Quando Morre Alguém que Amamos
Não existe ninguém que não possa ensinar algo a alguém, e não existe ninguém tão excelente que não possa ser superado.
O que amamos está sempre longe de nós:
e longe mesmo do que amamos - que não sabe
de onde vem, aonde vai nosso impulso de amor.
O que amamos está como a flor na semente,
entendido com medo e inquietude, talvez
só para em nossa morte estar durando sempre.
Como as ervas do chão, como as ondas do mar,
os acasos se vão cumprindo e vão cessando.
Mas, sem acaso, o amor límpido e exato jaz.
Não necessita nada o que em si tudo ordena:
cuja tristeza unicamente pode ser
o equívoco do tempo, os jogos da cegueira
com setas negras na escuridão.
Nós só amamos os amigos mortos
E só as amadas mortas amam eternamente...
Os ventos que tiram algo que amamos são os mesmos que trazem algo para amar...
Nota: Trecho adaptado da música "Frozen Valley" da banda Silent Heart, que tem vindo a ser erroneamente atribuído a Bob Marley.
...MaisMas o denegrirmos os que amamos sempre no desliga dêles um pouco. Não é bom tocar nos ídolos; o dourado pode sair nas nossas mãos.
A verdade é que nós amamos a música sobre todas as coisas e as prima-donas como a nós mesmos.
Amamos A, amamos B, amamos C, e por alguns nem era amor, e sim entusiasmo, e sabe-se lá de quantos entusiasmos somos capazes.
A verdade é que amamos a vida não porque estamos acostumados a ela, mas porque estamos acostumados com os momentos, mesmo que poucos, de euforia que o amor nos traz.
Via de regra, cada um de nós morre uma única e escassa vez. Só o ator e reincidente. O ator ou a atriz pode morrer todas as noites e duas vezes aos sábados e domingos.
E morre-se, sem ao menos uma explicação. E o pior – vive-se, sem ao menos uma explicação.