Reflexão de Paulo Coelho
Você não vai conseguir jamais manter seu coração calado. E mesmo que finja não escutar o que ele diz, ele estará dentro do seu peito, repetindo sempre o que pensa sobre a vida e o mundo.
Assim, quando os textos sagrados são escritos, ali está a alma do homem que serviu de instrumento para divulgá-los ao mundo.
E não apenas os textos sagrados, mas cada coisa que colocamos no papel. Porque a mão que traça as linhas reflete a alma de quem as escreve.
Eu me lembro do meu instante mágico, daquele momento em que um “sim” ou um “não” pode mudar toda a nossa existência. Parece ter acontecido há tanto tempo, e – no entanto – faz apenas uma semana que reencontrei meu amado e o perdi.
Tenho o maior respeito por quem gosta de Carnaval, mas, para mim, é como Copa do Mundo: só participo uma vez a cada 4 anos.
A pouca experiência de vida me ensinou que ninguem é dono de nada, tudo é ilusão - e isso vai dos bens materiais aos bens espirituais. Quem já perdeu alguma coisa que tinha como garantia (algo que já me aconteceu tantas vezes) termina por aprender que nada lhe pertence.
E se nada me pertence, tampouco preciso gastar meu tempo cuidando das coisas que não são minhas; melhor viver como hoje fosse o primeiro (ou o último) dia da minha vida.
Quando alguém encontrar seu caminho, não pode ter medo. Precisa ter coragem suficiente para dar passos errados. As decepções, as derrotas, o desânimo são ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada.
Quem tenta ter uma flor, só vai ver sua beleza murchando.
Mas quem só admira ela na natureza sempre está com ela.
Trecho de uma anônima "Carta ao Coração":
Meu coração, eu jamais te condenarei, te criticarei ou terei vergonha de tuas palavras.
Sei que és uma criança querida de Deus, e Ele te guarda no meio de uma luz radiante e amorosa.
Confio em ti, meu coração.
Estou do teu lado, sempre pedirei bênçãos em minhas orações, sempre pedirei para que tu encontres a ajuda e o apoio de que necessites.
Confio no teu amor meu coração.
Confio que irás dividir este amor com quem merece e necessita.
Que meu caminho seja o teu caminho, e que caminhemos juntos em direção ao Espírito Santo. E te peço: Confia em mim. Saiba que te amo, e que procuro dar-te á liberdade necessária para que continues batendo com alegria em meu peito. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para que jamais te sintas incomodado com minha presença à tua volta.
(Livro MAKTUB)
A paixão faz a pessoa parar de comer, dormis trabalhar, estar em paz. Muita gente
fica assustada porque, quando aparece, derruba todas as coisas velhas que encontra.
Ninguém quer desorganizar seu mundo. Por isso, muita gente consegue controlar esta
ameaça, e são capazes de manter de pé uma casa ou uma estrutura que já está podre. São os
engenheiros das coisas superadas.
Outras pessoas pensam exatamente o contrário: entregam- se sem pensar, esperando
encontrar na paixão as soluções para todos os seus problemas. Colocam na outra pessoa
toda a responsabilidade por sua felicidade, e toda culpa por sua possível infelicidade. Estão
sempre eufóricas porque algo de maravilhoso aconteceu, ou deprimidas porque algo que
não esperavam terminou destruindo tudo.
Afastar-se da paixão, ou entregar-se cegamente a ela - qual destas duas atitudes é a
menos destruidora?
Não sei.
(Onze Minutos)
- Em vez de comprar- lhe algo que você gostaria de ter, estou lhe dando algo que é
meu, realmente meu. Um presente. Um sinal de respeito pela pessoa diante de mim,
pedindo que ela compreenda o quanto é importante estar ao seu lado. Agora ela tem
consigo uma pequena parte de mim mesma, que entreguei de livre e espontânea vontade.
Ralf levantou-se, foi até a estante e voltou com um objeto.
Estendeu-o para Maria:
- Este é um vagão de um trem elétrico que eu tinha quando era menino. Não tinha
autorização para brincar com ele sozinho, porque meu pai dizia que era caro, importado dos
Estados Unidos. Então, só me restava esperar que ele tivesse vontade de montar o trem no
meio da sala, mas geralmente ele passava os domingos escutando ópera. Por isso, o trem
sobreviveu à minha infância, mas não me deu nenhuma alegria. Lá em cima tenho guardado
todos os trilhos, a locomotiva, as casas, até mesmo 0 manual; porque eu tinha um trem que
não era meu, com o qual eu não brincava.
"Oxalá tivesse sido destruído como todos os outros brinquedos que ganhei e de que
nem me lembro, porque esta paixão de destruir faz parte da maneira como a criança
descobre o mundo. Mas este trem intacto me lembra sempre uma parte da minha infância
que eu não vivi, porque era preciosa demais, ou trabalhosa demais para o meu pai. Ou
talvez porque, cada vez que montava o trem, tivesse medo de demonstrar seu amor por
mim."
É justamente a possibilidade de realizar um sonho que torna a vida interessante.
Eu me lembro do meu instante mágico, daquele momento em que um "sim" ou um "não" pode mudar toda a nossa existência.
