Poeta Russos

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Escutai, pois! Se as estrelas se acendem é porque alguém precisa delas. É porque, em verdade, é indispensável que sobre todos os tetos, cada noite, uma única estrela, pelo menos, se alumie.

O barco do amor chocou contra a rotina diária. Agora eu e você terminámos. Por isso é inútil elaborar uma lista de mágoas, dores e feridas mútuas.

Vladimir Maiakóvski
MAIAKOVSKI, V. The Bedbug and selected poetry. New York: Meridian Books, 1960

Eu não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta e escreva versos. E, em geral, tais regras não existem. Chama-se poeta justamente o homem que cria estas regras poéticas

A Esperança

Injeta sangue no meu coração, enche-me até o bordo
das veias!
Mete-me no crânio pensamentos!
Não vivi até o fim o meu bocado terrestre,
sobre a terra
não vivi o meu bocado de amor. Eu era gigante de porte,
mas para que este tamanho?
Para tal trabalho basta uma polegada.

Com um toco de pena, eu rabiscava papel,
num canto do quarto, encolhido,
como um par de óculos dobrado dentro do estojo.
Mas tudo que quiserdes eu farei de graça:
esfregar,
lavar,
escovar,
flanar,
montar guarda.

Posso, se vos agradar, servir-vos de porteiro.
Há, entre vós, bastante porteiros?
Eu era um tipo alegre,

mas que fazer da alegria,
quando a dor é um rio sem vau?

Em nossos dias,
se os dentes vos mostrarem não é senão
para vos morder ou dilacerar. O que quer que aconteça,
nas aflições,
pesar...

Chamai-me! Um sujeito engraçado pode ser útil.
Eu vos proporei charadas, hipérboles e alegorias, malabares
dar-vos-ei em versos. Eu amei... mas é melhor não mexer nisso.
Te sentes mal? Tanto pior...

Gosta-se, afinal, da própria dor.
Vejamos... Amo também os bichos -
vós os criais,
em vossos parques?

Pois, tomai-me para guarda dos bichos.
Gosto deles.
Basta-me ver um desses cães vadios,
como aquele de junto à padaria,

um verdadeiro vira-lata!
e no entanto,
por ele,
arrancaria meu próprio fígado: Toma, querido,
sem cerimônia, come!

Você só existia no meu cérebro inflamado.

Vladimir Maiakóvski

Nota: Trecho do poema "To All and Everything"

"A arte, meus amigos, não é um espelho do mundo, é sim, uma ferramenta para consertá-lo."

Tu

Entraste.
A sério, olhaste
a estatura,
o bramido
e simplesmente adivinhaste:
uma criança.
Tomaste,
arrancaste-me o coração
e simplesmente foste com ele jogar
como uma menina com sua bola.
E todas,
como se vissem um milagre,
senhoras e senhoritas exclamaram:
- A esse amá-lo?
Se se atira em cima,
derruba a gente!
Ela, com certeza, é domadora!
Por certo, saiu duma jaula!
E eu de júbilo
esqueci o jugo.
Louco de alegria
saltava
como em casamento de índio,
tão leve,
tão bem me sentia.

Vladimir Maiakóvski
MAIAKOVSKI, V. The Bedbug and selected poetry. New York: Meridian Books, 1960

Nós abríamos Marx
cada volume
como em nossas casas
abríamos as janelas
mas mesmo sem livros
nós compreendíamso
em que lado estar,
em que lado combater.

Onde eu morrer
eu vou morrer cantando.
Que eu caia aqui ou lá, não importa,
eu sei.
Sou digno de ser colocado
próximo aos que tombaram sob a bandeira vermelha.

Basta de verdades baratas.
Arrancai o ranço do coração!
As ruas são nossos pincéis
e paletas as nossas praças.
No livro do tempo
ainda não foram cantadas
as mil páginas da revolução.
Para a rua, futuristas,
tambores e poetas!

Vladimir Maiakóvski

Nota: Trecho do poema "Ordem do dia aos exércitos da arte"

BLUSA FÁTUA

Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, donjuan, com ar de dândi.

Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde das minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"

Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!

Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta
garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!

(Tradução: Augusto de Campos)

⁠Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
– Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo,
a mãe,
pelo menos a Terra.

⁠Aonde no amor seja aceito tudo, desconfio que não seja amor, seja a falta dele.

E então, que quereis?...


Fiz ranger as folhas de jornal

abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

de cada fronteira distante

subiu um cheiro de pólvora

perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

nada de novo há

no rugir das tempestades.



Não estamos alegres,

é certo,

mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.

Comigo a natureza enlouqueceu
sou todo coração

⁠Meu amado barco
Espatifou-se nas pedras da rotina
Acertei as contas com a vida
E é inútil continuar contando
Dores sofridas em mãos alheias.
As desgraças
E os insultos.
Sorte aos que ficam.

Impossível

⁠Sozinho não posso
carregar um piano
e menos ainda um cofre-forte.

Como poderia então
retomar de ti meu coração
e carregá-lo de volta?

Os banqueiros dizem com razão:
“Quando nos faltam bolsos,
nós que somos muitíssimo ricos,
guardamos o dinheiro no banco”.

Em ti
depositei meu amor,
tesouro encerrado em caixa de ferro,
e ando por aí
como um Creso contente.

É natural, pois,
quando me dá vontade,
que eu retire um sorriso,
a metade de um sorriso
ou menos até
e indo com as donas
eu gaste depois da meia-noite
uns quantos rublos de lirismo à toa.

Vladimir Maiakóvski
Antologia Poética (2020).

Eu

Nas calçadas pisadas
de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneos de frases ásperas
Onde
forcas
esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
pescoços de torres
oblíquas

soluçando eu avanço por vias que se encruzilham
à vista
de crucifixos
polícias

1913

Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse.

" Ó! delicados!
Vós que pousai o amor sobre ternos violinos ou,
grosseiros que o pousais sobre os metais!
Vós outros não podeis fazer como eu,
virar-vos pelo avesso
e ser todo lábios!"

Inserida por hacasil2013