Prosa Poetica

Cerca de 824 frases e pensamentos: Prosa Poetica

Areia

Quero adormecer numa rosa,
abraçada numa abelha.
Quero escrever poesia, cansei de prosa.
Já desfiz a viscosa teia.

Meu corpo é minúsculo.
Tenho mãos preenchidas por grãos
de pólen e vazias de pulso,
por isso o busco nessa composição.

Meu corpo é grão de areia,
sou aquele farelo numa praia cheia
que compõe a vista feia
onde as ondas do mar se baseiam.

Adentro a onda sonora,
este é o Agora dum Outrora
que se faz eterno na caminhada
amarela ácida e docemente azulada.

Inserida por sinestesiam

SONETO ABSTRATO

Na prosa do poeta, não só tem poesia
às vezes de tão vazia, o abstrato pinda
arremata cada imaginação, e aí, ainda
nada lhe completa, nada tem harmonia

Tu'alma inquieta, o verso na berlinda
a solidão, a lágrima, a dor em romaria
se perfilam no papel em uma rima fria
e assim, a privação na escrita brinda

Neste limitado querer, sem simpatia
o silêncio, o belo, no feio prescinda
e a inspiração, então, fica sem orgia

Aí, o soneto sem quimera, não finda
e os devaneios perdidos na ousadia
sem fantasia, a ausência é provinda

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Dezembro, 09 de 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

INSPIRAÇÃO (soneto)

Foste a prosa melhor do meu poetar
Ou talvez a desejada... sonho e agrado
Contigo a inspiração me fez apaixonado
Contigo o amor pôde a paixão rascunhar

Chegaste, e o meu querer foi só amar
Queima-me o pensar, tão enamorado
Faz de meus versos um estilo dourado
E da escrita, suspiros, de essencial ar

Poema maior, meu prêmio e alegria
Obra divina, de firmamento delirante
É do teu gosto que alimento a poesia

Sinto-te em cada estrofe, que escuto
Está presente em mim a cada instante
Na criação, na alma, és poético fruto...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
01 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

Às vezes rosa
Às vezes chumbo
Às vezes mar
Às vezes mundo
Todo dia vida
Às vezes prosa
Às vezes verso
Às vezes má
Outras o inverso
Sempre vida
Às vezes isso
Às vezes disso
Às vezes esse
Às vezes desse
Eis a vida
Às vezes queima
Às vezes arde
Às vezes longe
Às vezes tarde
Sempre, todo dia
Vida mesmo
Só de vez em quando

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

SAUDADE EM PROSA (soneto)

As saudades lá se foram, respingadas
Lá pelo tempo... outra estória e verso
Mesmo assim na memória ficou imerso
Depois de tantas dores, tantas paradas

E o que assemelhava um conto de fadas
Tornou-se à emoção um trovar perverso
E no destino toda um argueiro disperso
De espinhos, nas lembranças poetadas

Então vi, que não adianta de ela fugir
Não tem nenhum contento, ao poeta
Se existe saudade, com ela deve-se ir

Embeber-se! uma estratégica solução
E, tê-la como coautora em sua meta
Pois, sempre a terá na prosa do coração....

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
16/02/2020, 11’40” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

LUZ



Hoje quero ver o dia com um olhar diferente,

Mudar o rumo desta velha prosa,

Ouvir mais e ser menos eloquente.

Ver tudo mais colorido, mais cor de rosa.



Quero saborear um café com pão,

Agradecendo a quem plantou o grão.

Vivendo intensamente, com mais empatia,

Com mais amor, com a mais sincera alegria.



Quero exigir menos dos que quero bem,

Gostar, amar sem restrições,

Ter mais paciência e piedade também.

Distribuir mais e incansáveis perdões.



Parar de tentar em vão,

Consertar este mundo e quem nele habita,

Conviver bem com o sim e o também com o não.

Para que a vida seja mais leve, mais bendita.



