Poeta
DESEJOS EM AGONIA
Eu queria ser a brisa no teu esplendor
Galgar pelo tempo, ao vento imenso!
Eu queria ser alma em tudo que penso...
A aura do teu sentido e o teu frescor!
Eu queria ser o gosto do teu beijo denso,
O mel que escorre da tua boca em flor!
Ser as lágrimas do teu pranto sem dor
Que beija a tua face, sob o desejo tenso!
Eu te desejo sobre o langor dos sentidos
Por tempos curtos passados e perdidos,
Num dia de noite, sobre trevas sem fim...
Minha alma vagueia ao tempo em agonia
Por deixar-te passar ao vento aquele dia
Em que o ar teu perfume errou em mim!
HORAS QUENTES
Se eu pudesse ter-te, oh, amada minha,
Nesta hora em que os desejos aflorados
Consomem todos os medos e pecados
Deste Poeta louco que te adivinha...
Toda louca que tu és, bem à noitinha,
Vem ao pôr-do-sol a lua dos amados
A deixar-te em suspiros amargurados,
A estender-se pela noite, tão sozinha...
Se eu pudesse ter-te às horas quentes,
Sob roupas íntimas que te põe ardentes,
Rasgaria em linhas as vontades tuas...
Deixaria estas loucuras sem passado...
E no momento que tivesse do meu lado,
Suavizados, faríamos amor... às luas!
VOLIÇÃO
Que tudo o que fui e tudo o que sou
Não se perca no tempo...
Que o espelho de mim reflita a um futuro breve
Não melancólico, ou triste, ou amargo,
Mas numa doçura leve...
Que o amor que tenho não seja esquecido
Como uma flor morta sobre a terra,
Mas que o lembrem para a eternidade...
E, de mim, do meu corpo,
Que os ventos o espalhe como cinzas ao mar!
AFETO
O tenho porque a vida me deu, portanto,
Para mantê-lo altivo e forte
Sem que o tenha de repente à morte,
O complemento de essência um espanto!
Sempre o mantendo de perfume infanto!
Sempre o ouvindo de inteira sorte!
Que morrer não fosse nunca a norte
Cantando... e sorrindo... chorando e tanto.
Ao sol alto e de infinito o ando viver...
De sorrisos largos, complexo, equivalente;
Que o tenho a propósito de encontrar...
Que no mesmo recesso e ao mesmo querer
O sobressalto, portanto, a toda gente,
Que o amor nos seja a vida, o som, o ar...
SUBSTÂNCIA FLUIDA
Eu só queria ser o que nunca fui;
Vida, som, ar... não sei o quê.
Queria ser a tua fragrância que dilui...
E, nos ares do amor, amar você!
Eu só queria ser o que inteiro flui...
Na alma, brotar o que não vê.
Queria ser o teu amor que não deflui
E dentro de mim, o teu por quê!
Queria ser a tua substância fluida,
Jazer em tua alma numa outra vida
E ser inteiramente o teu querer...
Mas se me ponho em outras esferas,
Neste presente que são as tuas eras
Cairia no abandono o meu ser...
PAGÃO
A vida segue-me andando
Sem que o destino possa-me compor...
Qual sol? Qual luar? Ando
Sem saber onde encontrar o amor...
Qual chorar? Qual mágoa? Pecando
As sombras desse caminho... Nem dor
A mimh’alma desdenhando
Possa-me servir qualquer vigor...
Lágrimas encontram-me à cadência...
Qual sofrer? S’em nada pensa
A esse falsando que ninguém viu...
A essa vida, eu respondo:
Vai andando... e cantando... compondo
A encontrar quem lhe sorriu!...
SONETO DA COBIÇA
Pois, nem quando a noite cai
Faz se apagar a beleza de seu olhar.
Nem as vozes que te detrai
Tiram-me a vontade louca de te amar.
Pois, na desordem se contrai
O nosso aberto amor a se encontrar.
É sangue que nas veias vem e vai
Que não se pode da mente apagar...
Apagar em nós todas as loucuras
Por o desejo de nossas almas puras,
Nem por as entranhas aquecer...
Pois, nos amamos quais dois ateus,
Sem nos esquecer das leis de Deus
Por o nosso intenso amor enternecer.
DAMA DAS ROSAS
Por ser docemente bela, única e quente,
És a Musa que inspira o meu querer...
