Poeta
Avessos
Em cada verso dispo os avessos
Do espírito da emoção a uivar
Dos rastros dos seus processos
Num precioso momento impar
Que saem e onde expresso
E que não me deixam calar
Cada verso chorado, por vir
É a minha forma de rezar
Pois a convicção é para se sentir
E a alma quer se manifestar
Loucuras?
Fazem parte de o meu poetar
Ali me escondo, minhas venturas
Digo meus fados sem oprimir
Cato pareceria aos versos solitários
Assim as fantasias podem fluir
E eu ter o meu fértil relicário
Pois dele dependo, e ele de mim
Efeitos que decifram meu diário
Do meu complexo eu sem fim
Sim ou não, um novo itinerário
Que me faz ir além, e assim
Nos avessos o sentimento é o cenário
E o amor meu estopim.
Luciano Spagnol
saudade de amor
a saudade não nos engana
sua chegada
faminta e soberana
só trás dores gigantes
no vinho carraspana
amantes mais que antes
achamorrados
indesejados
carente
e assim, sofrente
de dentes cerrados
não mais que de repente
já de olhos vergados
mira o mundo à frente
e se põe novamente enamorado
e nesta ciranda de querer e opor
num coração sulcado
se tem a saudade de amor
Luciano Spagnol
Farnel
A existência é um caracol
De curvas e lombadas
Tem o breu da lua e o brilho do sol
Sobe e desce e algumas paradas
E nestes altos e baixos
Deparamos com nossas caminhadas
Altivos e cabisbaixos
Tentando superar as escadas
O que não se pode perder no cordel
Neste emaranhado fio da meada
É de ter genuíno amor no farnel
Luciano Spagnol
Hesitas
Quando é, dormindo, será dia?
Quando é, noite, serei recordação?
Eu alma, a minha alma, fria
Alheio o pulsar do coração
Não sei, nada sei desta arrelia
Ou se despertarei da escuridão
Onde terá sol, ou terá só magia
E se assim, acordado, serei são
Planeja o tempo, o fado em parceria
Passará a dúvida, serei oração
E nesta angústia que me agonia
Serei curiosidade sem revelação
E na velocidade vem a vida, ironia
Descendo as ladeiras da vitalidade
Inspirando hesitas na minha poesia
De uma única certeza, um dia. Sem ser brevidade!
Luciano Spagnol
Mais um outono
Mais um outono aos amuos do vento
Desarraigando as folhas num valsar
De alento, saudade ou desalento
Que vão pelo umedecido e cinzento ar
Em pares, grupos ou solitárias
Vão se acomodando pelo chão
Em lentas e calmas romarias
Com doridas vozes em oração
Nos galhos os abraços dos ninhos
Acariciados pelos redemoinhos
Ali ficam poeirados e agarradinhos
As folhas são barcos nas corredeiras
Nos charcos descansam nas beiras
O outono costurando suas algibeiras
Luciano Spagnol
Me Deixem Chorar...
Quero uma fatia do tempo
Tirar a alma do relento
Assim o desacontecimento
Ter sentido, ter alento
E então descansar
Vendo o minuto passar
Com razão e oportunidade
Ter nova felicidade
Neste peso no coração
Sem que nada me peçam
Ou que seja em vão
Quero prantear livremente
O gemido triste ou contente
E se a dor me invadir totalmente
Que venha sem culpa ou penitência
Tirar a moral da aparência
Pois é minha e é única
E vestir o desejo com a túnica
Da superação, e ser compreendido
E não ter que ser corrompido
Mesmo que não saiba lidar com ela
Pois o novo dói sim, quero abrir a janela
E gritar ao mundo: - Sou livre! - Posso!
A vida não é um negócio...
Vou secar a lágrima e ir à luta outra vez
Quero ressurgir mais forte, ter mais lucidez
E no ato de tentar e tentar
Na fragilidade humana
Peço que me deixem chorar.
Luciano Spagnol
O tempo e eu
Tudo se tornou tão conciso
O tempo pequeno
O sonho que preciso
Um aceno...
