Poetas Portugueses

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Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.
O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.


Fernando Pessoa, 29-3-1931

Em rigor a modéstia é virtude comum aos dois sexos e o pudor, uma espécie mais delicada que é privativa da mulher

Despertam-me um desejo absurdo de sofrer

Leste os meus versos? Leste? E adivinhaste
O encanto supremo que os ditou?
Acaso, quando os leste, imaginaste
Que era o teu esse olhar que os inspirou?

Adivinhaste? Eu não posso acreditar
Que adivinhasses, vês? E até, sorrindo.
Tu disseste para ti: “Por um olhar
Somente, embora fosse assim tão lindo,

Ficar amando um homem!… Que loucura!”
- Pois foi o teu olhar; a noite escura,
- (Eu só a ti digo, e muito a medo…)

Que inspirou esses versos! Teu olhar
Que eu trago dentro d’alma a soluçar!
………………………………………………….
Aí não descubras nunca o meu segredo!

Florbela Espanca
O Livro D'Ele

Fábula da Fábula

Era uma vez
Uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda a gente
Inteligente,
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos,
À base duns insectos,
De que não vale a pena fixar o nome.
A fábula garantia
Que quem cantava morria
De fome.
E, realmente...
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.

Miguel Torga
TORGA, M., Antologia Poética

Vivemos em um mundo onde se têm medo de baleias e, teus risos são, sementeiras das flores, pra manter liros informes.

Se pudesse adiantar o tempo não revelaria seus esconderijos.

O tempo é real e se não cuidar uns em ti simplesmente evaporam.

Ais que saudade de minhas simplificadas é etéreas confissões.

No silêncio ensinei as harmônicas dos tempos passados, muitos ouviram e não ensinaram, e no faz de contas brincavam, então fazendo tudo, graça e compaixão do tempo, pela coragem do grito que a ninguém fere.

Em meus sonhos você é uma realização e nela somos feitos um pro outro.

Tenho muitas coisas boas pra compartilhar e certamente nem precisas contar, é que coisas boas, também aqui, sempre chegam sem avistar e avisar.

Sua oração brota de seu ser pra regenerar e formar os tecidos do bem viver.

Poucos sabem reger a gratidão pra sustentável paz, isso não é lamentável, pode ser notá-vel pra muitos, assumir-se é necessário.

Boa noite, tranquilo amanhecer, pra quando o dia nascer, bons serviços prá existência enaltecer.

E à noite chega, na paz das certezas, que o amor em novos dias, pela natureza, pra sempre floresça.

Não mate nossa saudade com encontros em sonhos não encarnados, aguardando com sabedoria o tempo dos hibernardos.

⁠Arrependimento nasce onde não se precisa o perdão.

⁠Nunca entendi o que graça tem a ver com dinheiro.

⁠Com a perfeição do passado você é um elegante vencedor.