Poetas Brasileiros
Além do mais, o homem que sou, tenta em vão inquieto acompanhar os meandros bizantinos de uma mulher, com desvãos e cantos e ângulos e carne fresca – e de repente espontânea como uma flor.
Eu sou uma mulher objeto e minha aura é vermelha vibrante e competente.
E ali estava a mulher, de pé, o mais ininteligível dos seres vivos.
A mulher não está sabendo: mas está cumprindo uma coragem.
É raro encontrar uma mulher que não rompeu com a linhagem de mulheres através do tempo.
Não queria nada senão aquilo mesmo que lhe acontecia: ser uma mulher no escuro ao lado de um homem que dormia.
Sem estar agora sendo irônica, sou uma mulher de espírito.
Uma mulher, na hora do amor por um homem, essa mulher está vivendo a sua própria espécie.
Ora essa, sou uma mulher simples e um pouquinho sofisticada. Misto de camponesa e de estrela no céu.
Rainha egípcia? Não, sou eu, eu toda ornada como as mulheres bíblicas.
Bonita? Nem um pouco, mas mulher.
Mulher jamais corta os cabelos, porque nos cabelos longos é que está a sua feminilidade.
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
Escrever, e falo de escrever de verdade, é completamente mágico.
As palavras vêm de lugares tão distantes dentro de mim que parecem ter sido pensadas por desconhecidos, e não por mim mesma.
Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova
— O gesso muito branco, as linhas muito puras —
Mal sugeria imagem de vida
(Embora a figura chorasse).
Há muitos anos tenho-a comigo.
O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de pátina amarelo-suja.
Os meus olhos, de tanto a olharem,
Impregnaram-na da minha humanidade irônica de tísico.
Um dia mão estúpida
Inadvertidamente a derrubou e partiu.
Então ajoelhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos, recompus a figurinha que chorava.
E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo mordente da pátina...
Hoje este gessozinho comercial
É tocante e vive, e me fez agora refletir
Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.
Riso
Às vezes nem precisa de motivo
É a tal felicidade que não cabe no peito e transborda
De certo sentir que "de repente do pranto, fez-se o riso"
O descontrole físico que não passa despercebido, cada passo, gesto, berro, é belo aos olhos de quem pode enxergar
O contentamento de ser o que se é, sem nem perceber
A risibilidade volátil existente na linha tênue que é viver
Implacável e maçante para quem não consegue entender que nem todo dia é dia de prantear.
Sou terrivelmente, essencialmente mortal.