Prosa Amizade

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Girassóis e borboletas

Lá vai ela toda prosa;
vestida de saia amarela,
tão linda e formosa,
quanto a bela da fera.

Ela dança e rodopia;
tão leve quanto a brisa.
Bem ao longe numa fila,
borboletas coloridas.

Vão vagando em silêncio,
com o barulho do vento.
A fila cresce;
o sol aquece;
entre paz do universo,
o girassol se fortalece.

E ela dança,
divagando pela rua;
com sua saia amarela.
Entre o ritmo da orquestra;
as borboletas fazem a festa.

Quão lindo de se ver;
aquela moça de amarelo,
leva sol no coração
e perfume em suas mãos,
onde em cada estação
faz o amor renascer.
Autora #Andrea_Domingues ©
#Poema todos os direitos autorais reservados ao autor original Andrea Domingues 23/04/2019 às 10:30

Revista Prosa Verso e Arte
O Aquém – Eduardo Galeano
Revista Prosa Verso e Arte
Por Revista Prosa Verso e Arte
Literatura




©Joel Robison


Estimado senhor Futuro,
de minha maior consideração:
Escrevo-lhe esta carta para pedir-lhe um favor. V. Sa. haverá de desculpar o incômodo.
Não, não se assuste, não é que eu queira conhecê-lo. V. Sa. há de ser um senhor muito ocupado, nem imagino quanta gente pretenderá ter esse gosto; mas eu não. Quando uma cigana me toma da mão, saio em disparada antes que ela possa cometer essa crueldade.
E no entanto, misterioso senhor, V. Sa. é a promessa que nossos passos perseguem, querendo sentido e destino. E é este mundo, este mundo e não outro mundo, o lugar onde V. Sa. nos espera. A mim e aos muitos que não cremos em deuses que prometem outras vidas nos longínquos hotéis do Além.
Aí está o problema, senhor Futuro. Estamos ficando sem mundo. Os violentos o chutam como se fosse uma pelota. Brincam com ele os senhores da guerra, como se fosse uma granada de mão; e os vorazes o espremem, como se fosse um limão. A continuar assim, temo eu, mais cedo do que tarde o mundo poderá ser tão só uma pedra morta girando no espaço, sem terra, sem água, sem ar e sem alma. É disso que se trata, senhor Futuro. Eu peço, nós pedimos, que não se deixe despejar. Para estar, para ser, necessitamos que V. Sa. siga estando, que V. Sa. siga sendo. Que V. Sa. nos ajude a defender sua casa, que é a casa do tempo.
Faça por nós essa gauchada, por favor. Por nós e pelos outros: os outros que virão depois, se tivermos um depois.
Saúda V. Sa. atentamente,
Um terrestre.

2001

— Eduardo Galeano, no livro “O teatro do bem e do mal”. tradução Eric Nepomuceno. Porto Alegre: L&PM, 2006

Parafraseando Elke Lubitz...
"O sol é prosa
a lua, poesia."

O verão é energia
o inverno, aconchego.
A primavera é esperança
o outono descarrego.
O jovem é afoito, fogoso
O idoso, experiente
é prudente, carinhoso.
O mar é solidão.
O céu imensidão
a terra, criação
a musa, paixão.

Juares de Marcos Jardim - Santo André - São Paulo-SP
(© J. M. Jardim - Direitos reservados - Lei Federal 9610/98)