Hoje não abro mão de ver a lua,

Mesmo que seja a minguante,

Porque a verdade nua e crua

É que cada dia é um só instante.



Porque hoje acordei luz.

Inserida por Elizeth

A prosa se alinha com a alma,
no resquício do esquecimento.
lhe apresento novas contradições,
meras adições na solitude, deverás verdade do...
descarrego da vontade, nas alças do sentido
torna se o apogeu de tantas vezes que amou,
abrangendo o luar que se despede da vida.
oriundo de outras dimensões se dá no horizonte...
para tais qualquer amanhecer difunde se outra auroras...
no demais o ocaso translucido por querer viver.
se despede da vida transcendendo o destino...
de repente se vê o amor namorar a paixão...
dando voltas no estrelado mundo de sonhos.

Inserida por celsonadilo

O conveniente ignorado


A sensibilidade vigorosa.
O diálogo além da prosa.
Um lutador em questão.
A batalha pelo pão.

Capaz de se compadecer ao sentimento oposto.
Um semblante fiel estampado no rosto.
Ele e ela, fortemente armados com humildade.
No lar, no campo de luta traz a verdade.

Um pai e uma mãe exemplar.
Preocupa em educar.
Ensinar.
Transmitir os preceitos da honestidade.
A bagagem de integridade.

Caráter acumulado na bagatela da experiência.
Desentortando da vida as pendências.
Humanos falhos e possíveis de necessidades.
Porém sensíveis para elevar suas petições.
Agrega a consciência em devidas ocasiões.

Valentes pelo temor do criador.
Prontos para o amor.
Mas a referida vaidade faz tudo moldado.
O conveniente é ignorado.

Giovane Silva Santos

Inserida por giovanesilvasantos1

Devo dizer que sempre preferi
os versos feridos pela prosa
da vida, os versos turvos
que tornam mais transparentes
os negros palcos do tempo, a dor
de sermos filhos das estações
e de andarmos por aí, hora após
hora, entre tudo o que declina
e piora. Em suma, os versos
que gritam: Temos as noites
contadas. E também
os que replicam:
Valha-nos isso.

Inserida por pensador

Adeus, amigo.

Chame-me meu amigo
Quero ter uma prosa com ele
Amigo véi,
Tá chegando minha hora
Findou meu caminhar
Gostei da jornada, não tenho nada pra reclamar.
Fiz quase tudo que estava previsto
Fiz também alguns imprevistos
Mas nada que possa me envergonhar
Li o livro todinho, não deixei nenhuma página passar.
Umas eu conto, outras é melhor não contar.
Amigo véi,
Cabra valente, nunca me faltou com a palavra dada.
Ferro na casa de ferreiro, amigo de dores e festejos.
Comemore a minha ida com alegria e fale pra todos do amigo que tinha
Amigo véi!
As dores tão querendo atrapalhar
Os olhos teimando em fechar
Mas já tô no dia e no lugar.
Ora, o momento pode esperar.
Amigo véi
Quero me desculpar
Porque minha amizade nunca conseguiu, com a sua empatar.
Mas fico feliz sabendo que a sua tá em primeiro lugar
Amigo véi!
A hora acabou de chegar
A ordem vêi lá de cima e eu não posso questionar
Faça-me o último favor
Chame todos pra cá
Mulher e filhos fiquem com Deus
Adeus, amigo
Amigo, adeus.

Inserida por Negreiros

⁠AMBIÇÃO

Eu quis versejar, pelo prazer pleno
de ser bardo, sonhador, arrojado
duma prosa um entusiasta sereno
ter minha trova daqui do cerrado

Quis dar a imaginação um aceno
bálsamo ao sentimento apaixonado
ao riso, ao choro, um efeito ameno
disfarçando a emoção num brado

E vi que a sensação apenas é, na vida
o dado entre a tragédia e a comedia
- a chegada, o centro e a despedida...

