Quem quer

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Não esqueço de quem me estende a mão. Minha memória não é curta. Apesar de eu esquecer nomes, jamais deixo passar batido o que fazem por mim. Porque aprendi que ajudar o outro é bonito. Mas ser grato é mais bonito ainda.

Quem tem esperança sabe que nenhuma tristeza é eterna.
Sabe que, após a chuva, virá o Sol;
que amanhã será um outro dia, cheio de surpresas e de boas novidades.

Quem é feliz não conta, não espalha, não grita aos quatro cantos. Quem é feliz, satisfaze-se por ser. E sabe que felicidade anda coladinha na inveja. Quem é feliz não precisa provar nada, simplesmente é. As pessoas felizes demais nunca me passaram confiança. Essa coisa de que a vida é uma festa e não existe nada errado, não me brilha aos olhos. Feliz é quem conhece o lado ruim e o respeita. Feliz é quem já foi infeliz. Somente quem já foi infeliz pode entender que a tristeza traz um punhado muito bom de aprendizados. O oba-oba de quem nunca se deixou entristecer não serve na minha vida. Felicidade não é sobre quem grita mais alto; é sobre quem sorri mais fundo.

Sou eu sozinha quem carrega todo esse peso nas costas, isso ninguém percebe, ninguém valoriza.

Todo mundo esconde quem é pelo menos por um tempo, às vezes você enterra alguma parte de si mesmo tão profundamente que precisa ser lembrado que ela ainda está lá, e às vezes o que você quer é só esquecer quem você é, por inteiro.

Quem corre, cansa. Quem anda, alcança.

Você não deve ferir quem você não pode matar.

Nunca esqueça quem você é, o resto do mundo não vai esquecer. Vista isso como armadura, e isso nunca poderá ser usado para o machucar.

(Tyrion Lannister)

Quem lamenta as suas perdas, olha para os seus próprios pés. E quem olha para os seus pés, acha que o mundo é do tamanho dos seus passos.

Tudo é ousado para quem a nada se atreve.

Nunca fui doce... nasci cravo e canela... um toque picante, um toque provocante... e quem quiser que goste assim... nasci com sangue fervente... desejo constante... de fazer o que eu quero... de ser como eu sou... me engula quem quiser... porque não sou pra qualquer um...

Ninguém merece tuas lágrimas, e quem as merece não te fará chorar.

Nem sempre coloco em prática aquilo que julgo certo. São poucas as pessoas para quem eu me explico.

E até quem me vê
Lendo jornal
Na fila do pão
Sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá
Que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor
A gente é quem sabe

Não se machuque por quem não se machucaria por você.

Não te queria dizer adeus como quem parte, mas como quem procura no silêncio e no vazio do adeus uma só e inútil resposta.

Quem não espera grandes atitudes, não tem grandes decepções.

Enquanto não conhecer a dor de uma pessoa, não saberá quem ela é. Ainda que a conheça, não poderá compreender!

Somos nós, com os nossos passos, que vamos fazendo o nosso próprio caminho. Há quem corra demasiado depressa e perca a alma no trajecto, há quem mude de ideias e arrisque um atalho, há quem não saiba escolher a melhor direcção quando chega a uma encruzilhada, há quem deixe pedras pelo caminho para não se perder, se precisar de voltar para trás.
Não sei que espécie de caminhante sou, para onde vou, não sei. Nem sei para onde vais. Nem tu sabes. Pode ser que um dia acordes com uma luz nova, uma força desconhecida que te vai trazer até mim… Sei que há uma força estranha que me faz correr para ti, embora nunca, em nenhuma circunstancia, corra atrás de ti, porque não posso, não me é permitido interferir no teu destino e mudar o curso da tua vida. Isso, terás que ser tu a fazê-lo, por ti e para ti, se assim o entenderes. Será que sentes a mesma força?

PÍLULAS DO GRANDE SERTÃO

Coração da gente – o escuro, escuros.

Quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.

Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar.

No sistema de jagunços, amigo era o braço, e o aço!

Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é.

O amor? Pássaro que põe ovos de ferro.

Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.

A colheita é comum, mas o capinar é sozinho.

O diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro!

O diabo, na rua, no meio do redemunho.

O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejos... Pois, não existe! E, se não existe, como é que se pode se contratar pacto com ele?

Quem muito se evita, se convive.

Julgamento é sempre defeituoso, porque o que a gente julga é o passado.

O que lembro, tenho.

Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.

Quem mói no asp'ro, não fantaseia.

Quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente.

Vingar... é lamber, frio, o que outro cozinhou quente demais.

Quem sabe do orgulho, quem sabe da loucura alheia?

Ser chefe – por fora um pouquinho amarga; mas, por dentro, é rosinhas flores.

Um chefe carece de saber é aquilo que ele não pergunta.

Comandar é só assim: ficar quieto e ter mais coragem.

Toda saudade é uma espécie de velhice.

Riu, de me dar nojo. Mas nojo medo é, é não?

Um sentir é o do sentente, mas outro é o do sentidor.

Tudo é e não é.

Mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir.

Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!

O sertão é do tamanho do mundo.

Sertão: é dentro da gente.

O sertão é sem lugar.

O sertão não tem janelas nem portas. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa.

O sertão não chama ninguém às claras; mais, porém, se esconde e acena.

O sertão é uma espera enorme.

Sertão: quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros: eles estão sempre no alto, apalpando ares com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas.

A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero.

A vida é muito discordada. Tem partes. Tem artes. Tem as neblinas de Siruiz. Tem as caras todas do Cão, e as vertentes do viver.

Manter firme uma opinião, na vontade do homem, em mundo transviável tão grande, é dificultoso.

Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo.

Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães...

Feito flecha, feito faca, feito fogo.

Vi: o que guerreia é o bicho, não é o homem.

Até que, um dia, eu estava repousando, no claro estar, em rede de algodão rendada. Alegria me espertou, um pressentimento. Quando eu olhei, vinha vindo uma moça. Otacília.
Meu coração rebateu, estava dizendo que o velho era sempre novo. Afirmo ao senhor, minha Otacília ainda se orçava mais linda, me saudou com o salvável carinho, adianto de amor.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.