Racismo
Em contextos de desigualdade, a aplicação de tratamento uniforme pode resultar em injustiça.
Os opositores das políticas de cotas argumentam que tais medidas contradizem os princípios constitucionais, os quais preconizam a igualdade perante a lei. Contudo, essa perspectiva tende a confundir igualdade formal com igualdade material.
Torna-se, portanto, necessário adotar políticas compensatórias e reparatórias voltadas para a mitigação das disparidades sociais.
O IBGE, nosso órgão oficial, agrupa pretos e pardos sob a categorização de negros.
Devido à batalha travada pelos movimentos negros no Brasil, é uma conquista empregar o termo "negro".
Entretanto, em outros contextos, essas discussões não são tão harmoniosas; muitos ativistas rejeitam a designação "negro" por considerá-la uma invenção colonial associada ao horrendo processo de escravidão.
No cenário brasileiro, é de suma importância política utilizar o termo "negro", dado o contexto histórico de escravidão que marcou profundamente nossa sociedade.
Reconhecer e afirmar essa identidade é uma forma de enfrentar as injustiças do passado e promover a igualdade racial no presente. Dessa forma, reafirmamos nosso compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
"A construção de uma sociedade melhor requer o fim dos conflitos, da discriminação, das desigualdades e do racismo. Isso envolve promover a inclusão, respeitar as diferenças e garantir oportunidades equitativas para todos, criando um ambiente de paz, justiça social e harmonia."
É frequente que personalidades negras sejam convidadas apenas para discutir questões relacionadas ao racismo, mesmo quando possuem expertise em outras áreas.
Embora seja fundamental abordar o tema racial, é igualmente importante destacar a diversidade de assuntos que podem ser debatidos, como economia, ciência e política internacional.
Isso permite uma representação mais ampla e enriquecedora das contribuições dessas personalidades em diversos campos do conhecimento e da sociedade.
Acredito de que para alcançar uma sociedade melhor, é fundamental eliminar quatro problemas interligados: conflitos, discriminações, desigualdades e racismo.
Isso significa promover a inclusão de todos os grupos sociais, respeitar as diferenças individuais e garantir que todos tenham acesso justo a oportunidades.
Ao criar um ambiente assim, podemos construir uma sociedade mais pacífica, justa e harmoniosa, onde cada indivíduo possa prosperar plenamente, independentemente de sua origem étnica, gênero, religião ou condição socioeconômica."
A percepção da capacidade intelectual associada à raça provoca uma reflexão profunda sobre os preconceitos enraizados na sociedade.
Surge uma inclinação inata para presumir a falta de competência intelectual dos negros de antemão, enquanto os brancos não são sujeitos a essa mesma preconcepção.
Essa disparidade na interpretação amplifica ainda mais as barreiras para o reconhecimento justo de talentos e habilidades.
Esta dicotomia destaca o estigma duradouro enfrentado por indivíduos de diversas origens raciais, onde o julgamento prévio é moldado por estereótipos profundos.
Dessa forma, a contínua avaliação da autenticidade e competência de pessoas, fundamentada exclusivamente em preconceitos raciais, perpetua a injustiça e a desigualdade.
Apenas a diversidade na aparência não basta; é fundamental que as maiorias minorizadas também alcancem posições de impacto e influência.
Ter uma variedade de rostos na tela da televisão pode sugerir "representação", mas é apenas quando essas mesmas pessoas têm voz ativa na tomada de decisões que verdadeiramente promovemos a "verdadeira representatividade", assegurando a inclusão de múltiplas perspectivas.
Portanto, é fundamental que indivíduos diversos assumam cargos de poder e liderança, onde poderão influenciar e moldar políticas que afetam suas comunidades, impulsionando, assim, uma sociedade mais justa e inclusiva.
A categorização das pessoas em "negritude" e "branquitude", decorrente de uma estrutura social fundamentada na cor da pele, impede que os indivíduos negros sejam percebidos de maneira universal, sendo sempre vistos em contraste com o "outro".
O preconceito é uma prática que pessoas medíocres utilizam para se sobressaírem e se sentirem superiores de alguma forma, tendo em vista que possuem consciência da sua própria pequenez
A discriminação racial é a cicatriz da ignorância, que só pode ser curada pela luz da educação, empatia e respeito mútuo, para que possamos construir um mundo onde a diversidade seja celebrada e não motivo de divisão.
“Com a Lei Áurea, o Estado brasileiro trocou a condição do povo negro de escravo para uma menos ruim, a de marginalizado”.
Ensaios políticos, 2024.
Acontece que pessoas que se consideram brancas, sempre que não se sentem privilegiadas, tendem a criar e viver uma ilusão de que isso aconteceu por militância. Assim, elas continuam acreditando que só não estão no topo, em destaque, por injustiça.
Seca
...Hoje sou madeira seca
cortada pelo lenhador
Sou árvore velha
que morreu para virar tambor
Sou a pele do tigre que embelezou
a sala do matador...
Corpo Escudo
Minh’alma incendeia o corpo com um fogo digno de revolta
Se eu luto é para não ficar de luto pelos meus irmãos que se foram
E se assim foi, não será mais, porque em minhas veias corre veneno
Veneno de Esperança
Minha voz ecoará um grito que ensurdecerá quem quiser me calar
Meus olhos serão fuzis que atingirá o senhorzinho, que acha que preto
tem que fugir e da bala escapar
Meu cabelo medusa fincará no solo toda vez que eu pedir raiz
Meu corpo escudo, mandará pra bem longe todos aqueles que quiser nos boicotar
Agora você, capitão fardado
Da minha terra, do meu povo, do meu corpo vou exterminar
Porque preto que é preto
Sabe que lado lutar.
