Portão
Existia uma casa — como muitas outras — que tinha uma cerca que de nada defendia, um portão que rangia, e árvores que davam frutos que ninguém comia.
Dentro, uma sala modesta; sob um tapete estilo persa antigo, a cozinha pouco usada, disfarçada por um cesto com frutas de plástico, e uma geladeira cheia de vidros vazios.
Adentrando o corredor; um modesto banheiro; bem limpo, com uma pia de louça, que só pingava a noite.
Logo no final; um amplo quarto, com uma cama de ferro bem estendida de lençóis brancos. Acima desta; um relógio que marcava 07:46 a algum tempo. Estava também uma janela alta, do lado direito. O aposento era tão tranquilo, que nem sequer uma brisa balançava as cortinas cor azul pálido. O cheiro de linho e óleo de peroba preenchiam o ambiente.
Era presente um homem sentado em frente a uma mesinha de mogno reluzente — era magro e alto, com ombros acentuados, pouco mais de 35 anos, cabelo recém cortado, usando uma camisa alinhada, talvez a melhor que possuía. — Seu olhar fixo no nada, seus braços derramados, em sua mão esquerda, entre os ásperos dedos, o que parecia ser uma carta escrita às pressas e manchada de suor. Havia a face turva e o corpo abandonado de qualquer vida. Um raio de sol timidamente ameaçava tocar-lhe a face, mas antes, uma nuvem encobri-o — deixando o ambiente mais sombrio.
Algum animal pisoteava sobre as folhas secas do jardim, e de repente, tudo ficou no mais sepulcral silencio, então, ouviu-se um grito — o qual inflamou inteiramente o homem — foi tão potente que rasgou o silêncio e ergueu-se aos céus. Tal exclamação se fez entender tão bem, que todos que próximo estavam provaram o gosto das lembranças, do calor de abraços que não viriam mais, e, a partir do vibrar das cordas vocais e da explosão daqueles pulmões, todos tiveram a impressão de ver um sorriso que espelhava mil raios de luz se apagando e desaparecendo enquanto o eco ia enfraquecendo entre os muros da casa. Casa esta — como qualquer outra — com seus muros brancos, suas fotos empoeiradas, seus jardins úmidos, e seus moradores de coração partido.
Não se pode convencer o outro a mudar. Cada um de nós guarda um portão que somente pode ser aberto de dentro.
DIANTE DO PORTÃO, SENTIRÁS UM SILÊNCIO
( Nilo Deyson )
A velha silenciosa casa rangia.
Uma velha silenciosa solidão morava ali.
Em meio aos lírios do campo e dos crisântemos.
Áspera vida aérea de vento.
Todos os dias oscilavam as flores,
nos fundos tenebrosos daquele quintal dourado pela caridade do sol.
Há muito tempo a porta não se abria, mas rangia por dentro de saudades de ninguém.
E o lustre da luz banhava o telhado que se congelava com o frio de todo amanhecer, quando um par de pássaros vindo acasalar e fomentar ninhos ali pairava.
Se demoravam muito, escolhendo a estação e seus portos seguros.
Partiam, desconfiando daquela morada que não mais reconhecia os ventos rarefeitos de horizontes distantes.
A pobre solidão ali se contorcia toda de dor.
Dentro da velha casa rangida, resmungando do tempo.
Em meio aos dias desconhecidos, quando os quintais se emudeciam sob o passar das sombras no inverno, dois pássaros pequenos se acomodaram dentro de uma das calhas, e depois expulsos pelos repetentes de uma chuva que desatou todas as suas flores e choros nas brincadeiras e alambiques da enxurrada.
Nunca mais foram vistos.
Nem entrevistos entre as folhagens que cercavam a casa e compunham quadro morto com a copa de uma árvore baixa que não mais gemia quando do alvorecer do vento em seus galhos frágeis, minguados.
Depois desse dia, a casa perdurou muitos meses até se recuperar do profundo sono que a chuva lhe causara, lhe contara um grande sonho.
A pobre solidão ali pensava.
Dentro da velha casa tingida de breu.
Comungando em sua igreja sem alma.
Nunca rezava, apenas ouvia os afagos da ventania que lhe sombrava a vida.
E os quintais se emudeciam com o passar da mão do sol pelo chão ainda noturno sob a árvore, de tão sombra .
Que o dia se estendia no mar de nuvens do céu, clarão de flor entreaberta.
Era verão.
E a casa antiga, onde adormecia alguém mais antigo do que ela, a infinita solidão, se condoia toda, com dor nas juntas.
E dois pássaros um dia pressagearam em seus telhados impingidos de luz.
A casa olhou para o solo e desmoronou.
Os pássaros se foram.
Era o fim do tempo.
- Nilo Deyson Monteiro Pessanha
Eu vou logo ali....
Se vais sentir saudades de mim, não me deixes, mantenha o portão fechado pra eu não sair e se sair, abras pra que eu entre...
PORTAL DO TEMPO
Na beira da estrada
A cancela fechada
O portão na entrada
Marcando o tempo
Marcando o chão
Era bem grande
O grande portão.
De um lado passava o tempo
Do outro o tempo voltava
O grande portão
Marcava o tempo
Marcava o chão
E a nossa parada.
Era meio sombrio
Ás vezes frio
Misterioso no meio da estrada
Marcando a jornada
O vento soprando
A chuva molhando a sua fachada.
Misterioso portão
Controlava o tempo
Cortava o vento
Voltava o tempo
Brincando com a nossa imaginação
Acabou o grande portão.
O progresso chegou
A tecnologia avançou
O portão destruído
O tempo perdido
Num só se tornou.
O tempo mudado
Ficou do outro lado
Fechando a porta do mundo
encantado.
Olá.