Brasil em verso e Prosa

Presenciamos um momento diferente,
veio a guerra e a repressão,
e com ela o crescimento,
na sequencia a inflação,
que corroeu o pensamento,
de mais conforto e segurança,
e só durou por pouco tempo.
Veio a brisa que liberta,
A liberdade exacerbada,
E a censura que acerta
Ao leve riso a gargalhada?
Penso, existo, falo e voto,
Meu poder veio mudando,
Se dirigindo pro que gosto,
Onde o povão vem conquistando,
Eu vou lutando não me encosto.
A economia se acerta,
E renasce a esperança,
mas lá em casa o que liberta,
de “libertas tamem” encho a pança;
de moral me esvazio,
e não encho a criança.
Alegria e alvoroço,
Falo, logo penso, enquanto ainda moço,
Hoje em parte fraco ainda sou,
De certo e não não se enche o bolso,
Meu irmão vai pro comando,
Pra policia, pro governo, capital,
Desgastando, até quando, vou trocando,
Por revolta e por dinheiro a moral?
Compro morte, vendo cultos,
vou vivendo da desgraça,
faço frete, de tumultos,
arruaça em plena praça,
eu reclamo, dez centavos,
mas no fundo quem eu sou?
Se dissipa a fumaça
Minha face não disfarça,
Estou perdido de valor.
Vendo lixo e desgraça,
Traição em plena praça,
A ganância é de graça,
Se corrompe e não disfarça,
Logo cai toda esta farsa,
Pois o tempo ameaça,
Este tempo de pavor.
O dinheiro não será,
Liberdade não verás,
Dia e hora ultrapassar,
Os limites do amor.

E a Poesia virou Prosa

Nasce mais um dia e morre mais uma noite. Mário acabara de acordar, tomou um café forte se arrumou e saiu para trabalhar. Todo dia pegava o ônibus na mesma hora e no mesmo lugar.

Foi quando sua rotina mudou.O elevador de seu prédio quebrou e ele teve de descer do 15° andar de escadas. Belo atraso de 8 minutos. Tão belo que chegou no ponto e nem viu seu ônibus passar.Teve de esperar outro, por mais 7 minutos. Depois, fez o sinal e subiu. Sentou-se na janela esquerda da segunda fila. Apoiando a cabeça contra o vidro cochilou, mas logo uma freiada brusca seguida de uma forte buzina, o despertou. Olhava ,nesse instante, para calçada onde passeava uma graça feminina com uma calça de lycra. Era uma deusa numa bicicleta. Ficou estarrecido, pasmo e torcia para que o sinal jamais se abrisse. Ela andava devagar, todavia quase não dava mais para acompanhar. Ela já dobrava a esquina e sua visão, discreta.

Não sei como, mas por um momento trocaram um olhar penetrante.Era hora. Pulou do assento e foi atrás do gracioso par de pernas pedalante. Porém ao descer na rua, sua pele ficou crua. O atraso antes despercebido se mostrava doloroso, agora. Ela estava com outro. Então, sentou-se na praia aspirando a maresia e viu ir embora a sua diva sinuosa, da mesma forma que esta poesia virou prosa.

Ela é toda prosa.
Um rosto que brilha, um olhar que chama, uma voz que te faz ficar.
Palavras que saem da alma, e perfumam o dia de quem lê.
Ela é toda linda, toda encanto, toda paz. E eu, diante dela, sou todo desassossego.
Ela é toda arte, toda canção.
Ela é toda poesia.
De alma, sorriso e coração.

Resta e falta...

Resta a orquídea maravilhosa,
com a mais linda cor,
resta um pouco de prosa,
resta muita dor

resta a amizade,
a solidariedade,
a saudade,
a cumplicidade

resta o juramento,
a confiança,
o sofrimento,
a esperança

resta a taça de vinho,
o espaço no edredom,
todo o carinho,
a marca do batom

resta o luar,
resta o mar,
resta a tarde crepuscular,
resta o aperto ao abraçar

resta um nome,
um prosador,
um homem,
um sonhador

resta o palhaço,
o sorriso,
o espetáculo,
o paraíso

resta a atitude,
a ternura,
a plenitude,
a candura

resta a canção,
o coração,
a paixão,
falta-me o perdão

o que resta não falta,
resta uma poesia,
resta a tua volta,
espero por esse dia

ainda é amor,
e nada mais resta,
e se assim não for,
é o fim de uma festa

resta a opinião,
resta a franqueza,
falta tua sedução,
falta tua nobreza

resta a teimosia,
resta a firmeza,
resta a alegria,
falta tua beleza

resta a arrogância,
resta a implicância,
falta tua tolerância,
falta tua elegância

resta a carícia,
resta o carinho,
falta tua delícia,
falta teu ninho

resta a massagem,
resta a gentileza,
resta a mesma mensagem,
"eu te amo com certeza"...

