Poetas Brasileiros
Incontentado
Paixão sem grita, amor sem agonia,
Que não oprime nem magoa o peito,
Que nada mais do que possui queria,
E com tão pouco vive satisfeito...
Amor, que os exageros repudia,
Misturado de estima e de respeito,
E, tirando das mágoas alegria,
Fica farto, ficando sem proveito...
Viva sempre a paixão que me consome,
Sem uma queixa, sem um só lamento!
Arda sempre este amor que desanimas!
E eu tenha sempre, ao murmurar teu nome,
O coração, malgrado o sofrimento,
Como um rosal desabrochado em rimas.
RECEITA DE MULHER
(Vinícius de Moraes)
Para ser uma grande mulher..!!!
É preciso que haja qualquer coisa de flor......
Que seja bela.....
Que seja sem ser.....
Que se reflita e desabroche no olhar dos homens.....
Que seja leve como um resto de nuvem, mas que seja uma nuvem.....
Que dê sempre a impressão de que se se fechar os olhos ao abri-los não mais estará presente.....
Que surja, não venha; parta, não vá.....
Que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente....
E que em sua incalculável imperfeição constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação........
Amor... pois de amor andamos todos precisados! Em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para frente...
UM NOVO DIA
Um novo dia vem nascendo
Um novo sol já vai raiar
Parece a vida, rompendo em luz
E que nos convida a amar
Oh, meu irmão, não desespera
Espera a luz acontecer
Para que a vida renasça em paz
Nesse novo amanhecer
Surgem as abelhas em zoeira a sugar o mel das flores gentis
Param as ovelhas pelo monte, a recordar os horizontes felizes
Vindo à distância cantam galos em longínquos intervalos de sons
Pombos revoando, vão uivando, vão passando nestes céus tão azuis
Ah, quanta cor e luz!
E o movimento vai crescendo
Vai aumentando em amplidão
Parece a vida pulsar no ar
O bater de um coração
Sobem pregões vindos da praça
Começa o povo a aparecer
Quem quer comprar neste novo dia
A alegria de viver?
By: Ana Claudia Lima
Não sou uma mãe politicamente correta
Tem dias que eu me esqueço de dar o Adtil
E quando eles resolvem ficar doentes juntos, às vezes eu confundo os remédios, as dosagens, os horários. È verdade, já dei remédio trocado. Pior! Teve vezes que nem trocado foi, não dei mesmo, esqueci.
Tem dias que os deixo dormir sem escovar os dentes e sem tomar banho. Quando me dou conta, já foi.
Tem outros que o almoço é o pastel da feira com caldo de cana e o jantar é a pizza. Tudo isso no mesmo dia.
Tem dias que eu cedo ao miojo.
E tem outros que eu escondo o final da barra de chocolate para comer escondida, sozinha.
Tem dias também que eu chantageio, barganho, negocio o feijão do prato com um doce de sobremesa.
E é à frente da TV que às vezes eles comem
Tem dias que eu faço suco de pozinho só para não ter o trabalho de descascar a fruta e AINDA ter que lavar o liquidificador, tudo por preguiça.
Quase todas as noites eles dormem na minha cama e não, eu não os devolvo para as devidas camas. Ou porque estou muito cansada pra fazer isso, ou porque eu quero dormir abraçada com eles.
Tem dias que eu peço para eles pararem de gritar, gritando.
E, desculpa Xuxa, tem dias que eu dou umas palmadas no bumbum deles, só para os chamarem a razão e deixar claro que ultrapassaram os limites.
Mas se quer saber Xuxa, tem dias que eu coloco o seu DVD para garantir o mínimo da manutenção da minha dignidade. Você se ocupa em hipnotiza-los com aquelas baboseiras e assim, eu consigo , pelo menos, escovar os dentes.
Tem dias que eu não sou justa. Faço mais pra um do que pra outro. Dou mais atenção pra um do que pra outro. Exijo mais de um do que do outro. Cedo as birras e choros de um do que do outro.
Tem dias que o que eu mais queria era ser repórter correspondente do Japão e só falar com eles pelo Skype. Ou que eles fizessem um passeio de volta ao mundo no balão e voltar daqui uns 10 anos.
Teve dias que eu me esqueci de ler a agenda da escola, de fazer a lição de casa, de mandar o lanche, a lancheira e até errar o dia de volta as aulas eu já errei.
Já assisti à novela das oito na companhia deles.
Já soltei uns belos palavrões no trânsito com eles no carro.
E quando termina esses dias, as vezes eu me angustio, me frustro e me entristeço, afinal, que tipo de mãe eu sou?
E isso acontece porque ninguém me ensinou, não li em lugar nenhum, não vi em nenhum documentário que mãe também pode ter um deslize de preguiça, de descuido, de praticidade.
