Queimar
Olhos de fogo...
Olhos de fogo
são os teus
me fazem queimar
por dentro
labaredas de desejo
invadem os meus pensamentos
é você que transforma
momentos tristes
em puros desejos ardentes
sem pensar no amanhã
importante é o agora
neste momento da vida
instante este
que acontece de repente
na vida...
em tudo que sente
amor latente
a espera de alguém
vem...
invade-me...
consuma-me
faça de meu ser
seu escravo
brinque...
beije...
sacie-me por inteiro
use e abuse
me lambuze de prazer
mas te peço
não judie do meu coração
antes de partir
diga ao menos um adeus...
ou um simples até breve
mas continue perto
não fuja
seja minha amiga para todo sempre.
(Fouquet, maio 2010)
Ao inventar a vela de acender, buscou o Homem produzir luz que se apaga, ao se queimar totalmente a derradeira porção de seu pavio. Até a luz elétrica tem seu ciclo de luminosidade, precisando ser renovada sempre. Pobres Homens-deuses, com o poder nas mãos: inventam e reinventam luzes. Acreditam que a claridade decorrente dos holofotes dos cargos que ocupam os deixam mais luminosos e, até quem sabe, eternos.
Eu escrevo e, escrevo e, escrevo. Eu escrevo até doer os dedos e, queimar minha alma. A sensação de asfixia é grande, é exorbitante. A garganta pigarreia e o corpo desmorona. Eu tento, eu tento, mas eu não consigo libertar minhas dores. De escritora amadora, passei a ser o buda no caminho do nirvana. A minha cabeça pede trégua, meus músculos pedem trégua, meu coração pede trégua. Tudo em mim levanta a bandeira branca, mas só consigo ouvir o sopro do vento lá fora, não tem ninguém para responder. Não tem ninguém com vontade o bastante para fazer com que eu pare com isso. E, eu escrevo e, escrevo e, escrevo, mas o nó continua entalado em mim. Eu escuto músicas reflexivas que me ajudam, naquele dó escravo do piano, eu me sinto um pouco melhor, mas volto a escrever. Não me falta inspiração, me falta dedicação. Me falta ser viva assim fora do papel, fora dos meus textos. Todos os dias a caminho do trabalho, pegando o transporte público, eu me transporto dentro da bolha e, fico lá. Fico lá, observando as pessoas a minha volta, escuto suas conversas, eu rio em silêncio, tiro minhas conclusões e, as vejo partir. E, é assim que me sinto, uma espectadora observando a vida das pessoas, observando o resquício de vida que parte, sem eu me dar conta. A cada dia, um dos meus suspiros leva mais um sopro da minha vida. E, eu continuo a escrever e, escrever, para que assim me sobre alguma coisa. Eu não queria ser lembrada, não queria marcar a vida de ninguém, não queria me tornar passado ou futuro, sempre quis ser presente, quis ser vida, quis ser alegria, quis ser luz, mas acontece que escritores deixam sua marca no mundo. Escritores são lembrados depois de suas mortes, depois de terem vivido suas vidas mesquinhas. E, eles escrevem e, escrevem. E, eu não paro de escrever e; escrever, porque minha vida se tornou um labirinto cheio de caminhos que me carregam de volta para o ponto de partida. De todas as minhas escolhas, nada parecer mudar, nada parece dar certo, nada parece seguir o rumo do mundo. Me arde o peito correr e, perceber que corri em círculos, apenas. Minha cabeça me arrebenta os neurônios. E, eu quero chorar para isso acabar, mas o sofrimento é insistente. Se ao menos alguém lesse meus textos, a dor seria menor, mas não é. E, os meus temores começam a se tornar realidade, porque as coisas nunca mudam. O meu relógio biológico estagnou no tempo e, agora eu me sinto presa. Eu estou presa. E, eu continuo a escrever; eu continuo, porque isso é a única coisa que não acaba, porque é a única coisa em mim que é capaz de mudar o curso natural das coisas.
Tudo que preciso é de um banho de lua brilhante e me secar no horizonte.
Me queimar num sol do deserto daqueles escaldantes.
E depois resfriar num pólo frio bem distante.
O mar será meu próximo desafio , aquele mar dos amantes .
Ouvia a voz do seu olhar me chamar;
O calor da sua boca me queimar;
E o toque da sua pele a me envolver.
Você quer?
Vou te tirar desse freezer...
Deixe-me construir um inferno somente um onde nos queimaremos todos os dias e arderei contigo!
..
DELÍRIO
Sabe você que te amar
é o mesmo que me queimar.
Mesmo assim me procura
dizendo ser a minha cura.
Se eu estive sumido,
foi por estar consumido.
E quando enfim
a dor teve um fim.
Tu me chamas
para jogar-me nas chamas.
Pode até queimar minha carne, pois o meu socorro vem do Senhor. Pode até morrer o meu corpo, mas a minha alma está guardada pelo Senhor.
Se queimar o amor a fumaça vai para o céu; e, das cinzas, torna-se grafite para escrever numa folha de papel que ainda existe.
Milton Maia Filho