Tem até música sobre isso.
"Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta até que valeria a pena.
Mas a experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver. Ato público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia. Quero Viver."
A morte é inevitável. Quando um homem fez o que considera seu dever para com seu povo e seu país, pode descansar em paz.
A morte é apenas uma travessia do mundo, tal como os amigos, que atravessam o mar, e permanecem vivos uns nos outros. Porque sentem necessidades de estar presentes, para amar e viver o que é onipresente. Nesse espelho divino, vêem-se face a face; e sua conversa é livre e pura. Este é o consolo dos amigos e embora se diga que morrem, sua amizade e convívio estão, no melhor sentido, sempre presentes, porque são imortais.
Se eu morrer, não chore por mim. Chore, talvez, pelo que eu fiz ou não fiz em vida. A morte é menos importante que a vida, pois apenas é mais um passo. Se puder, não chore pelo humano que fui.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores tem cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
As flores de plástico não morrem
O que mais fará falta na morte de alguém importante é o olhar dessa pessoa sobre nós, pois precisamos do outro como referência de quem somos. Se a pessoa que eu amo não existe mais, como posso ser quem sou?
Dizem que a guerra é a melhor amiga da morte, mas devo oferecer-lhe um ponto de vista diferente a esse respeito. Para mim, a guerra é como aquele novo chefe que espera o impossível. Olha por cima do ombro da gente e repete sem parar a mesma coisa: "apronte logo isso, apronte logo isso." E aí a gente aumenta o trabalho. Faz o que tem que ser feito. Mas o chefe não agradece. Pede mais.