Poetas Brasileiros

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Eu sou mansa mas minha função de viver é feroz.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Veja Você

Veja você, eu que tanto cuidei minha paz
Tenho o peito doendo, sangrando de amor
Por demais
Agora eu sei a extensão da loucura que fiz
Eu que acordo cantando
Sem medo de ser infeliz

Quem te viu e quem te vê, hein rapaz?
Você tinha era manias demais
Mas aí o amor chegou
Desabou a sua paz
Despediu seu desamor pra nunca mais
Algum dia você vai compreender
A extensão de todo bem que eu lhe fiz
E você há de dizer: Eu agora sou feliz
Quem te viu e quem te vê, hein rapaz?

Vinicius de Moraes
10 Anos de Toquinho e Vinicius

Nota: Música composta por Vinicius de Moraes e Toquinho

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Faz de conta que tudo que tinha não era de faz de conta.

Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Por que será que a gente vive chorando os amigos mortos e não aguenta os que continuam vivos?

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Recuso-me a ficar triste. Quem não tiver medo de ficar alegre e experimentar uma só vez sequer a alegria doida e profunda terá o melhor de nossa verdade. Eu estou – apesar de tudo oh apesar de tudo – estou sendo alegre neste instante-já que passa se eu não fixá-lo com palavras.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Para falar a verdade, nunca estive tão bem. Por quê? Não quero saber por quê.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Refúgio.

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Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está dando a mão

Clarice Lispector
A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Talvez a pergunta vazia fosse apenas para que um dia alguém não viesse a dizer que ela nem ao menos havia perguntado. Por falta de quem lhe respondesse ela mesma parecia se ter respondido: é assim porque é assim.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Oh Deus, que faço desta felicidade ao meu redor que é eterna, eterna, eterna, e que passará daqui a um instante porque o corpo só nos ensina a ser mortal?

Clarice Lispector
A maçã no escuro. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Canção

Nunca eu tivera querido
dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca,
e depois no teu ouvido.
Levou somente palavra,
deixou ficar o sentido.

O sentido está guardado
no rosto com que te miro,
neste perdido suspiro
que te segue alucinado,
no meu sorriso suspenso
como um beijo malogrado.

Nunca ninguém viu ninguém
que o amor pusesse tão triste.
Essa tristeza não viste,
e eu sei que ela se vê bem...
Só se aquele mesmo vento
fechou os teus olhos também...

Cecília Meireles
MEIRELES, C. Poesia completa: Volume 1. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.

Amar, nunca me coube
Mas sempre transbordou
O rio de lembranças
Que um dia me afogou

E nesta correnteza
Fiquei a navegar
Embora, com certeza,
Não possa me salvar

Amar nunca me trouxe
Completo esquecimento
Mas antes me somou
Ao antigo tormento

E assim, cada vez mais,
Me prendo neste nó
E cada grito meu
Parece ser maior

Cuidado por onde andas, que é sobre os meus sonhos que caminhas.

Carlos Drummond de Andrade

Nota: Autoria não confirmada. Acredita-se que pertença ao poeta W.B. Yeats: "Espalhei meus sonhos aos seus pés. Caminhe devagar, pois você estará pisando neles”.

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O que mata um jardim não é mesmo
alguma ausência
nem o abandono...
O que mata um jardim é esse olhar vazio
de quem por eles passa indiferente.

Mario Quintana
Quintana de bolso. Porto Alegre: L&PM, 1997.

Nota: Trecho do poema Jardim interior.

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Não se pode andar nu nem de corpo nem de espírito.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Carlos Drummond de Andrade

Nota: Trecho adaptado de poema pertencente ao livro "Amar se aprende amando", de Carlos Drummond de Andrade.

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O que obviamente não presta sempre me interessou muito.

Clarice Lispector
A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964.

Madrigal Melancólico

O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai

O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida!

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M. Antologia, Relógio de Água

Confesso que até hoje só conheci dois sinônimos perfeitos: "nunca" e "sempre".

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Realmente o tom geral devia estar pessimista. O pessimismo passou, mas o bom propósito não: farei o possível para não amar demais as pessoas, sobretudo por causa das pessoas. Às vezes o amor que se dá pesa, quase como responsabilidade na pessoa que o recebe. Eu tenho essa tendência geral para exagerar, e resolvi tentar não exigir dos outros senão o mínimo. É uma forma de paz... Também é bom porque em geral se pode ajudar muito mais as pessoas quando não se está cega pelo amor

Clarice Lispector
Minhas queridas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

Nota: Trecho de carta para Elisa Lispector, escrita em 19 outubro de 1948.

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Vento

Pastor das nuvens.