Falo do deserto.
Contemplo o gigantesco portão. Atravessei este portão e aqui estou...
Olho minhas roupas empoeiradas, gastas, suadas...
Meus braços estão machucados por causa do sol escaldante...
O frio da noite me cansa.
Olho com olhos da dor. E da saudade.
Em momentos difíceis me pergunto o porquê estou aqui.
Fico olhando para o portão que nunca abre. Nunca. Dia e noite olho para ter uma oportunidade que não vem.
Sorrio com lagrimas nos olhos.
Tenho um único desejo – ver você. Dizer oi. Olhar em seus olhos e em silencio dizer: eu te amo.
Eu sei que ficarei envergonhado com a aparência de sofrimento... Mas sou eu. É a prova de não existir a desistência.
Viver sem você é estar no deserto todos os dias. Todas as noites.
A verdade é que estou cansado. Enfraquecido. Às vezes esqueço meu nome. Porque estou aqui. Fico desorientado e não sei aonde ir.
Então olho para o portão e me lembro de tudo. Eu me lembro de você. O seu sorriso. Seus olhos. Quando toquei a primeira vez em suas mãos...
Agora sinto as forças voltarem ao meu corpo, a minha mente.
Sei o motivo de estar aqui.
Estou esperando... Você enxergar o imenso amor que tenho por você.
Esperando o portão se abrir e ver você erguer os braços para me abraçar, beijar
Esperando você olhar para meus olhos e dizer que me ama...
Mas está escurecendo... O frio é imenso. Tenho medo de não sobreviver...
Olho para o deserto e tenho dificuldade em saber quem sou.
Quem sou eu sem você?
ROBSON BARBOSA
Portão sem tranca...
Qualquer um entra...
No fundo do copo...
A verdade ausenta...
O que é feio...
Torna-se bonito...
Vistas embaçadas...
Nada faz sentido...
Meus Deus o que faço agora?
O tempo urge...
As horas dançam...
A noite é fria...
Pesa a balança...
Jogo de olhar não é suficiente...
Tudo bem...
Está mau vestido...
Meu coração arde...
Ao sonhar já despido...
Tem a cor de meu pecado...
Será o cheiro bom?
O gosto imaginado?
Madrugada começa...
Não imagina...
O que tenho arquitetado...
Ah esses amigos...
Por que não anda sozinho?
Tudo seria mais fácil...
Pedindo a benção do destino...
Paschoal Nogueira
Paschoal Nogueira
"Ô, mulher tão linda
Lá do meu sertão
Que me avistava
Lá sempre do seu portão
Com aquele sorriso
Lindo e encantador
Que pouco a pouco
Me conquistou."
E da vez que eu me perdi no caminho,
Só consigo lembrar de tu me sorrindo.
Sentada no portão da tua casa,
Lembro do cd de coco,
Do café caboclo...
Da vontade absurda de sentir seu gosto.
Feito fumaça no quarto fechado, tu tomou conta dos quatros cantos.
Acende a fumaça , queima a brasa,
Sou teu corpo, tua fumaça
E os cigarros foram tantos.
Ali pensando, foram tantos.
Sou teu quarto e sua fumaça.
Cão madraço,
No portão ladra,
Rugido de leão,
Põe em debandada o cansaço,
Avança em quem passa,
Só quer garantir a ração,
A noite cai e junto com ela, a luz
O prenúncio da morte permeia,
Quem bate ao portão do abismo?
Quem nos trás essa mensagem de desgraça?
É o arauto da dor
Que chega ao crepuscular
A escuridão é seu manto
O vento gélido sul, o seu guia
As batidas dos corações soam como sinos
Olhares aterrorizados
O silêncio ensurdecedor
As coisas são o que são e não há mais jeito
Eterno é o nosso lamento
Eterno é o nosso arrependimento
Lembra aquele dia
Em frente ao seu portão?
Eu me lembro que chovia,
Lembro que você sorria
E segurava a minha mão.
Eu lembro dos seus olhos
Lembro da emoção
Lembro do seu coração
Junto ao meu coração
Lembra aquele dia?
Lembra da situação?
Lembra que o amor
Nos molhava o coração?
Eu me lembro.
A capina próxima ao portão há muito fora esquecida, então, a tiririca, a braquiária, o carrapichinho e a “Maria fecha a porta” se entremeavam em matizes rebuscados, formando um tipo de lacre verde, dificultando a abertura daquela passagem. ( A perfumista da noite)
Tocou com firmeza no portão que cedeu na dobradiça esquerda próxima à mangueira centenária onde se viam mangueiras do tipo “espada” nos dezembros, mas que nunca eram co- lhidas, devido à imensa altura em que os frutos aparentavam ser o maior objeto de desejo do momento. ( A perfumista da noite)
Eu cheguei em frente ao portão, meu cachorro me sorriu latindo, minhas malas coloquei no chão, eu voltei. Tudo estava igual como era antes, quase nada se modificou, acho que só eu mesmo mudei, eu voltei. (...)
Fui abrindo a porta devagar, mas deixei a luz entrar primeiro, todo meu passado iluminou, e entrei. Meu retrato ainda na parede, meio amarelado pelo tempo (...) eu voltei.
O melhor amigo do Serralheiro é o cão mijando no portão. Vai ter serviço de montão!
Att. Cãoferruge
"Lá onde o Sol nascia
Onde a pipa estancava
Portão de madeira na segunda casa
Lazer sem piscina
House improvisada
Crescia o moleque no Sol da quebrada
Que acreditou no que era medo
Matou a inveja e seus segredos
Percebeu o gênio do espelho que realiza os seus desejos"
Às vezes pela confiança se perde a esperança. A certeza de que é pelo Perdão que abre — se o portão do paraíso.