Princesas e cowboys...

Banco de prosa no canto da praça
Viola a entoar canções sertanejas
No céu, balões a subir


Dançam princesas cirandas de roda
Fogueira queimando, estrelas que brilham
Por sobre meninos, são todos cowboys


Chega a manhã que ara com brilho
Os olhos da cor de esperança
Dos pequeninos


Brincando entre tantas fantasias
Sem saberem que na vida
São todos heróis

Mais dia, menos dia
Numa hora escrever prosa
era tudo que eu queria
de maneira religiosa
comparar-te à cor da rosa
pois por rosas você ria
eu tive essa garantia
noutra hora escrever versos
conversar sobre o universo
olhando pro céu você escolheria
qual estrela eu te daria
e então poderia escolher
você quer que eu vá buscar
ou nós vamos morar lá?
de tanto que pode escolher
escolheu ficar distante
se pedisse um diamante
escondido na mais alta montanha
minha vontade era tamanha
até lá eu te carregaria
montada num elefante
a vida seguiu adiante
e eu estou só na noite fria
olhando pro céu e pensando
na estrela que te daria
meu Deus, quando imaginaria
que ainda penso em você
hoje em dia
enquanto escrevo poesia.

⁠BARES DA VIDA

Garçom! Por favor...
Dois dedos de prosa
um trago de cachaça
e um pouco de atenção.
Traga-me um pano
e limpe essa dor
espalhada no balcão.
Garçom! Por favor...
Mais duas cachaças,
uma pra mim,
outra pra minha alucinação.
Deixe-me logo a garrafa,
baixe o volume da saudade
ou ao menos mude de estação.
Garçom! Por favor...
Cigarro, isqueiro e cinzeiro,
papel e caneta tinteiro
e bom bocado de inspiração.
Um envelope sem remetente,
e peça água de colônia ao barbeiro
para disfarçar o cheiro desta assombração.
Garçom! Por favor...
Uma canção de Amor
e um bocado de gelo
pra anestesiar meu coração
E traga logo a minha conta
e um prego de pendurar alma
tão maltratada pela paixão.
Garçom! Por favor...
E se eu não vier resgatá-la,
é porque não preciso mais,
use-a para limpar o chão!

⁠Coisas de Aline...ツ
Às vezes falante...Por vezes reservada.
Mas sempre, Aline!

Um dia sou Prosa.
Em outros Poesias.
Às vezes o silêncio me define.
Mas...
Sempre, Aline!
________
©Aline Hikelme
©Textos de autoria de Aline Hikelme
Direitos reservados conforme artigo (Lei 9610/98)
AlinneH / Ano 2022

⁠SONETO DE AMOR

A prosa traz meu encanto, meu amor
Assim que ela versa o versar enamora
Sussurra, delira, e se esquece da hora
E a quem lê a sensação sente o sabor

Quando sai da imaginação, a compor
A ilusão é enlevada, poética, embora
A rima ao poeta seja caixa de pandora
Ah emoção... ajudai-me a dar-lhe flor

Ternura, uma ávida trova de um amar
Que nasce da sede e brota a embalar
Cada sentimento que o afeto conhece

O que ao arrebatado assim lhe parece
Aquece, e puxa a emoção pra poetizar
Pois, é a paixão no soneto a se revelar

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04 outubro, 2021, 18’32” – Araguari, MG

Sou prosa... sou poesia

No silêncio da madrugada sou o caos e a bonança.
Sufocada por nova crise.
Dormindo feito criança.