E, piegas que sou, em um castigo
fujo aos sonhos, e de alma tédia
taciturno, me assisto só, comigo!

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
10/09/2020, 15’00” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠MEU VIOLÃO
Se meu violão falasse
Certamente diria
Em verso, em prosa em poesia
Coisas secretas de minha alma
Que nem cartola cantaria.
Sobre amores esperados
Nas esquinas da vida
Em noites vazias
De tantos desencontros
Em breves sussurros
Em tristes melodias.
Meu violão canta como eu
desafinado de melancolia
Sonhando o futuro glorioso
Esperançoso de paz e harmonia.
Meu violão, um amigo leal
O mais próximo do peito
Somos assim predestinados à solidão,
Vivemos esta grande ilusão
Que ninguém nos roubará este direito.

Inserida por EvandoCarmo

⁠SONETO ENAMORADO

Como na poesia o poeta que é imperfeito
Um canastrão na sua prosa só por amor
Ou quem, por ter cheio de paixão o peito
Vê o poema perder-se no ato de compor

Em mim, por sofrência, fica desamparado
O rito mais solene do desejo do coração
E o meu sentimento eu vejo tão agastado
Vergado numa poética sem ter sensação

Seja o temor então a minha eloquência
Bardo sem a rima de um soneto eleito
Só pra ti, que quer amor em recompensa

Mais que o verso estabanado o tenha feito
Saibas ler a emoção onde esteja imaculado
Canto de amor, em um soneto enamorado

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
16/08/2021, 11’25” - Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠ENCANTO

Se eu fosse uma prosa, eu te prosaria
Entre muitas, a de que te desejo tanto
Nesses versos seria o poético encanto
A beleza, sensação versada na poesia

Que és na composição amor e alegria
Não nego! pois, tem sedução no canto
A cadência que ao coração satisfazia
Gosto, toque, aquele possível recanto

E, se eu pudesse sem qualquer segredo
Recitaria: - em um sussurro profundo:
- como eu gosto de você. És meu ledo!

Te versaria, se pudesse, num segundo
Muito mais, o que não pouca é enredo
Inspiração, paixão, maior do mundo!

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
27, agosto, 2021, 14’44’ - Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠"Brincano de rima, rimano
Brincano de prosa, proseano"

Parece que faz mais de ano
Desde aquele último plano
Que parecia um tanto insano
Pr'alguém bem puritano

Ledo engano
Eram coisas simples do quotidiano
Como passar, no chão, o pano
Como tirar o tal copo de cima do piano

Para evitar tanto dano
Convoco meu lado cigano
Vamos cruzar o oceano
Mergulhar em algum mar romano

Ou de dentro de um aeroplano
Ver o misterioso solo Peruano
Não parece um feito humano
Deve ser coisa de marciano

Mas se o gosto é bem brasiliano
Tem praia com sol alagoano
Tem renda, tem frevo pernambucano
Tem axé, afoxé e Pai de Santo baiano.

Não importa o que diga fulano
Nem como pensa sicrano ou beltrano
Pode ser que pareça um tirano
Mas não passa de um bom
samaritano

Tem avesso que é mais bonito que o lado certo do pano
Acontece também com o ser humano
- Plageando o poeta Caetano -
É o engano do engano do engano do engano

Se quer continuar me "esnobano"
Se quer deixar passar mais um ano
Cuida pra não entrar pelo cano
Segue o brilho da luz, teu coração, te "alumiano".

Inserida por Waninharaujo

⁠PROSA ...

Não demore, venha já, velho estou
Há tanto para relembrar, o passado
Teu olhar no meu, ver o que restou
Apertar tuas mãos, ficar ao teu lado

Quero sonhar afagos do que passou
E não comunique que está ocupado
O amor foi tanto, ainda não acabou
Sorva, que só assim, pra ser amado

O tempo fugaz voou, e tal o alcance
A saudade, de nós, assim, suponho:
- pois, desta prosa ainda há traços...

