Porque não
Diga o que precisa dizer, deixe claro, faça-o muito bem, porque não é tarde demais, e não tem erro, quando você brilha...
Quem me diz o que não é pra dizer é porque não queria dizer nada! E acaba estragando tudo... Acaba me estragando. Estou aos pedaços? Não! Estou invisível.
Você tem um jeitinho de falar bonito que fica ainda mais bonito porque não o desperdiça debatendo por que os homens são tão ruins em se comprometer. Você quer saber de outras coisas, como aqueles livros que ninguém mais tem coragem de remover o pó, na biblioteca - aliás, estou juntando forças pra perguntar, hora dessas: "Os Sofrimentos do Jovem Werther" é realmente bom?
(Você, você, você, você, você)
Sou fiel a mim, porque não o sei ser. Com mais ninguém sou tudo o que vivi, mas sem ti não sou ninguém.
Eu me repito porque não sei ser outra coisa, eu me desgasto porque só sei ser muito. Não sei diversificar e não sei falar de outra forma, só conheço meu próprio modo. E, se me perguntar, não, não estou insatisfeita.
Acho bonito quem tem orgulho de ser gente. Porque não é nada fácil, eu sei. Por isso continuo princesa. Continuo guerreira. Continuo na lua. Continuo na luta. No meio do caos que anda o mundo, aceitar é ser feliz.
Eu sei que você quer algumas respostas. Mas qual é a resposta certa? Porque não há resposta certa. Há apenas vidas, apenas vidas.
Sempre me sinto feliz, sabes por quê? Porque não espero nada de ninguém. Esperar sempre dói. Os problemas não são eternos, sempre têm solução. O único que não se resolve é a morte. A vida é curta, por isso, ame-a!
Nota: Trecho de um discurso adulterado de Bryan Dyson, ex-presidente da Coca-Cola. No texto original, proferido na Georgia Tech, em Setembro de 1991, não existe qualquer citação (de autoria não confirmada) de Shakespeare.
...MaisMinhas crises existenciais
Só não são o movimento retilíneo uniforme
Porque não são constantes.
Ora é acelerado,
Ora retardado,
E no fim é inercial,
Termina no mesmo lugar de origem.
As minhas, mesmo que pequenas, ações
Recebem o dobro de reações
O que é físicamente impossível
Já que Newton disse que toda ação gera um reação igual.
Mas quem disse que a humanidade respeita às leis exatas?
Não se engane, não gosto de física
Mas tenho mania de transformar coisas.
Como algo que sei o mínimo,
Em algo que, modéstia parte, domino.
Como quando transformo medos em versos,
Mesmo que imersos em hipóteses.
Amores em estrofes,
Mesmo que fora da métrica.
Paixões em poesias,
Mesmo que bem distantes dos sonetos.
Dores em melodias,
Mesmo que descompasadas, sem rimas.
Tenho dessas manias,
De mudar o jeito de tudo.
Tristezas em alegrias,
Raso em profundo.
As semanas em dias,
As horas em minutos.
Explicar em um pedaço de papel,
O que ninguém no mundo entende,
Ninguém além de mim.
Gosto dos algarismos, porque não são de meias medidas nem de metáforas. Eles dizem as coisas pelo seu nome, às vezes um nome feio, mas não havendo outro, não o escolhem. São sinceros, francos, ingênuos. As letras fizeram-se para frases; o algarismo não tem frases, nem retórica.
Assim, por exemplo, um homem, o leitor ou eu, querendo falar do nosso país, dirá:
– Quando uma Constituição livre pôs nas mãos de um povo o seu destino, força é que este povo caminhe para o futuro com as bandeiras do progresso desfraldadas. A soberania nacional reside nas Câmaras; as Câmaras são a representação nacional. A opinião pública deste país é o magistrado último, o supremo tribunal dos homens e das coisas. Peço à nação que decida entre mim e o Sr. Fidélis Teles de Meireles Queles; ela possui nas mãos o direito superior a todos os direitos.
A isto responderá o algarismo com a maior simplicidade:
– A nação não sabe ler. Há só 30% dos indivíduos residentes neste país que podem ler; desses uns 9% não lêem letra de mão. 70% jazem em profunda ignorância. Não saber ler é ignorar o Sr. Meireles Queles; é não saber o que ele vale, o que ele pensa, o que ele quer; nem se realmente pode querer ou pensar. 70% dos cidadãos votam do mesmo modo que respiram: sem saber porque nem o quê. Votam como vão à festa da Penha, — por divertimento. A Constituição é para eles uma coisa inteiramente desconhecida. Estão prontos para tudo: uma revolução ou um golpe de Estado.
Replico eu:
– Mas, Sr. Algarismo, creio que as instituições...
– As instituições existem, mas por e para 30% dos cidadãos. Proponho uma reforma no estilo político. Não se deve dizer: "consultar a nação, representantes da nação, os poderes da nação"; mas — "consultar os 30%, representantes dos 30%, poderes dos 30%". A opinião pública é uma metáfora sem base; há só a opinião dos 30%. Um deputado que disser na Câmara: "Sr. Presidente, falo deste modo porque os 30% nos ouvem..." dirá uma coisa extremamente sensata.
E eu não sei que se possa dizer ao algarismo, se ele falar desse modo, porque nós não temos base segura para os nossos discursos e ele tem o recenseamento.
Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la?
Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida.
As palavras é que me impedem de dizer a verdade.
Três conselhos para você:
1º: ore: porque não existe nada mais poderoso do que falar com Deus;
2º: creia: porque não existe nada mais forte do que a fé;
3º: ame: porque não existe nada maior do que o amor.
Afinal de contas, se existe um paraíso, nós nos encontraremos de novo, porque não existe um paraíso sem você.
(Ira Levinson - Uma Longa Jornada)