Ora tempestade… ora calmaria.
Às vezes sou chuva tensa… chuva densa.
Às vezes sou sereno o mais sereno.
Sou alegria.
Sou melancolia,
Ora sou paz total.
Ora, guerra mortal.
Sou prosa… sou poesia.

Nesse mar de variação… vivo inteira o meu dia a dia…

Ela é toda Prosa
E rima com Bossa Nova...

Se você cita uma Cifra
Ela logo te Decifra...

Parece uma Musa
Dizem que não Anda
Só Desfila...

Na Passarela da Vida
Bondade é sua roupa Preferida...

Da Música
É a Melodia
E faz Refrão
Com o seu Sorrisão...

É Poeta
É da escrita
LOBATO
Não é Apelido...

Ela é Menina
Também Mulher
Seu nome é SCHEILLA
E é cheia de Fé...

Moça que sonha

Lá vai ela toda prosa
Vestida de flor nos cabelos
Não sei quem brilha mais
Se o girassol ou o sol que leva no peito

Lá vai ela com aquele olhar sonhador
Passando por terras ácidas Convertendo em feixe de luz

Essa moça deve ter uma orquestra de sorriso nos olhos E sementes de coragem no coração

Pois mesmo com medos bobos
Não desiste de viver não
Põe fé nos passos e sempre segue o seu coração

E ao cair a noite
Ela seduz a lua e acende um vagalume
Um pouco de emoção
Um pouco de loucura
Viver de sonhos é bom
Por que ficar no chão?
Se ela pode voar até a lua
Poema autoria #Andrea_Domingues ©

Todos os direitos autorais reservados 05/05/2020 às 23:50

Manter créditos de autoria original Andrea_Domingues

⁠Sonho em prosa...

Sonho estrada no céu...
voo no mar...
mergulho na terra...
Sonho janela sorrindo pro sol...
Suspirando pra lua...
Piscando pra estrela...

Sonho chuva derramando ternura...
Sol esquentando poesia...
Poesia cutucando coração...
Palavras envolvendo pele...
Pele arrepios delírios...
Delírios ao som chuva caindo...

Sonho noite carícia de chuva...
Chuva ternura entre mim e você...
Um rio se abre em nossas bocas...
Bocas caladas... inundadas!
Dadas a encontro nossas almas...

Almas tecendo verso e prosa...
Prosa nossa em versos vivos!

⁠NOSSA ESTÉTICA POÉTICA

o amor vai se fazendo verbos...
adjetivos, substantivos...
prosa e poesia...
carícia nos ouvidos enamorados!
a morada é sonhada paraíso...

Paraíso vislumbrado...
o céu é de parreira forrado
as uvas são candelabros alados
as poltronas são asas
uma ao lado da outra...
uma em frente à outra...
para “um dedinho de prosa e poesia”...
e o corpo, o coração e a alma inteiros
na arte e melindres do amor!
amor iluminado pela lua... estrelas...
amar à luz do céu e de parreiras...

oferendas e rendas
coração em oração!
santificados em carne,
pão... vinho...

Caminho rumo ao nosso cantinho!
Chico e Gisa no seu éden...
Amém!

A Rosa tão rosa
Que se desdobra em prosa
Da minha vontade incessante
Que busca em ti a todo instante
Como o baile das pétalas ao vento
Um prazer e ternura que são meu intento...

Esta é a minha procura
entre os espinhos de sua clausura
Com toda minha vontade de te invadir
nesse orvalhado respingo de amor pedir
O desabrochar aveludado de tão bela flor
Como é minha rosa que perfuma e dá calor.

Inserida por Virgilio_Silva

Prosa Experimental

'Engolido"

(...)

