Racismo
*Nocivos*
É, ser preto não é fácil... Na sociedade em que os pretos são os invisíveis mais visíveis que existem. Onde a bala perdida, coincidentemente, sempre acha a pele preta. Somos indivíduos "altamente perigosos", e a cada nova reflexão nos tornamos mais "nocivos".
Lutamos e lutaremos sempre pelo direito que temos, na esperança de andarmos sem "sombras" em um supermercado. Esperançoso que acabe a hipocrisia, pois pregam a igualdade racial na internet, mas pessoalmente ridicularizam o negro.
Preto, você presta! Não esqueçam uma coisa, se hoje desfrutamos de boas coisas, agradecemos ao "preto".
(Ao Pedro Henrique, morto em um hipermercado)
*André Ferreira*
Solidão de Maria
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Maria nasceu lá nas décadas de sessenta. Do século passado.
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Maria aprendeu que o sexo é proibido.
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Maria também foi perseguida. Não por soldados, mas pela sempre pronta e atenta, nossa querida sociedade.
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Quem mandou Maria nascer Maria e não João?
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_ Ela é que pague o preço de sua escolha!
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Maria tem que ser calada, voluptuosa e burra. Porque Maria que é Maria, é mulher!
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Mas Maria não foi nada disso.
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E ainda teve a ousadia de nascer preta. Preta sim! Não sou de meias palavras.
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Negro, não é nem raça. Preto é cor!
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Maria, além de negra, é preta. Não tem vida cor-de-rosa!
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Essa pobre coitada. Teve o desplante de perguntar.
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Nasceu inteligente e não foi sábia de esconder sua mente.
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Maria percebeu o mundo. Não gostou! Mas as horas Maria não era para sexo? Não é para isso que o Brasil vende Marias e o mundo inteiro compra?
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Oras! Maria era para ser enganada! Mulher e negra? É classe e situação permanente. É o regime de castas brasileiro. Que a gente age.... Mas psiu! É impróprio falar.
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Maria que é Maria, é pra usar.
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Mas Maria não aceitou.
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Maria... tola Maria! Questionou.
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E o tempo foi passando. Os anos se tornaram pesados. Maria ficou só.
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Sem homem. Sem sexo. Apenas com seu gênero, raça e inteligência.
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Maria que é Maria. Tem que se resignar. Porque Maria quando não é Maria... fica só, por questionar.
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E Maria ainda inventou de estudar. Teimosa, petulante e atrevida Maria! Como ousa?
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Vai chorar muito pra chegar lá. Mas num tenho pena! Nasceu assim, então tem que sofrer! Tenho nojo dessa cor. Detesto esse jeito sinuoso de mulher, que não se serve para os homens. E fico com raiva dela ser feliz! Ainda assim, Maria!
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Eu me alegro com cada sofrimento de toda Maria goiana.
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Êita! O que é que eu vejo ali? Mas não é que é Maria! Toda faceira. Solta, alegre a andar? Que absurdo!
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Sozinha e sem homem? Como pode? Toda aprumada, com documentos a carregar.
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Num é que Maria hoje, depois de muito sol, está estudada!
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Onde este mundo vai parar? Dar emprego para uma Maria se tem tanto José pra trabalhar?
Respeito sua opinião sexual, se respeitares minha opinião política
Respeito sua opinião política, se respeitares minha religião
Respeito sua opinião religiosa, se respeitares minha cor e raça
Respeito sua cor e raça, se respeitares teus pais
Respeito meus pais, se respeitares minha idade
Respeito sua idade, se respeitares minha profissão...
Respeito se você me respeitar... Será que isso está certo?
Cada um defende sua opinião, quer seja religiosa, política, cultural ou sexual
E o ciclo se repete infinitamente, todos cobrando respeito em troca de respeito.
Mas o certo seria, dar respeito simplesmente por que o respeito deve ser dado e não cobrado.
Enquanto o foco for a cobrança por respeito, a entrega genuína do mesmo cairá no esquecimento!
O Que Fizeste de Ti?
O que passa por sua cabeça?
O que dizem seus pensamentos
Quais as suas certezas e desejos?
Que sanidade fias que trás em si?
Roubas de ti os próprios cabelos, a barba
Veste-se como reles e inglório apátrida
Se encanta com desenhos insanos na pele
Desses que expõem símbolos de violências
O que pensas sobre ti e tua honra?
Que hombridade lhe restou nos anos
De amor, a ti dedicados, por mim e teu pai?
