Primavera

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Não se pode dizer para a primavera: tomara que chegue logo e dure bastante.
Pode-se apenas dizer: venha, me abençoe com sua esperança, e fique o máximo de tempo que puder.

O segredo destas flores fechadas é que exatamente no primeiro dia da primavera elas se abrem e se dão ao mundo.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Primavera se abrindo.

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Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.

Ausente andei de ti na primavera,
quando o festivo abril mais se altavia,
e em tudo um'alma juvenil pusera
que Saturno saltitava e ria.

Abre essa janela
Primavera quer entrar
Pra fazer da nossa voz uma só nota.

Que a primavera venha leve, suave e calorosa, enchendo de cor o dia-dia e iluminando os corações gelados.

Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda

Nota: Adaptação do poema "Peço Silêncio"

Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.

Cecília Meireles
Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.

Nota: Trecho do poema "Desenho"

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Nem tudo são flores
nos meses de primavera.
Voam marimbondos...

Poderão arrancar todas as flores, mas não conseguirão acabar com a primavera.

Canção de Primavera

Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,
Pois que Maio chegou,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.

Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.

Eu, Invernos e Outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arrepio…
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.

Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,
Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.

Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;
Ter sol, não tenho; e amar…
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?

José Régio
Filho do Homem

Que importa o nome
da primeira namorada?
Nuvens de primavera...

Mar de primavera -
O dia todo
Lentamente ondula.

O indivíduo que pensa contra a sociedade que dorme, eis a eterna história, e a primavera terá sempre o mesmo inverno a vencer.

Já é primavera:
Uma colina sem nome
Sob a névoa da manhã.

Saio do cinema:
a nuvem de primavera
é outra sessão.

Sobre a laje fria
diz adeus à primavera
uma rosa murcha.

Da página aberta
salta a pétala seca
e a primavera antiga.

Chuva de primavera -
Uma criança
Ensina o gato a dançar.

Deve ser o vento norte, esse excesso de luz, a primavera chegando, a lua quase cheia.