Vaga a mente numa exaustão profunda e encontra o fim do que parece ser a tolerância, trama o plano de fundo fronteirando o inalcançável, segue o longo, estreito e profundo abismo estendido infinitamente sob o céu escarlate de poeira vermelha vagando com o vento seco levando consigo resquícios de esperança qual clama por seguir adiante e atravessar o desfiladeiro dos cânions abissais que cercam e emparedam-o aos cantos escuros das sombras geladas.
Teme os estrondos longínquos que vagam pela grande vala, das nuvens carregadas em algum lugar a despejar torrentes de águas a escavar e aprofundar valetas no solo que de tão seco não enxarca. Tempestades que ameaçam dar por fim um gole sedento e refrescante engolindo para o fundo dessa garganta todo irrelevante presente, presos, entalados, incapazes de se defenderem do tumultuoso reboliço gélido e embarrado da saliva secular que torna a jorrar dos céus para terra numa faxina destrutiva reiniciadoramente confortável.
O sol lá fora ferve e frita os que vagam num passeio infernal por entre as areias escaldantes e entorpecedoras, passos que levam o ser cada vez mais perto do fim de seus curtos tempos. Enquanto lá em cima desejam o fechar do tempo e o cair da chuva, aqui em baixo só se procura sentir novamente um confortável sopro de vento refrescante. Cansado de olhar para a silhueta das bordas do precipício, vaga procurando por algo caído, folhas, galhos, flores, sementes, qualquer coisa que alimente a esperança desconfiada da remota chance de sair dali, espera que esteja descendo rumo a um lago ou riacho, pelo menos o fim dessas paredes que o engolem mais a cada hora que passa, a cada passo que hora em hora ficam mais insensíveis à caminhada fatídica infindável do vale que engole a todos e digere até mesmo a sanidade.

Restos de carniça, abandonada, esquecida, refugada pelos livres urubus a voar tão alto que daqui parecem moscas no risco de céu que se vê. O derreter paciencioso da carcaça fedorenta vai sendo banqueteada calmamente por vermes lúgubres
habitantes isolados nesta garganta que a tudo abandona
deixa morrer
se findar
acabar
porque ela
final
não possui.
Desprovida de fim serpenteia a eterna víbora por entre o quente e desértico solo, rico em ausências e espaços, imensidões vazias que põe qualquer infeliz vivente à condenação de ser devorado mais pelo tempo que pelos vermes. Vastidão isolada de qualquer presença, tendo o uivar dos ventos no alto das entranhas como companhia, o aguardar paciente das aranhas em seus emaranhados nós tricotados com exímia destreza milenar, calmamente a espera de um inseto qualquer que por azar o destino lhe finda a vida neste fim de mundo enrolado numa teia tendo suas últimas lástimas ouvidas por um vagante tão azarado quanto ele que de tando andar no fundo do abismo já alucina e ouve lastimando a pequena criatura que alimenta o predador com suas energias, lembranças, sentimentos e sonhos nunca alcançados.

(...)


Esvai-se o tempo paralelo aos precipícios
seus passos ressoam pelas paredes e correm para longe
ouve-se nada

De olhos escancarados e pernas bambas
cai
fita o esvoaçar das areias no céu crepusculoso
esfria

A noite vem chegando aos poucos
sua anunciação provoca espanto
medo

A possibilidade cada vez mais real daquela garganta vir a tornar-se
a sua tumba
seu eterno descanso
repouso
sem lamúria
de um cadáver que aos poucos derrete
calmamente
sendo apreciado com elegância pelos vermes
de outrora
e sempre

A noite
sem os ventos
traz o ensurdecedor silêncio
que até conforta
O céu
super estrelado
surge na fenda
que se estende por cima dos olhos

