Preguiça
Eu queria tanto, mas tanto não ser desse jeito. Esse poço de inseguranças constantes, de preguiça com o mundo social e de emocional instável. Sabe, apesar dos pesares, fui uma criança tão feliz, nada disso me incomodava, quando tudo mudou? Por favor me diga, não consigo lembrar de tal momento e, ainda sim, aqui estou: tendo outro colapso nervoso. Esses momentos passam e sempre acho que sou uma pessoa melhor e que tudo vai melhorar, mas aí vem outro. E outro; e outro; e mais um ainda. É como um pires lascado, não está quebrado e não é impossivel de ser utilizado, mas o lascado ainda está ali e a tendência é só piorar.
Domingo nada qualquer
De um domingo de tédio, preguiça e sem ter o que fazer,
eu conheci você.
Um domingo que durou uns três dias
tivemos muita sintonia.
Quanta coisa aconteceu naquele dia,
e enquanto eu te olhava você sorria.
Alguma coisa me dizia
meus olhos já sabiam,
que seria naquele dia.
Nós nos acostumamos com facilidade à preguiça da mente, sobretudo porque muitas vezes essa preguiça se esconde sob a aparência de atividade: corremos de um lado para outro, fazemos cálculos e damos telefonemas. No entanto, tudo isso ocupa apenas os níveis mais toscos e elementares da mente. E oculta o que existe de essencial em nós.
"Bom dia! Hora de acordar e espantar a preguiça. Vamos atrás do que é nosso, as oportunidades acontecem quando o sol começa a sorrir."
-Aline Lopes
Durmo com tantos planos na cabeça
Acordo com uma preguiça infame de concretiza-los, sempre adiando para o próximo dia. É, isso é bem complicado.
Se você tem MESMO preguiça de desenvolver sua consciência, tem a OBRIGAÇÃO ESTRITA de contentar-se com um posto baixo e humilde na sociedade. Muitos deputados, senadores, ministros e professores universitários poderiam ganhar a vida honestamente como ascensoristas e engraxates.
Desejo a você
Vida real e fantasia
Dias corridos e tardes preguiçosas
Calmaria e tempestade
Confusão e certeza
Frio e calor
Perguntas e respostas
Fins e recomeços
Canetas, lápis, borrachas
Inspiração e aspiração
Grandeza e simplicidade
Silêncio e tumulto
Música e dança
Solidão e companhia
Papéis e desenhos
Clássicos e populares
Inusitado e cautela
Loucura e lucidez
Tensões e relaxamentos
Fragâncias e sabores
Linhas em branco e folhas preenchidas
Crime e castigo
Violão e violino
Descolorido e pinturas
Van Gogh e Gauiguin
Desejo e pudor
Shakespeare e Machado de Assis
Ilhas e cidades
Céu e terra
Dias de chuva e manhãs de sol
A sedução do Arlequim
Malandro, preguiçoso, astuto e dado a ser fanfarrão: eis a figura do Arlequim. Ele surge com sua roupa de losangos no teatro popular italiano (commedia dell’arte). Sedutor, ele tenta roubar a namorada do Pierrot, a Colombina. Vejo que meu texto começa a parecer marchinha saudosista de carnaval...
Há certa dignidade na personagem. Cézanne e Picasso usaram seu talento para representá-lo. O espanhol foi mais longe: retratou seu filho Paulo em pose cândida e roupa arlequinesca. Joan Miró criou um ambiente surrealista com o título Carnaval do Arlequim.
Ele seduz porque é esperto (mais do que inteligente), ressentido (como quase todos nós), cheio de alegria (como desejamos) e repleto de uma vivacidade que aprendemos a admirar na ficção, ainda que um pouco cansativa na vida real. Como em todas as festas, admiramos o palhaço e, nem por isso, desejamos tê-lo sempre em casa.