Não se pode silenciar este romance
Ele decerto faz parte do doce sonho
Pressinto desejar-nos nos abraços!...

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
06/03/2021, 19’20” – Araguari, MG

Inserida por LucianoSpagnol

⁠As vezes a minha mente está criativa para fazer versos e poemas, a vezes uma prosa. Porém o que ela me pede sempre é para eu ser gente boa, tranquilo como um sertanejo na rede, bonzinho como como alguém que quer alguma coisa em troca. Ela, a minha mente, também tem seus dias, dias de fúria, de pensar, dias de lutar com ela mesma, e dias como esse, a chuva lá fora eu eu sozinho aqui com ela. Já falei pra ela ter cuidado com o que pensa, já falei para ela para de brigar com o coração; "vocês dois t que entrar num bom senso", porque no fim que pagar sou eu.
Eu, mesmo, uma pessoa só com vários momentos.

Inserida por AndersonS

⁠prosa ...

[...] Se o meu poetar não me agrada
como agrada a sentimental trova
hei de não ter mais nada
oh meu amor de doce alcova...
e, que neste ato de ser feito
que o amor é como o vento
se na poesia perde o jeito
passa-se a rima e o momento
assim, nestes versos tiranos
de vazio sentimento
dias viram horas e horas anos
numa prosa de sofrimento...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
11 de abril 2020 – Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

⁠Uma prosa com Deus
ÚA P^OZA QÔ DÊUZ
Clamo, chamo, imploro, invoco e humilho me a ti, porquê sabes oh altíssimo que creio nas tuas palavras, disseste para batermos a tua porta, prometeste a água da vida, que busquemos de todo coração, confesso, sozinho, a força do braço eu não consigo, és tu senhor, ao nome amado de Jesus, que misericordioso e amável, tua benignidade transcende a imaginação humana, és complexo e infinito, tal é minha angústia, diz senhor, se há sensatez e humildade nas minhas petições, ora, o meu anseio não ostenta orquestrar viveiros de galinhas e papagaios, nem tão pouco plantar abobrinhas, veja, não foi eu sacrificado, podado, humilhado, ferido, sonhos e realizações ceifadas, não sou eu que feito um robusto carvalho suportei a tempestade no vale assombroso, em desertos escaldantes, que serviu a mente para usufruto de provas ferrenhas.
Veja, não ambiciono a tua grandeza, pois não sou tolo, porém as tuas migalhas que são transbordantes, estas consumidas pelos cachorrinhos, não sou digno?
Que bicho desprezível sou eu?
O ilustre Jó, no augi da indignação e angústia questionou, se soubesse ele onde ficava o tribunal do senhor, se colocaria diante como inocente.
Talvez não seja eu a pureza de Jó, tenho praticado infâmias contra meu caráter, mas és tu o pai, que examina e esquadrinha o coração segundo a essência da sinceridade, veja desde meu nascituro, a real intenção, o anseio, a vibração, verás uma verdade ignorada, então oh pai, estou cansado e exausto, porém tenho dito que verei a glória do senhor na terra dos viventes, esse mundo orquestrado, manobrado, artificial, ora, não o pertenço, ainda que os gatos aplacaram me como rato desprezível, não almejo ser u cão vingador, quero o que pretendo dar , usa da tua misericórdia, o altar da tua glória, que posso administrar os meus dias, o sangue oculto me ofende, disfarçado na vida eletrônica, minha energia é sucumbida pelo magnetismo da perseguição inimiga, deveras algo em mim que não agrada o semelhante carnal, mas o teu espírito é que busco vivificar intensamente o restituir dos meus 40 anos sacrificados, misericórdia, graça e cruz, clamo que ainda hoje o vejo teu prometido espírito, JESUS.
Giovane Silva Santos

