Poetas Portugueses

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O homem é um composto de grandeza e pequenez, uma dualidade de gigante e de pigmeu.

Toda a noite, toda a noite,
Toda a noite sem pensar...
Toda a noite sem dormir
E sem tudo isso acabar.

Fernando Pessoa
Quadras ao gosto popular. Lisboa: Ática, 1965.

Um livro onde qualquer um escreve torna-se um livro sem credibilidade

Por que é que me gela
Meu próprio pensar
Em sonhar amar?...

Fernando Pessoa
Poesia autónima. São Paulo: Global, 2022.

Em certos os casos, quanto mais nobre o gênio, menos nobre o destino.
Um pequeno gênio ganha fama,
um grande gênio ganha descrédito,
um gênio ainda maior ganha desprezo;
um deus ganha crucificação.

Ó céu azul - o mesmo da minha infância -
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
...
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Há horas na vida em que a mais leve contrariedade toma as proporções de uma catástrofe.

D. SEBASTIÃO, Rei de Portugal...

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.

Miguel Torga
TORGA, M., Odes, 1946

Estou num dia em que me pesa, como uma entrada no cárcere, a monotonia de tudo. (...)
O mundo é coisas destacadas e arestas diferentes; mas, se somos míopes, é uma névoa insuficiente e contínua.
O meu desejo é fugir. (...) Desejo partir (...) para o lugar qualquer (...) que tenha em si o não ser este lugar. Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias.

... Eu quero amar, amar, amar sò por amar alguèm...

Beijos d'amor que vão de boca em boca,
Como pobres que vão de porta em porta!

NA RIBEIRA DESSE RIO

Na ribeira desse rio
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio
Nada me impede, me impele,
Me dá calor ou dá frio
Vou vendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada
Vejo os rastros que ele traz
Numa seqüência arrastada
Do que ficou para trás
Vou vendo e vou meditando
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando
Vou na ribeira do rio
Que está aqui ou ali
E do seu curso me fio
Porque se o vi ou não vi
Ele passa e eu confio
Ele passa e eu confio
Ele passa e eu confio

Faz bem só pensar em ver...

Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes

Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito?

Fernando Pessoa
PESSOA, F. Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Lisboa: Ática, 1966.

"A fé é o instinto da ação."

Quando temos todos os sonhos do mundo é porque há certeza que sonhar é possível ao mesmo tempo de ter saúde.

Sentir tudo de todas as maneiras, viver tudo de todos os lados, ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo.

Fernando Pessoa
Poesia Completa de Álvaro de Campos

VERSOS

Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz. cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma.

Versos!… Sei lá! Um verso é teu olhar,
Um verso é teu sorriso e os de Dante
Eram o seu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!

Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez…

Versos! Versos! Sei lá o que são versos..
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês!…