Que valia teve alegrias e dores a cuidar-te?
Trago ainda, de tua infância, tanta saudade
Seu carrinho azul, sua bola de meia
Hoje, trocados por tatuagens de símbolos
Que ao mundo, remontam ao terror e maldade
Que amigos lhe são caros e íntimos?
Os intolerantes? Os racistas? Os covardes?
Tenho por ti sentimentos de amor de mãe
Mas, não reconheço-te, saído de meu ventre
Dizem que sangue é vida,mas todos tem sangue vermelho,e mesmo assim são divididos pela cor da pele,como se a vida de quem tem pele branca valesse mais.
Podemos e devemos viver com direitos, deveres e tratamentos dentro de uma mesma medida, mesmo nos mantendo diferentes uns doutros.
Semelhança entre nazistas e baratas: se estão surgindo a luz do dia é porque o esgoto já está cheio deles!
Se antes, usavam o conceito de
"raças humanas" para afirmar escravidão africana.
Hoje, usam o conceito
"única raça humana" para negar as políticas de reparação racial.
Não se pode exigir lugar de fala,onde você não exerceu experiência,um branco não pode falar de racismo,um hétero não pode falar de homofobia como um engenheiro não pode tratar de medicina.
Onde não se tem lugar de fala,se busca lugar de escuta,e lembre-se que mesmo estudando e escutando,nada substitui o que se é vivido pelo outro.
Respeite o espaço de cada um.
A empatia surge através do sentir a dor do outro e respeitar sem vitimização.
A ideia de que um dia se concebeu a existência de raças dentro da espécie humana provavelmente parecerá muito estranha e primitiva em um futuro no qual se tenha realizado algo mais próximo a uma verdadeira justiça social, pois no seu aspecto mais irredutível o que existe é uma só raça: a raça humana.
[trecho extraído do livro 'A Construção Social da Cor". Petrópolis: Editora Vozes, 2009, p.218]
Imagine, você, livre
Num lindo bosque a passear
E surgem do nada pessoas estranhas que te amarram
Te jogam num navio e o força atravessar o mar.
Talvez não fosse tão mal em um navio viajar
Se caso fosse para continuar a passear
Mas, no entanto, estão te levando para um lugar distante
Tudo isso para te forçar a trabalhar.
Mas e se você for forte
E com um ato de bravura se recusar a trabalhar?
Provavelmente te amarrariam em um tronco
E o açoitaria até sangrar.
E foi assim por 300 anos
300 anos para a escravidão abolir
300 anos desde o primeiro escravo que chegou por aqui
Mas você acha que mesmo com abolição tivemos motivos para sorrir?
Não! Pois quem comandava a sociedade era a burguesia
Essa burguesia por sua vez queria morar em cidades “belas”
E com isso não deram condições ao povo preto
Fazendo de tudo e os empurrando para as favelas.
Século XXI, imagine, você, sempre andar preocupado
E chegar ao ponto de listar algumas ruas e bairros como lugares proibidos
Tudo isso por um único medo
Medo de alguém sofrer um crime e te confundirem com um dos bandidos.
Agora imagine entrar numa loja
E além de ver uma câmera escrito “sorria”
Você ter que andar pelos corredores, acompanhado
Sendo sempre observado pelo vigia.
Para muitos isso não pode ser real
Alguns podem falar que é loucura, ou apenas fantasia
Mas para pessoas de peles pretas,
São apenas relatos de mais um dia.
E acredite.
Tem gente que classifica tudo isso como apenas vitimismo
Mas isso é uma doença
Doença essa denominada de racismo.
Uma coisa é a repetição da lógica opressora da segregação e a criação de guetos que não respeitam a diversidade.
Outra coisa é o radicalismo, por muitas vezes, necessários na luta por espaços e direitos iguais para população negra em nosso país, marcado por um racismo individual, institucional e estrutural.
Cada vez que eles fazem questão de mostrar que eu não pertenço aquele lugar, eu mostro pra eles que foda-se seus pensamentos eugenistas de supremacia branca... Nunca mais poderão proibir a gente em qualquer lugar.
A mesma paixão que salvou o Fonny fez com que ele se encrencasse e fosse para a cadeia. Porque, veja bem, ele havia descoberto seu centro, seu próprio centro, dentro dele: e isso era visível. Ele não era o preto de ninguém. E isso é um crime na porra deste país livre.
Lembre-se: foi o amor que te trouxe aqui. E se você confiou no amor até agora, não entre em pânico agora. Confie até o fim.
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