Como se estivesse frente a frente com um rasgo na imensidão única do espaço, numa brecha para as estrelas, distantes luzes a vagarem violentamente pelo negro esplendor entre as galáxias emaranhadas nas teias do cosmo. Leve, separa-o do chão flutuando hipnotizado pelo infinito espaço celeste conduzindo seu espírito elevado para além do cânion , para além do vale, percebe-se afastando de si seu mundo deixado para traz, pronto para abandoná-lo à própria condenação. Vai para o eterno abismo escuro onde o mundo ainda está a cair, cercado por distantes pontos de luz flutuando no vazio.
Torna-se ausência...
some
Enquanto seu corpo o perde de vista mergulhando entre os astros, deixa de sentir, morre o tato, olfato e paladar. Como uma pedra qualquer, ignora sua dureza e passa a afundar na areia levando consigo a insensibilidade fria para o passeio petrificado de quem nunca sai do lugar. A partir de agora é vaga lembrança de si, aos muitos esquecida e mil vezes fragmentada em poeira de olvidamento.

(...)

O vendaval o desperta, caído, esgotado, já havia desistido de manter-se em vida. Caído aguardava esvaziar-lhe os pulmões e findar-lhe as batidas cardíacas gritando aos ouvidos; 'estais a viver', insuportável verdade que lhe implica a inspirar novamente o escasso ar empoeirado da vala, a garganta seca que lhe engolira já não se sabe quando e porque. Deitado observa o cair dos grãos de areia e alguns galhos velhos, as nuvens correm de um lado para outro sobre a poeira enlouquecida, cada vez menos se ouve o coração que a pouco ensurdecia-o pois trovões rolam das alturas como despencar de imensas pedras.
Dá um pulo e põe-se de pé quando muito próximo o chicotear de um raio lhe arranca a alma do corpo por um instante, acerta em cheio o solo que cospe para cima estilhaços e deixa um rasto de fumaça a vagar perdidamente pela ventania. Tentando esfregar os olhos cheios de areia para entender o que acontece ao seu redor, avista um javali apavorado fugindo em sua direção, foge do temido gole titânico da garganta abissal, uma onda de água barrenta carregando pedras, galhos e tudo o que houver na caminho; carcaças, aranhas, sonhos de um inseto, esperança de um vagante perdido.
Engolido é, o caldo lhe arrasta moendo sua sanidade rumo a longa digestão em algum lugar do bucho deste gigantesco demônio do serrado, tudo some, se finda, acaba. Liquidificando e varrendo suas entranhas num gargarejo infernal o monstruoso cânion solta murmúrios assustadores de enfurecimento ouvido pelas estendidas planícies. Aridez que ansiava à meses por algumas gotas tem agora o solo lavado e levado com as enxurradas seus pedaços de qualquer coisa que por aqui para sempre se perde.
Caem ao longe raios sobre o resistente mato seco que rapidamente se torna uma roça de altas labaredas erguidas contra as nuvens, labaredas que parecem alimentarem-se da chuva, enquanto o vento lhes dão força para seguir devorando o restante do que estiver sobre o solo estalando um pipocar diabólico e apocalíptico neste agora caótico recanto abandonado.

(...)


Escorrem violentamente as turvas águas barrentas
por dentre a garganta cada vez mais larga
avermelham as terras baixas e formam um gigantesco lago sujo
como sangue coagulado
pus
pedaços
hemorrágica manifestação barrenta de um fim de mundo.

Lá no meio daquilo tudo
secretado
expelido
abortado
de sua paranoica semi-existência
o vagante perdido
se encontra.

Inserida por crislambrecht

Rascunho




Toda prosa dissertada
Nem tem trevas
Ou descobrir rimas desbotadas
Providencio versos as favas


Faço versos de manhã
Faço a tardinha
Risco palavras , rascunhos
Rabiscando feito criancinha

E assim vão-se passando
Na beirada de um remanso
Riacho sem fonte
Sem caras e inatingíveis afazeres

E tem que ser a próprio cunho
Digitar
Só mesmo quando terminar
Minha inspiração só flui em rascunho



( VIII Coletânea Século XXI )
( Prêmio Revista Poesia Agora julho/ 2018)

Inserida por Edu110175