Toda escola tem arlequim entre alunos e professores. Todo escritório tem o grande “clown”. Há, ao menos, um tio arlequinal por família. Pense: virá a sua cabeça aquele homem ou mulher sempre divertido, apto a explorar as contradições do sistema a seu favor e, por fim, repleto de piadas maliciosas e ligeiramente canalhas. São sempre ricos em gestos de mímica, grandes contadores de causos e, a rigor, personagens permanentes. Importante: o divertido encenador de pantomimas necessita do palco compartilhado com algum Pierrot. Sem a figura triste deste último, inexiste a alegria do primeiro. Em toda cena doméstica, ocorrem diálogos de personagens polarizadas, isso faz parte da dinâmica da peça mais clássica que você vive toda semana: “almoço em família”.
O ator manhoso sabe que podem existir algumas recriminações diante de uma piada feita com a tia acima do peso ou com o tio falido. Todos queremos nos imaginar bons e incentivadores da harmonia familiar. Todos amamos encontrar um bode expiatório e o Arlequim é um especialista neles. O tipo ideal de vítima apresenta alguma fraqueza física, financeira ou intelectual. A ferida narcísica alheia é um deleite. A hemorragia em chaga de terceiros pode ser sedutora. Claro, isso não inclui você, querida leitora e estimado leitor, apenas as estranhas famílias do seu condomínio; nunca a sua.
O Arlequim é engraçado porque tem a liberdade que o mal confere a quem não sofre com as algemas do decoro. O pequeno “menino diabo” (uma chance de etimologia) atrai, sintetiza, denega, ressignifica e exorciza nossos muitos pequenos demônios. Aqui vem uma maldade extra: ele nos perdoa dos nossos males por ser, publicamente, pior do que todos nós. Na prática, ele nos autoriza a pensar mal, ironizar, fofocar e a vestir todas as carapuças passivo-agressivas porque o faz sem culpa. O Arlequim é um lugar quentinho para aninhar os ódios e dores que eu carrego, envergonhado. Funciona como uma transferência de culpa que absolve meus pecadilhos por ser um réu confesso da arte de humilhar.
Você aprendeu na infância que é feio rir dos outros quando caem e que devemos evitar falar dos defeitos alheios. A boa educação dialogou de forma complexa com nossa sedução pela dor alheia. O que explicaria o trânsito lento para contemplar um acidente, o consumo de notícias de escândalos de famosos e os risos com “videocassetadas”? Nossos pequenos monstrinhos interiores, reprimidos duramente pelos bons costumes da aparência social, podem receber ligeira alforria em casos de desgraça alheia e da presença de um “arlequim”. Os seres do mal saem, riem, alegram-se com a dor alheia, acompanham a piada e a humilhação que não seria permitida a eles pelo hospedeiro e, tranquilos, voltam a dormir na alma de cada um até a próxima chamada externa.
A astúcia do ator maldoso depende da malícia da plateia. Falamos muito do fofoqueiro, por exemplo. É rara a análise sobre a voz passiva daquele que não faz a fofoca, mas que dá espaço e ouvidos para ela. Deploramos o piadista preconceituoso, poucos deixam de rir diante do ataque frontal a outro.
Lacan falava que o limite conferia a liberdade. Sem a placa de velocidade máxima, eu não seria livre para ultrapassar ou ficar aquém do patamar máximo. Da mesma forma, ampliando a ideia, o Bem é cronicamente dependente do Mal. Sem a oposição, nunca serei alguém “do governo”. Batman e Coringa fazem parte de um jogo consentido de vozes. Bocas que fazem detração necessitam de ouvidos aptos. Criminosos dependem de cúmplices. A violência do campo de concentração necessita, ao menos, do silêncio da maioria. Pierrots, Colombinas e Arlequins constituem um triângulo amoroso, uma figura estável porque possui três ângulos visíveis. A perda de uma parte desequilibraria o todo.