A amo assim, tão simplesmente
Por me fazer em paixão enlouquecer...
Às altas chamas, ao clamor independente,
Sim, eu a amo, em desvarios de prazer,
Que trago ao coração, unicamente
Por completar às insanas o meu viver...
Pois eu a amo, minha bela, meu sorrir,
Minha virgem, meu engano, meu amor...
Sim, eu a amo sem ao menos te sentir!
Tão somente, pois, és tão rara criatura,
Um amor de versejar e de se impor...
Às vozes belas, Dama das rosas e ternura!
CINDERELA
Era ela, a minha amada: a que alucino...
Veio pra mim naquela carruagem.
– Bem que eu sabia que seria ao meu destino
Aquela que me era uma miragem...
Veio ela, sem que me fosse de passagem,
A minha poesia, o meu sol, o meu desatino...
Era ela: o meu encanto de roupagem,
Veio pra mim com seu amor intenso e fino...
Era ela, a minha amada, aquela coisinha,
De amar sem sofrer, sem sentir dor,
– Que das canções alucinava de ser minha...
Mas quando de verdade eu a cantava... ai, o dia!
Uma luz a iluminava em tão primor
E me acordava da mentira em que eu sorria...
AMOR DE MENTIRA
Ah, se você fosse aquela que alucino
Se você fosse aquela coisinha, fosse meu destino
De amar sem sofrer, sem sentir dor
E de amor fosse minha voz sem ser triste
Que de encantos morre sem ter nada
E se eu fosse dos teus dias aquela alvorada
Eu seria aquela verdade do amor cumprido
Eu não seria aquela paixão sem ser dito
Não veria na poesia o meu pranto
Se você fosse à melodia, fosse o meu canto
De felicidade, eu diria: amor, oh, minha amada
Por fim nessa estrada encontrei a paz
De amar, mas, somente se você fosse ela
Aquela coisinha bonita, fosse aquela
Que ao seu olhar um dia me viu passar...
O MESMO BEM
Por onde andei... amigo, cantando...
Nada de mal encontrei comigo!
Pois, por onde passei fui edificando
O amor, que agora, divido contigo!
Nesta canção que te canto exaltando,
Trago-te aos pés descalços abrigo!
Ao coração o sorriso espelhando
O mesmo bem, que me tens, consigo!
E, cantemos ao mundo assim: veja,
A vida se traça quando se deseja
O melhor perfume as mãos amigas...
Pois, o mal invejoso desencontrado
Tende a morrer por se querer elevado
O amor de graças e de belas cantigas...
DIGA-ME, AMOR...
Como posso amar assim como eu te amo
Que amor é esse a me perder
Esqueço tudo nem me lembro do engano
Que o amor pode a gente envolver...
Que paixão é essa que me faz
Te procurar o tempo todo e não desfaz
A vontade louca de te amar...
Tanta coisa me disfarça sem que a dor
Consigo disfarçar por tua ausência
Como eu te amo assim com tão primor
Se nem viver por mim é tua essência...
Amor, quero te dizer que neste mundo
Eu nunca amei alguém assim igual
Meu coração jamais pulsou tão profundo
Como pulsa ao teu amor não é normal...
Que amor é esse a me perder
Esqueço tudo nem me lembro do engano
Que o amor pode a gente envolver
Como posso amar assim como eu te amo...
EU E VOCÊ
Veja, como ando agora como estou
Olha só como você deixou
O meu coração cansado de sofrer:
Insano ao teu querer perdido
Ando pra lá e pra cá eu vivo
Sorrindo deslumbrado por você...
Olha, mesmo ainda nessa solidão,
Me vejo findar nas tuas mãos
No prometer do infinito nosso amor
Vejo o momento de encontrar
O seu luar mais cheio edificar
Dentre à noite o nosso esplendor...
Veja, depois de tanto tempo assim
Esperei por te encontrar em mim
Agora, veja só, você me vem
Querendo duvidar desse sorrir
Por que me perguntar desse existir
Se está a sorrir você também...
Vamos viver sem que nos seja ilusão
Deixar nossa tristeza e a solidão
Pra trás, na vida que passou
Deixar o coração cansado de sofrer
Vamos deslumbrar à vida eu e você
Viver a intensidade desse amor...
