Quando duas Pessoas se Amam
Vi-me de volta à cidade sepulcral, ressentindo-me da visão de pessoas andando apressadas pelas ruas para roubar um pouco de dinheiro umas das outras, devorar suas infames comidas, engolir sua insalubre cerveja, sonhar seus sonhos insignificantes e tolos. Elas invadiam meus pensamentos. Eram intrusas cujo conhecimento da vida era para mim uma irritante impostura, porque eu me sentia tão certo de que não podiam conhecer as coisas que eu conhecia. O porte delas, que era simplesmente o porte de indivíduos vulgares tratando de seus negócios na certeza de uma perfeita segurança, era ofensivo como o ultrajante pavonear-se da loucura diante de um perigo que é incapaz de compreender. Eu não tinha qualquer desejo particular de iluminá-los, mas sentia uma certa dificuldade em impedir-me de rir na cara delas, tão cheias de estúpida importância.
Eu só não quero deixar as pessoas com expectativas e depois desapontá-las. Então não quero que façam isso comigo.
Poucas pessoas me fazem sorrir verdadeiramente. Poucos provocam em mim uma sensação de segurança. Poucos, poucos. Mas valem a pena.
As únicas pessoas que fariam tudo por você são aquelas pessoas que até antes de você nascer já te amavam.
Nunca compreendi a razão para as pessoas se incomodarem tanto com minha vida. Ao meu ver, no fundo algo não está bem resolvido. Fica a dica: CUIDE DO QUE É SEU, PORQUE O MEU ESTÁ GUARDADO... E BEM CUIDADO!
Enquanto as pessoas estiverem satisfeitas com sua condição, não contestarão nenhum sistema de governo vigente, seja ele monárquico, ditatorial ou democrático. Enquanto vigorar a sensação de felicidade, até mesmo o governo mais injusto e corrupto conseguirá se perpetuar no poder.
"Dizem que as pessoas verdadeiramente ricas são aquelas que nada desejam. Então eu era a nova milionária da cidade."
O mundo acontece. O mundo gira. As pessoas importantes assinam
contratos, ganham dinheiro. As pessoas simples lutam por um lugar
na condução, um lugar no mundo. Estão todos lutando. Estão todos
ganhando dinheiro. Estão todos fazendo algo mais importante e
mais maduro do que suspirar como uma idiota e só pensar em você.
Grande parte (talvez a maioria) das pessoas procuram-se por causa de diferenças complementares (que existem, e como!) que depois crescerão até distanciá-las. Há uma percepção antecipada do que é falta, carência e insegurança nos nossos núcleos internos. Procura-se, então, quem tem ou parece ter o que nos falta. No começo é ótimo. Depois... babau, embora haja relações que se baseiam a vida inteira nessas diferenças que se complementam.
A união entre duas pessoas - quando não é amor, mas nele se camufla - é a complementação de necessidades que, num dado momento da vida de cada um, parecem essenciais para a solução de suas dores, mágoas ou carências. Amor é deveras confundido com "necessidades complementares".
O progresso interior ou amadurecimento de apenas um dos membros do par amoroso, torna ainda mais instável a relação porque dela retira o caráter complementar que a mantinha. Dois espelhos, um defronte do outro, geram imagem infinita. Um só espelho reflete apenas a imagem de quem se olha. Olhar e ver o outro aplaca. Olhar e apenas ver-se é, para muitos, insuportável.
Quando a evolução de uma das pontas do par amoroso dá-se de maneira
mais rápida que a da outra, esta não tem mais em quem projetar as suas ansiedades. Uma parte já não aceita as cargas da outra, antes assimiladas por imaturidade, medo ou dependência econômica. Aí o equilíbrio do par se abala. Ou rompe.
Por evolução não se entenda apenas a intelectual. Esta é importante,
porém não decisiva. Numa pessoa, há vários núcleos internos que
podem ganhar graus ou ritmos evolutivos diversos: emocional, sexual,
profissional, espiritual, físico, econômico, político.
Somos seres variados, plurais. Nossa arquitetura interior possui
elementos de vários estilos e escolas. Englobamos e amealhamos,
tendências díspares, propostas diferentes em nossos vários núcleos interiores. Assim, em nossa relação mais profunda, que é
a íntima, cada núcleo interior seja, intelectual, emocional, sexual, profissional, espiritual, econômico e político pode vir
a ter ritmos diversos de evolução.
Somos seres tão estranhos, que podemos passar por evoluções
intelectuais formidáveis e permanecer anos a fio estacionados ou
cristalizados em outro núcleo emocional. Podemos evoluir emocional,
profissional e politicamente e permanecer estacionados sexualmente, e
repetir antigas, estacionárias ou primárias formas de exercício do
instinto sexual. E assim por diante. É muito difícil evoluir por igual
em todos os nossos núcleos interiores. Por isso desandam tantos casos
de amor depois que se resolvem com a união das pessoas.