Porque sou assim
# 288
Não sou Ninguém! Quem és?
És tu - Ninguém - também?
Há, pois, um par de nós?
Não fales! Não vão eles - contar!
Que horror - o ser - Alguém!
Que vulgar - como Rã -
Passar o Junho todo - a anunciar o nome
A charco de pasmar!
As melhores coisas e as melhores pessoas nascem da diferença. Sou contra uma sociedade homogênea porque eu quero que a nata se eleve.
Sou
Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada.
Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez.
Sou novo é verdade; mas, para os espíritos bem nascidos. O valor não fica à espera da soma dos anos vividos.
Sou um homem simples. Tudo que eu quero é sono suficiente para dois homens normais, uísque suficiente para três, e mulheres suficientes para quatro.
Sou a favor do costume de se beijar as mãos de uma mulher quando somos apresentados. Afinal, é preciso começar por algum lado.
Às vezes, quando considero as tremendas consequências advindas das pequenas coisas ... sou tentado a pensar ... não existem pequenas coisas.
Mas que espécie vens tu a ser?, perguntou Leo.
Sou um palhaço, respondi eu, e colecciono instantes. Adeus.
Eu sou um homem velho e conheci um grande número de preocupações — mas a maioria delas nunca aconteceu.