Olhar a perversidade do Arlequim é um desafio. A mirada frontal e direta tem um pouco do poder paralisante de uma Medusa. Ali está quem eu abomino e, ali, estou eu, meu inimigo e meu clone, o que eu temo e aquilo que atrai meu desejo. Ser alguém “do bem” é conseguir lidar com nossos próprios demônios como única chance de mantê-los sob controle. Quando não consigo, há uma chance de eu apoiar todo Arlequim externo para diminuir o peso dos meus. O fascismo dependeu de “alemães puros”; as democracias efetivas demandam pessoas impuras, ambíguas, reais e falhas. O autoconhecimento esvazia o humor agressivo dos outros. Esta é minha esperança.
A preguiça de inúmeras pessoas faz com que elas prefiram seguir as pegadas dos outros a mobilizar as forças de seu próprio entendimento, semelhantes pessoas só se podem tornar cópias de outras e se todos fossem dessa espécie o mundo permaneceria sempre em um único e mesmo lugar.
Procrastinar é manter o "status quo" por dúvida, preguiça, medo ou pelo desejo frustrado de compensação imediata.
Uma das características do preguiçoso que salta aos olhos, é o seu hábito de transferir responsabilidades aos outros!
OS PECADOS MORTAIS
I
SOBERBA
Soberba, orgulho, vaidade,
(chamam-lhe alguns presunção)
é cheia de magestade,
vazia de coração.
Soberba tem grande pança,
cara carrancuda e torta,
Soberba, cheia de chança,
de si apenas se importa.
II
AVAREZA
Avareza tudo quer,
se tem muito mais quer ter;
Com a vista arregalada,
Avareza não vê nada;
Põe-se a ouvir, a escutar,
e só ouve blasfemar;
Arrecada noite e dia
e acha sempre a arca vazia.
III
LUXÚRIA
Luxúria desvergonhada,
em impudica atitude,
maneira a língua acerada
a difamar a Virtude.
Com rastejada paciência,
e o seu fito principal
é cativar a inocência,
conduzi-la para o mal.
Luxúria, filha infecunda
da Mentira e do Pecado,
saboreia a nódoa imunda,
ama o chão enlameado.
Pelas vielas impuras
a Luxúria se conduz,
mas sempre a horas escuras,
sempre a escapar-se da luz.
IV
IRA
Ira é atolada,
tem um focinho ferino,
grita por tudo e por nada,
fala sem jeito e sem tino.
O senso dela é um vime,
a sua agulha um punhal
afiado para o crime;
tem cadastro criminal.
V
GULA
Gula come, come, come,
mas por vício, não por fome;
de mastigar não descansa,
nem que tenha cheia a pança;
quando trata de entornar,
então bebe até tombar;
a mastigar e beber
é que ela sabe viver;
os seus dentes são os malhos
e as digestões seus trabalhos;
de seus feitos alardeia
se se senta à mesa alheia;
para comer do que gosta,
sempre a comer vence a aposta;
da Gula (cano de esgoto)
é a palavra o arroto.
VI
INVEJA
A Inveja é maldizente,
a todos chama canalha;
sua língua impenitente
é verdadeira navalha;
como nasceu torta e feia,
tem rancor à Formosura,
mas toda se pavoneia
e sobrepô-la procura;
até o próprio Talento
ela despreza e odeia,
porque todo o seu tormento
é não achar uma ideia.
VII
PREGUIÇA
Doença gera indolência
e a indolência a doença;
são da mesma parecença
e são a mesma na essência.
A preguiça não se lava,
na porcaria vegeta;
como o tempo a envergonhava,
espatifou a ampulheta;
é a viscosa minhoca,
que se arrasta e mal caminha,
para meter-se na toca
ou no papo da galinha.
Um dia, diz-lhe alma forte:
- «Preguiça, qual o teu mal?»
e ela, trágica e fatal,
responde-lhe: - «pouca sorte».
Ei, psiu! Você mesmo que me manda indireta… Quer saber um segredo? Eu vejo tudo o que posta pra mim, eu só não curto por preguiça mesmo. Mas continue assim, mandando milhares de indiretas, porque eu gosto. É sinal de que eu ainda continuo rondando em seus pensamentos.