Qualquer Semelhança é Mera Coincidência
Apesar de as vezes acreditarmos, que a existência é obra de mera coincidência,
Há que aceitar que esta está atrelada a simples limitação de ser obra de alguém.
E como somos obra de alguém, somos todos intimados a aceitar, que somos iguais a tudo e meras criaturas de quem nos obrou e detém
Não existem coincidências. O destino é uma mera poesia (no máximo uma figura de linguagem) e o final feliz - para nosso desencanto - nunca passou de uma utopia, derrotada por uma obcecada distopia.
Acredite, querendo ou não, a vida tem o seu próprio manual de instruções.
O destino vira mera coincidência dos seus objetivos.
Os objetivos viram mera coincidência de seus pensamentos.
E os pensamentos, mera coincidência do seu destino.
"Não é só uma coincidência encontrarmos semelhanças entre a estrutura de nosso corpo com algumas estruturas do Universo. Existe uma coisa a mais que nos liga, quimicamente, biologicamente com o Cosmos. Somos feitos do mesmo material que uma Nebulosa ou uma estrela. Somos filhos das estrelas."
Poucas semelhanças, Nenhuma coincidência
Anteontem foi aniversário de um Cardeal inglês, fez 88 anos, se reuniu com o clero bem cedo, antes do galo cantar, almoçou com o bispado na alta cúpula, jantou com chefes de estado no vaticano, abençoou muitos fiéis da vidraça de sua suíte no quarto andar.
Anteontem foi aniversário de um Sheik árabe, fez 68 anos, acordou tarde, tomou café da manhã com suas doze esposas, diante de seis serviçais, jogou Pólo, vendeu sete milhões de euros em ações da bolsa, comprou um haras, não deixou gorjeta para o chofer.
Anteontem foi aniversário de uma Estilista parisiense, fez 48 anos, participou de uma entrevista para a semana fashion, falou sobre as tendências mundiais, desenhou três vestidos para a próxima coleção, comprou um bolo com nove camadas de recheio, humilhou duas modelos anoréxicas, demitiu um estagiário, encontrou-se a luz de velas com seu novo affair (amante vinte anos mais jovem).
Anteontem Raíssa fez aniversário, completou 8 anos, acordou com os gritos da mãe, tocando pela trigésima vez seu padrasto alcoólatra do barraco, carregou uma mochila que pesa um terço de seu peso, foi para o colégio (escola pública localizada na periferia, numa rua sem asfalto, esgoto e saneamento, mas com um córrego fétido e transbordante), não fez desjejum; usou um, dos seis livros que levou, a professora a repreendeu por não ter feito a tarefa.
Correu no intervalo, brigou na saída, rodou por aí; voltou para o lar bem depois do sol se por; ela não jantou e foi dormir sem velas, presentes ou parabéns.