MAIS QUE AMAR
Qual amor eu sinto
Se não o que vem de você
Em mim nada mais
Será tão forte em dizer...
Este sentimento, esta paz
Ninguém mais me terá
Quais vêm de você
Não poderão encontrar...
Além de tudo o que sou
Este amor é maior que o mar
Maior que todos os astros
Que paixão e desejo
Mais que o sol a queimar...
Por tantos caminhos andei
Tanta dor eu senti
E além dos sonhos busquei
O teu amor pra amar...
Agora em você renasci
Como renasce o sol e o luar
São duas vidas de amor
Que todos sentem viver...
Dois astros no mundo
De amor imenso e profundo
Tão mais eu sinto em você...
AMOR DE NÓS DOIS
Que ao te encontrar seja assim
Que seja amor pra você e pra mim
Que por fim nessa estrada
Seja eu teu amor e você minha amada
A cantar, a chorar e sorrir
E no sofrer do amar e viver
Que nos seja um prazer de existir...
Que ao te amar você possa querer
Que eu volte a encontrar você
E que este amor que insiste
Seja entre nós um amor de verdade
E que de imensa saudade
Possa chorar sem ser triste...
E no lembrar do depois
No passar desta vida
Que a melhor coisa cumprida
Seja o amor de nós dois...
TENTAÇÃO
Até quando aguentarei os normais?
Até quando meu coração terá piedade?
Anjo ditador, cuidado com a realidade;
O meu louco coração já sofre demais!
Faça-me defesa das tentações irreais!
Não me deixe que as dores da saudade,
Nem que a minha lealdade
Possa se estressar por um pouco mais!
Tu que sempre, anjo, me dá a mão,
Peço-te, por uma vez, mas de coração,
Não te revogue a força entre a gente!
Mas, não te deixa de verdade em falar!
Nem jamais me deixa a lua se abrandar...
E da real tentação, faça-me contente!
SONETO DA RAZÃO
Nesta vida de pressentimento altivo,
Elevado e ardente como a chama,
Que aos desejos incendeia e ama,
É por teu prazer que o amor cativo...
E neste sentimento insano, explosivo,
Que de ardor te deseja insana,
Endoidecida, a minha voz que clama,
É por tua espera que sonho e vivo...
Que bem, de paixão tanta, fosse à lua...
Mas, amor, que vivo pr’alma tua,
Que é de mim toda razão nesta vida!...
E, por antes, que não fosse à loucura...
Pois, que te vivo a desventura...
Mas, seja o amor como for, é a lida!
LOUCO
Deste acaso imprecado sem razão,
Em que eu vivo a desventura,
Tudo é pálido, é morto, tudo é vão
Dentre a minh’alma intensa e dura!
Não me há sentimento de ilusão
Neste transbordar de tortura...
Que já inventivo à solidão
Transpõe os meus olhos e perdura...
Eu já tanto sinto esse compasso,
Que já me é amor, que já é laço,
Que já me é tormento de conforto!
E deste blasfemo que vence a morte,
Que sorrio pela vida, desta sorte,
Já me sou de afeto intenso e absorto...
O MEU ÓDIO
A minha vida é d’uma saudade imensa...
Daquele que em mim pouco sente,
Num profundo notar, de toda a gente,
Daquele que vagueia e nada pensa...
Ando a desventura do que me intensa...
Ao meu falsado, sem que a frente
Eu consiga enxergar o que há contente
Nesta altiva agonia que me extensa...
Olhando por este mundo toda desgraça,
Do sentir que eu sinto, só por graça,
É o viver deste anseio dentro de mim...
E por este sentimento, por esta vida,
Do amor é o meu ódio, é a lida,
Que de saudade eu vivo sem ter um fim...
O CAMINHO
Eu vou andando assim, sem rumo...
Procurando-me se manter na vida...
Não vejo elevação, apenas vejo descida
Neste caminho tortuoso e sem prumo...
Mas a fumaça do cigarro que fumo...
Deixa pra trás os rastros da estrada cedida,
Mostrando-me que não haverá subida
Se matar em mim a fé que não assumo!
Um caminho é traçado a cada ser vivente!
Seja árduo, simples ou que seja figurado,
Não cabe, a mim, ser um tanto coerente...
Eu só quero agora um tabaco desfilado
Para voltar pela estrada entre tanta gente,
Quem sabe vejo, o caminho a ser traçado...