... acabou o tempo que tuas palavras me ofendiam
Você é preta
Cabelo duro
Hoje, não me curvo
Me curo da doença que me impuseram ser...
Onde encontro o meu mundo?
A escravidão foi um sistema cruel que visava explorar e tirar proveito dos africanos.
A cor da pele não determina a bondade ou maldade de uma pessoa.
Todos os seres humanos, independentemente da sua cor de pele, têm igual valor e merecem respeito.
O racismo é um problema grave que se baseia em conceitos falsos de superioridade e inferioridade baseados na cor da pele.
É essencial desafiar e combater o racismo e promover a igualdade e a inclusão de todas as raças.
As pessoas devem ser valorizadas pelo seu caráter, talento e contribuições para a sociedade, não pela sua cor de pele.
Deus não faz acepção de pessoas com base na cor da pele e todos foram criados à Sua imagem.
Cada indivíduo, independente da sua origem étnica, tem talentos e dons únicos que podem enriquecer o mundo.
É fundamental trabalhar juntos para construir um mundo mais justo, igualitário e inclusivo, onde a diversidade seja valorizada.
TODAS AS FORMAS DA ESCRAVIDÃO
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Desde que somos país, já estava aqui este povo,
contraparte de sua carne, de sua alma e seus valores.
O último deles aqui chegou – proibido, em contrabando.
As correntes – do mar e ferro – trouxeram-no quase ao fim
da forma antiga da escravidão.
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Talvez fosse mulher, talvez homem...
Vou supor seu retrato: porém, jamais revelado;
vou pensar o seu corpo: ferido-acorrentado.
Para nome, darei Maria,
para não dizer que é João.
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Vocês queriam canções: doce-brancas como açúcar...
Mas, do oceano que lambe as praias, eu só quero falar destas gentes:
dos males que lhes fizeram, do pouco que lhes demos, do tanto
que lhes devemos
(vou me ater, no entanto, a Maria – aos seus filhos e pentanetos
Vou lhes seguir cada passo, geração a geração).
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Deste povo, “Todas e Todos”,
todos nós temos um pouco.
Levante a primeira gota quem souber ou achar que não,
e depois disso se cale, ou se vá para a Grande Casa,
se não se sentir como irmão.
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Primeiro nasceu Pedro, já depois da Abolição.
Filho enfim liberto de Maria, quase ficou famoso
por ser primo do já célebre Operário em Construção.
Mas não encontrou trabalho,
e, por isso, roubou um pão.
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Foi linchado em via pública
por gente de bom coração,
e isso na mesma época, em que num país mais ao norte
– entoando canções patriotas – matava-se à contramão.
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Pedro, coitado, nascera
na Era dos Linchamentos.
Já longe, entregue ao rio dos tempos,
ia-se a Era Primeira – a da velha Escravidão.
Ao norte, matava-se à farta – aqui, por um pouco de pão.
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Mas então nasceu Jorge – de uma nova geração.
Chamaram-lhe para uma guerra, para defender o país
dos tais fascistas que nos queriam impor outra escravidão.
Como neto tão direto de Maria, não lhe deram qualquer patente,
mas lhe atribuíram missão: deveria buscar minas (quando fosse a folga
de ser bucha de canhão).
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Em um passo em falso, pisou na morte!
Não teve sequer a sorte – o bravo soldado forte –
de merecer uma Missa Breve, ou de ganhar um monumento
(“É um pracinha desconhecido, de fato, mas não é da cor que queremos;
o mármore que temos é branco, passemos a honra ao próximo:
eis aqui a solução”).
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Iam-se os tempos da Escravidão,
fora-se a Era dos Linchamentos,
acabara (de acabar) a Idade da Desrazão.
Abria-se novo momento: A Era-Segregação!
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Datam de então as Favelas
tão próprias para todos; mas especialmente talhadas
para os bisnetos de Maria.
E ali, no calor de um dia,
nascia o nosso João:
finalmente um João!
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Pouco sabemos dele
por falta de documentos.
Dizem que morreu das meninges
no mais duro chumbo dos anos tristes,
na época em que a doença – proibida nos jornais –
aceitava a segregação.
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Só sabemos que foi pai
do Trineto herdeiro de Maria.
Este, por falta de qualquer emprego,
e por vergonha de pedir esmola,
tornou-se um bom ladrão.
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Roubava dos ricos para dar a pobres,
ainda que nem precisasse tanto:
seu destino já fora traçado,
indiferente à profissão,
nesta Era da Prisão.
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Também ele deixou filho
– o brilhante e sábio Tetraneto de Maria –.
A vida deste bateu na trave: quase recebeu a cota!
Mas então soube que já chegava
a Era da Assombração.
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[BARROS, José D'Assunção. publicado na revista Ensaios, 2024].
A minha escrita sempre foi combativa. Essa é a graça de poder me expressar pelas palavras. O que não digo falando, escrevo — e tenho muito a dizer. Não tente me calar. Nasci e cresci em meio à guerra. Se eu não estiver o tempo todo lutando, a sociedade me mata simplesmente por ser quem sou.
No universo da resistência Negra, talvez não haja crueldade maior do que ter que Resistir sem ao menos poder Existir.
Entre tantas datas comemorativas, não é estranho que o Dia da Consciência Negra seja a única a ser combatida sistematicamente?
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