Talvez porque não somos nós que escrevemos os melhores momentos da nossa vida. (Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei)
Devemos nos vestir como manda o figurino, fazer amor com ou sem vontade, matar em nome de fronteiras, desejar que o tempo passe rápido e a aposentadoria chegue logo, eleger políticos, reclamar do custo de vida, mudar de penteado, maldizer os que são diferentes, ir a um culto religioso aos domingos, ou sábados, ou sextas, dependendo da religião; e ali pedir perdão por nossos pecados, encher-nos de orgulho porque conhecemos a verdade, e desprezar a outra tribo, que adora um deus falso.
O homem nunca pode parar de sonhar. O sonho é o alimento da alma, como a comida é o alimento do corpo.
Muitas vezes, em nossa existência, vemos nossos sonhos desfeitos e nossos desejos frustrados, mas é preciso continuar sonhando, senão nossa alma morre e Ágape não penetra nela. Muito sangue já rolou no campo diante dos seus olhos, e aí foram travadas algumas das batalhas mais cruéis da Reconquista. Quem estava com a razão, ou com a verdade, não tem importância: o importante é saber que ambos os lados estavam combatendo o Bom Combate.
“O Bom Combate é aquele que é travado porque o nosso coração pede. Nas épocas heróicas, no tempo dos cavaleiros andantes, isto era fácil, havia muita terra para conquistar e muita coisa para fazer.
Hoje em dia, porém, o mundo mudou muito, e o Bom Combate foi transportado dos campos de batalha para dentro de nós mesmos.
“O Bom Combate é aquele que é travado em nome de nossos sonhos. Quando eles
explodem em nós com todo o seu vigor – na juventude – nós temos muita coragem, mas ainda não aprendemos a lutar. Depois de muito esforço, terminamos aprendendo a lutar, e então já não temos a mesma coragem para combater. Por causa disto, nos voltamos contra nós e combatemos a nós mesmos, e passamos a ser nosso pior inimigo. Dizemos que nossos sonhos eram infantis, difíceis de realizar, ou fruto de nosso desconhecimento das realidades da vida. Matamos nossos sonhos porque temos medo de combater o Bom
Combate.
– O primeiro sintoma de que estamos matando nossos sonhos é a falta de tempo – continuou Petrus. – As pessoas mais ocupadas que conheci na minha vida sempre tinham tempo para tudo. As que nada faziam estavam sempre cansadas, não davam conta do pouco trabalho que precisavam realizar, e se queixavam constantemente que o dia era curto demais. Na verdade, elas tinham medo de combater o Bom Combate.
“O segundo sintoma da morte de nossos sonhos são nossas certezas. Porque não queremos
olhar a vida como uma grande aventura a ser vivida, passamos a nos julgar sábios, justos e corretos no pouco que pedimos da existência. Olhamos para além das muralhas do nosso dia-dia e ouvimos o ruído de lanças que se quebram, o cheiro de suor e de pólvora, as grandes quedas e os olhares sedentos de conquista dos guerreiros. Mas nunca percebemos a alegria, a imensa Alegria que está no coração de quem está lutando, porque para estes não importa nem a vitória nem a derrota, importa apenas combater o Bom Combate.
Finalmente, o terceiro sintoma da morte de nossos sonhos é a Paz. A vida passa a ser uma
tarde de Domingo, sem nos pedir grandes coisas, e sem exigir mais do que queremos dar. Achamos então que estamos maduros, deixamos de lado as fantasias da infância, e conseguimos nossa realização pessoal e profissional. Ficamos surpresos quando alguém de nossa idade diz que quer ainda isto ou aquilo da vida. Mas na verdade, no íntimo de nosso coração, sabemos que o que aconteceu foi que renunciamos à luta por nossos sonhos, a combater o Bom Combate.
– Quando renunciamos aos nossos sonhos e encontramos a paz – disse ele depois de um tempo – temos um pequeno período de tranqüilidade. Mas os sonhos mortos começam a apodrecer dentro de nós, e infestar todo o ambiente em que vivemos. Começamos a nos tornar cruéis com aqueles que nos cercam, e finalmente passamos a dirigir esta crueldade contra nós mesmos. Surgem as doenças e as psicoses. O que queríamos evitar no combate – a decepção e a derrota – passa a ser o único legado de nossa covardia. E um belo dia, os sonhos mortos e apodrecidos tornam o ar difícil de respirar e passamos a desejar a morte, a morte que nos livrasse de nossas certezas, de nossas ocupações, e daquela terrível paz das tardes de domingo.
(Diários de um Mago)
O Sentido da Vida
Nós sempre estamos ocupados em procurar respostas que consideramos importantes para compreender o sentido da real da vida. É muito mais importante viver plenamente, sem preocupações, e deixar que o próprio tempo se encarregue de revelar os maiores segredos de nossa existência. Se estamos ocupados de mais em encontrar um sentido, não deixamos a natureza atuar, e nos tornamos incapazes de ler os sinais mais evidentes de Deus. Certo dia, li um cartaz que dizia o seguinte: "Justamente quando consegui encontrar todas as respostas, mudaram todas as perguntas".
Obrigado Senhor por ocultar essas coisas dos sabios e entendidos e revela-las aos pequeninos
- Paulo Coelho Maktub