Poetas Brasileiros

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Deixa secar no meu rosto
Esse pranto de amor que a presença desatou
Deixa passar o desgosto
Esse gosto da ausência que me restou
Eu tinha feito da saudade
A minha amiga mais constante
E ela a cada instante
Me pedia pra esperar
E foi tudo o que eu fiz, te esperei tanto
Tão sozinho no meu canto
Tendo apenas o meu canto pra cantar
Por isso deixa que o meu pensamento
Ainda lembre um momento a saudade que eu vivi
A tua imagem fiel
Que hoje volta ao meu lado
E que eu sinto que perdi.

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

Vinicius de Moraes
Álbum "20 Grandes Sucessos de Vinicius de Moraes"

Nota: Trecho da música "Samba da Benção"

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Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida. Poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais. Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.

Poema transitório

Eu que na Era da fumaça: - trenzinho
Vagaroso com vagarosas paradas
Em cada estaçãozinha pobre
Para comprar
Pastéis
Pés-de-moleque
Sonhos
- principalmente sonhos!
porque as moças da cidade vinham
olhar o trem passar:
eles suspirando maravilhosas viagens
e a gente com um desejo súbito
de ficar ali morando sempre...
Nisto, o apito da locomotiva
e o trem se afastando
e o trem arquejando
é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar...
Ah, como esta vida é urgente!
... no entanto
eu gostava era mesmo de partir...
e - até hoje – quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas.

— A solidão gera inúmeros companheiros em nós mesmos.

Evite tudo o que despertar os seus piores. Contemple a natureza e se contemple. O melhor da vida está nesses dois lugares.

Ah, quem me dera. Ir-me contigo agora a um horizonte firme, comum. Embora amar-te. Ah, quem me dera amar-te sem mais ciúmes. De alguém em algum lugar que nem presumes..

Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade.

Quando eu era pequeno pensava que de um momento para outro eu cairia para fora do mundo.

Clarice Lispector

Nota: Nota escrita por Clarice em um dos parágrafos do livro "A hora da estrela".

As boas maneiras são a melhor herança.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Fico com medo de me afastar da Ordem e cair no abismo povoado de gritos: o Inferno da liberdade. Mas continuarei.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço: sábado ao vento é a rosa da semana. Sábado de manhã é quintal, uma abelha esvoaça, e o vento: uma picada de abelha, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas. Nos quintais da infância no sábado é que as formigas subiam em fila pela pedra. Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia carne-seca e pirão: era sábado de tarde e nós já tínhamos tomado banho. Às duas da tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: e ao vento sábado era a rosa de nossa insípida semana. Se chovia, só eu sabia que era sábado: uma rosa molhada, não? No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana exausta vai morrer, ela com grande esforço metálico se abre em rosa: na Avenida Atlântica o carro freia de súbito com estridência e, de súbito, antes do vento espantado poder recomeçar, sinto que é sábado de tarde. Tem sido sábado mas já não é o mesmo. Então eu não digo nada, aparentemente submissa: mas na verdade já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã. Domingo de manhã também é a rosa da semana. Embora sábado seja muito mais. Nunca vou saber por quê.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Crônica Sábado.

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O que eu te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Ângela é doida. Mas tem uma lógica matemática na sua aparente doidice. E se diverte muito, a escandalosa. Aguça-se demais e depois não sabe o que fazer de si. Que se dane. Entre o “sim” e o “não” só há um caminho: escolher. Ângela escolheu “sim”. Ela é tão livre que um dia será presa. “Presa por quê?” “Por excesso de liberdade”. “Mas essa liberdade é inocente?” “É”. “Até mesmo ingênua”. “Então por que a prisão”? “Porque a liberdade ofende”.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O “amar os outros” é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica As três experiências.

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Minha essência é inconsciente de si própria e é por isso que cegamente me obedeço.

Abro o jogo! Só não conto os fatos de minha vida: sou secreta por natureza.

Há verdades que nem a Deus eu contei. E nem a mim mesma. Sou um segredo fechado a sete chaves.
Por favor me poupem.

Clarice Lispector

Nota: Os dois primeiros pensamentos pertencem ao livro "Água Viva" (1998). O terceiro é um trecho do conto Brasília, presente no livro "Todos os Contos" (2016).

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Vou me acrescentando em folhas.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.

Clarice Lispector

Nota: Trecho adaptado do livro "Um sopro de vida".

Ele disse: não chore que chorar enfraquece. Eu disse: mas às vezes é como a chuva de que se precisa quando tem estiagem demais e tudo fica muito seco.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Um instante fugaz.

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E só estou triste hoje porque estou cansada.

Clarice Lispector
Clarice Lispector em entrevista concedida ao repórter Júlio Lerner, na TV Cultura, em 1977.