Inserida por giovanesilvasantos1

⁠O Corredor
As tardes caíam cada vez mais longas, sem expectativa e numa falta de prosa desconcertante.
Já ia longe a guerra do silêncio entre o casal em sua primeira disputa. Era difícil aplacar a angústia do que ia acontecer, disfarçar a ansiedade da volta e representar que tudo vai bem ou ia bem.
A janela foi objeto do desejo de disputa.
Abre a janela, Ana, está um calor danado desse jeito não consigo dormir, o quarto está abafado isto só dá pesadelo. Ela retrucou:
Pesadelo são os morcegos que entram no quarto e ficam assombrando o meu sono. Passo a noite vigiando a janela, de sentinela, enquanto você se refresca e dorme. No outro dia fico exausta.
— Assim não dá, Ana você acende velas no oratório, fecha a janela e o quarto fica mais abafado do que igreja em dia de Semana Santa. Isto já virou tormenta na hora de dormir, perde até o gosto de se deitar. Suar na escuridão é triste.
— Gosto da janela cerrada, dá mais segurança...
Vou abrir, Ana. amanhã é dia de serviço, a esta hora ainda não peguei no sono... deixe a luz da lua molhar o seu corpo, soprar o cheiro da flor do pequizeiro a perfumar o quarto.
Empertigada, Ana levantou-se:
— Então fique aí com a lua, os morcegos e as formigas dos pequizeiros. Vou para o outro quarto.
— Você é quem decide, Ana.
No corredor, quando as tábuas estrilaram, já bateu arrependimento.
Ana mastigou o conselho da avó: “Nunca saia de sua cama a volta é mais difícil''.
E foi assim. Tião ficou no quarto do oratório, de cortinado, as melhores cobertas, com a luz da lua, de janela aberta. Ana penava no final do corredor em colchão de capim, suando de calor e medo, disputando espaço com as muriçocas. Toda noite planejava e ameaçava: vou lá no outro quarto; “Amanhã tiro o cortinado...” Mas clareava o dia e pensava: “Quem vai subir e pregar este peso nas alturas?"!
Não se conversou mais sobre o assunto. Os pequizeiros floresceram, cheiraram, derramaram seus frutos, caíram suas folhas e não conversou mais.
O inverno chegou, a janela cerrou e Ana emperrou no quarto do corredor. Tião apostava até quando?! Aqui neste sertão sozinhos era só esperar...
Agora quem deixava Ana de sentinela eram seus pensamentos, haja tijolo quente debaixo da cama para aquecer a solidão, além da trabalheira, dos dedos queimados, dos pés gelados a indecisão deixava o corredor da volta mais comprido.
Tião matutava: tinha que tomar atitude, Ana ia botar fogo na casa. Coitada! Moça da cidade não tinha costume da roça. Levantou-se, encheu-se de coragem, pegou a vela para atravessar o corredor. A cálida luz iluminou todo esplendor de Ana que de vela na mão também voltava ardendo de saudade.
Entreolharam-se e gungunaram:
— Oiiiii.
Cruzaram o corredor cada um em sentido contrário. Ana adentrou no quarto do oratório com cortinado e Tião no quarto do corredor com o colchão de capim. Sentou-se na cama desolado, contrariado, acanhado e deitou-se.
Palpitando de ansiedade Ana mal conseguiu sentar-se na cama: no instante sentiu o cheiro das roupas de Tião que exalavam da cama ainda quente o que disparou suas lembranças e encurtou o caminho da volta. Com as mãos e os pés frios da noite, com o coração ardendo de coragem, a chama da paixão iluminou o corredor e caminhou para junto de Tião.
No espaço exíguo da cama deitou-se com o coração apertado acomodando seu corpo ao de Tião. Ele entrelaçou sua cintura em sinal de reconhecimento. Ana com os pés gelados encostou seus pés ao dele para roubar seu calor. Ele a aqueceu e perguntou:
— Não estamos brigados, Ana?
Rindo afirmou:
— “Pés não brigam”.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury

Inserida por RosanaFleury