Ninguém me disse que às vezes isso tudo pesa, que a gente enche o saco de tudo, que a gente se enche deles, só as vezes.
Não me preparei pra isso. Pensei que fosse pecado.
Em todos os sites que me cadastrei quando engravidei, em todas as edições da Crescer, da Pais & Filhos que li , em todos os blogs e grupos de maternidade que naveguei, vi que não bastava ter parto normal, o que vale mesmo é o natural e humanizado e olha que eu tive 3 partos normais, mas mesmo assim não foi bastante. Me disseram que tinha que amamentar EXCLUSIVAMENTE até o 6 º mês, que só podia oferecer os produtos orgânicos, que não podia colocar açúcar na comida doce e nem sal na comida salgada deles, que eles só podiam escutar o Palavra Cantada e que tinham que aprender a dormir sozinho aos 6 meses.
Ninguém me disse que ás vezes, só por alguns instantes, que nada disso faz sentido, ou até pode continuar fazendo, mas tem dias que simplesmente a gente tem o direito de não querer faze-lo.
Temos esse direito da transgressão, isso ninguém nos avisou.
Eu aviso: nós podemos.
E com isso eu devo admitir que sou Reú Confesso e por isso eu peço, não Tim Maia eu não peço pra voltar, eu só peço para me absolverem.
#eumeabsolvo
“Da perfeição da Vida: Por que prender a vida em conceitos e normas? O Belo e o Feio…O Bom e o Mau…Dor e Prazer. Tudo, afinal, são formas e não degraus do Ser!
O cavaleiro pobre
(Pouchkine)
Ninguém soube quem era o Cavaleiro Pobre,
Que viveu solitário, e morreu sem falar:
Era simples e sóbrio, era valente e nobre,
E pálido como o luar.
Antes de se entregar às fadigas da guerra,
Dizem que um dia viu qualquer cousa do céu:
E achou tudo vazio... e pareceu-lhe a terra
Um vasto e inútil mausoléu.
Desde então, uma atroz devoradora chama
Calcinou-lhe o desejo, e o reduziu a pó.
E nunca mais o Pobre olhou uma só dama,
- Nem uma só! nem uma só!
Conservou, desde então, a viseira abaixada:
E, fiel à Visão, e ao seu amor fiel,
Trazia uma inscrição de três letras, gravada
A fogo e sangue no broquel.
Foi aos prélios da Fé. Na Palestina, quando,
No ardor do seu guerreiro e piedoso mister,
Cada filho da Cruz se batia, invocando
Um nome caro de mulher,
Ela rouco, brandindo o pique no ar, clamava:
“Lumen coeli Regina!” e, ao clamor dessa voz,
Nas hostes dos incréus como uma tromba entrava,
Irresistível e feroz.
Mil vezes sem morrer viu a morte de perto,
E negou-lhe o destino outra vida melhor:
Foi viver no deserto... E era imenso o deserto!
Mas o seu Sonho era maior!
E um dia, a se estorcer, aos saltos, desgrenhado,
Louco, velho, feroz, - naquela solidão
Morreu: - mudo, rilhando os dentes, devorado
Pelo seu próprio coração.
Medo de Amar
Petrópolis
O céu está parado, não conta nenhum segredo
A estrada está parada, não leva a nenhum lugar
A areia do tempo escorre de entre meus dedos
Ai que medo de amar!
O sol põe em relevo todas as coisas que não pensam
Entre elas e eu, que imenso abismo secular...
As pessoas passam, não ouvem os gritos do meu silêncio
Ai que medo de amar!
Uma mulher me olha, em seu olhar há tanto enlevo
Tanta promessa de amor, tanto carinho para dar
Eu me ponho a soluçar por dentro, meu rosto está seco
Ai que medo de amar!
Dão-me uma rosa, aspiro fundo em seu recesso
E parto a cantar canções, sou um patético jogral
Mas viver me dói tanto! e eu hesito, estremeço...
Ai que medo de amar!
E assim me encontro: entro em crepúsculo, entardeço
Sou como a última sombra se estendendo sobre o mar
Ah, amor, meu tormento!... como por ti padeço...
Ai que medo de amar!
"E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim..."
" Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
Tão vazia, mas tão bela
Tão certa , mas tão perdida!"
"Muitas coisas se dizem, que não deviam ser ditas; muitas outras se calam, que não mereciam calar-se.
As palavras são as mesmas, em um e outro caso; só a conveniência delas, na circunstância, é que varia.
E na variação, fica o dito por não dito.
A menos que o convicto (ou o teimoso) diga: “Digo e repito”.
(Carlos Drummond de Andrade, no livro “Os dias lindos”. São Paulo: Companhia das Letras, 2013)
O mosquito escreve
O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.
O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U, e faz um I.
Este mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.
Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.
Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?
E ele está com muita fome.