Que minha Solidão me Sirva de Companhia
É bem confortante permanecer na minha melhor companhia.Voltamos e nos perdemos sem medo de pular nossos abismos. O escuro de nossas lacunas descansa o olhos do mundo, sem que seja necessário qualquer resposta. Nos dilaceramos com óbvio. E rimos das banalidades virais. Quando me encontro só não há solidão, só uma tristeza que insiste em sorrir a face do mais profundo de minha alma. E então me perco de novo dentro de mim. E me encontro, me desperto, e volto para aquilo que ainda nem sei, mas me faz o que sou. Presa dentro do que serei e acolhida pelo que eu fui.
By Cyrlene Rita dos Santos.
Inspiração Clarice Lispector.
Eu sempre preferi a companhia das pessoas mais velhas, desde pequena...
Quando criança, muitas vezes deixava de brincar pra ficar no meio dos adultos, escutando os casos, histórias engraçadas (ou não), entre outros papos que aguçavam a minha curiosidade e também minha ânsia em tornar-me adulta.
O mundo adulto, para mim, era encantador... Eu admirava os mais velhos, me divertia e aprendia com eles.
Meus pais e tios costumavam se reunir aos finais de semana para jogar buraco. Não tinha diversão melhor para mim! Ficava sentadinha na mesa só observando (e aprendendo) o jogo. Algumas vezes dava palpites e amava quando chegava o meu momento de jogar (já um pouco mais crescida, claro). Na maioria das vezes, como eles varavam noites jogando, eu pegava no sono debruçada na mesa e geralmente acordava com os arranca-rabos dos parceiros discutindo as jogadas. Até disso eu gostava! Só ia pra cama quando o cansaço realmente me vencia, depois de uma longa briga com o sono.
Na época eu não sabia, mas na verdade o que eu gostava mesmo era da sabedoria dos mais velhos. E sou assim até hoje! Não é porque já sou adulta que eu ainda não tenha o que aprender e admirar...
Não que eu não goste de pessoas da minha idade ou mais jovens. Na verdade, tem jovens que possuem mais maturidade e conteúdo do que muitos adultos. No entanto eu tenho muita facilidade em me relacionar com os mais velhos, justamente porque cresci assim, fugindo das relações rasas e pessoas fúteis.
Sempre fui uma boa ouvinte e, nesse mundo cheio de faladores e "donos da verdade", as pessoas andam necessitando disso, querendo alguém que simplesmente as escutem, atenta e carinhosamente.
O Facebook se tornou um divã, onde as pessoas se derramam publicamente, por conta dessa falta de aproximação e vínculos. É louco, mas a rede social resgata e aproxima, mas também afasta e afrouxa relações.
Eu, como uma boa libriana (e nostálgica) que sou, sinto falta das amizades e relações da moda antiga. E daí bate aquela vontade de voltar no tempo e ser criança novamente, ser a criança que fui, que achava o máximo os adultos com banquinhos nas calçadas, papeando depois de um dia exaustivo.
É impressionante que, com toda a tecnologia de hoje, inúmeras formas de comunicação, as pessoas estão cada vez mais solitárias... Pior ainda, quando finalmente se encontram, ficam sem assunto, ou desconfiadas de se abrirem francamente umas com as outras (???), ou impacientes e intolerantes em ouvir opiniões e experiências divergentes...
Estamos nos acostumando com telas e esquecendo dos rostos. Aprendemos a nos expressar com emojis e nos desacostumamos a identificar as reações dos semblantes.
Não temos mais tempo de qualidade uns para os outros, e graças a isso, as clínicas terapêuticas estão cada vez mais lotadas.
E o telefone? Virou um meio de comunicação arcaico, enfeite na estante. Quando toca, (como aconteceu agora enquanto escrevia), geralmente é engano ou propaganda de produtos que certamente não nos interessa.
Que azar, ter me tornado adulta nessa época em que os adultos "não sabem" mais como se relacionar sem um smartphone ou computador...
Caminharei por caminhos áridos, tendo como companhia a audácia... Me afastarei de mim mesma, me perderei nas trilhas da solidão, pois, é ali, que me encontro, de onde observo um jardim secreto, com acesso ao templo que há em mim...Medo?... Sim, o tenho...Mas posso perfeitamente entender, que o pavor mora lá e a coragem vive em mim, dentro desse templo, para sempre..
.(Marilina no livro É Mais Ou Menos Assim )
Queria tanto que tu fosse o meu Chimarrão, pra me esquentar nos dias frios e me fazer companhia nos dias de solidão.
A Flor e Eu
Estou só, na companhia de uma flor,
e posso com fidelidade, sem culpa confessar
que suas pétalas acariciaram meu ser
Enquanto, seu perfume diluía a minha dor.
Sinto que ela pode me ouvir, e sem rancor,
mesmo sendo meiga e inanimada
Contei dos meus lamentos sobre o amor
e os desabafos de minha infância roubada.
Também solitária, caída ao chão
Ali mesmo, compartilhamos os nossos medos.
E só por uma noite ela foi
a guardiã mais sincera dos meus segredos.
Dividimos sem preconceito algum
as marcas que nos foram deixadas
As cicatrizes que o tempo não levou
e a vida renovou com suas garras.
Queria que esta flor rosada,
não sofresse a ação do tempo.
Nem, que perdesse sua forma
ou caísse, ao ser violentada pelo vento.
Assim como ela, eu choro
não por covardia, nem por falsidade,
Choro, por ter tido a alma ferida,
choro também por sentir saudade.
Também tive algumas pétalas arrancadas,
por puro prazer, de quem sente ao nos fazer maldade.
"Quem se torna uma boa companhia para si mesmo nunca mais se sente dependente da companhia alheia para estar bem".
Quando se está só por muito tempo, é perigoso demais buscar companhia sem entender o que se deseja, é como enfiar seu braço numa caixa cheia de serpentes esperando tirar de lá felicidade. Não adianta, o veneno da solidão corrompe seu ego se você não amar a si mesmo. E outra, é inviável estar com alguém somente por estar, a confiança torna-se uma droga alucinógena.
O que adiante ter carro do ano, mansão, fama e dinheiro se ao chegar em casa, sua única companhia é a solidão.
Quando gostamos de nossa companhia não nos sentimos sozinhos! Consequentemente... Não temos medo da solidão...
Importante objetivo na vida: aprender a ser uma companhia tão boa para si quanto seria a do melhor amigo, não para precisar de ninguém na vida, mas para nunca ser dependente da presença de alguém para ficar bem consigo, seja numa viagem, no sabor de um belo vinho, na reflexão sobre as dores da vida ou nas alegrias do viver.
...espaço vazio...
em horas que espero sua companhia...
apenas a ausência que desdem o momento,
prerrogativa que desaparece entre as paisagens...