Tudo tão distante, indeciso
Passando tão rapidamente
Meus velhos amigos, indiviso
Os cabelos brancos comumente
Eu ali diante do tempo, sem opção
Que passa velozmente, outrora recente
Aquele tempo cheio de porção
Que aos olhos era lentamente
E livre de pensamentos o coração
Abruptamente
Calcei a meninice de pés no chão
Que ficou no passado
Trancado pelo tempo o portão
Vai em frente
Diz com decisão
Friamente
Quando de repente lágrimas de emoção
Escrevem palavras de lembranças
Retratando a casa da vovó, paixão
O tempo agora, confiança
Já é tão sucinto
Mas com esperança
Acumulado no recinto
Da aliança
Do tempo e o aprender
A ter fé, nesta real dança
De que ser feliz é amar no viver.
Luciano Spagnol
Súplica
Queria poder enxergar
Só com os olhos da alma
Sem o habitual criticar
E agradecer a oferta alheia
Poder ter a sabedoria
De só espalhar alegria
Sem presunção
E o orgulho de boa ação
Suplico um coração sem tristeza
Que a vida só me dê clareza
Aos sonhos ilusões de amor
Aos atos semear valor
Aos amigos mais amigos
Entes queridos os inimigos
Sem ser rastejante diante dos fortes
Nem gigante diante dos fracos
Quero aprender o dom de perdoar
Longe o desejo de vingança ficar
Alongando os dias de realizações
Encurtando as noites de angústias
Trazer justiça aos momentos de astúcia
Alicerçando o desejo na divina fé
Tão necessária para poder evoluir
Na grandeza de homem existir
No coração o amor então construir.
© Luciano Spagnol
20/11/2007 - 05’ 30”.
Dia da consciência negra.
FRIO (cerrado)
Quem o contentar dirá destas noites de frio?
Corre no cerrado de galho a galho, arrepio
Dum vento seco e bravio. E eu, aqui tão só
Em queixas caladas, calafrios, é de dar dó
Recolhido na tristeza do invernado cerrado
Cheio de solidão, de silêncio e de pecado...
Que corrosiva saudade! Esquisita e estranha
Uma está lembrança forjada na entranha
Do inverno, caída de outrem, fluindo amargor
Onde, em sombrio sonho, eu vivendo a dor
Sem querer, na ingratidão, com indiferença
No vazio da retidão, da ilusão e da crença
Que acirrado frio, sem piedade, ofensivo
Que me faz reclusivo, neste cárcere cativo
Insano, em vão, duma melancolia lodaçal
Que braveja, me abraça e me faz tão mal...
Por que, pra um devaneador esta paragem
Que ouriça, e é tão deslocada de coragem?
Ah! quem pode me dizer pra que assim veio?
Se está tortura é passageira, assim, eu creio.
E a minha miséria aberta, escorre pelo olhar
Receio... e mais gelado fica em mim o pesar.
Uma prosa alheia, uma penitencia escondida
Se é só o frio, por que esta insânia homicida?...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
14 de julho de 2019
00’17”, Cerrado goiano
Olavobilaquiando
MORRE POR INTEIRO
Tem os que nunca partem
Vive em nossas lembranças
Da nossa nostalgia vão além
Alimentam nossas esperanças
Nesta passageira caminhada
Tecem fios de teia de amor
Forrando por toda estrada
O carinho, o afago, o calor
À distância nesta separação
É temporária, bem breve
Que conforta o coração
Faz desta ausência leve
Se partiu, deixou verdades
Norteou de afabilidades... (a vida!)
A emoção! Perpetuando afinidades
Pois morre por inteiro quem não deixa saudades.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho, 01 de 2010, 09’13”
Rio de Janeiro, RJ
VERSOS E REVERSO
Retornei ao ponto de partida
Vou procurar por outra saída
Para este desenlace de amor
Mesmo que possa dar em dor
Vou estar na posição oposta
Qualquer que seja a proposta
De não esquecer o seu olhar
Ainda que eu esteja a lhe amar
Vou voltar a ser o que era
Sem ter que ficar na espera
Destas almas se entenderem
Transformadas em quimera
Meu coração vai ser o revés
De minha vontade, ao invés
De correr para seus abraços
Vou é estar em outros laços
Desmistifico nestes versos
O avesso de meus sonhos
Estes pesadelos enfadonhos
Pra harmonia que proponho
Não quero opor a verdade
Que hoje fala meu coração
Com toda sua ambiguidade
Pra não reverter à situação
Hoje eu quero o anverso
De um amor no reverso
Pois eu vou ter e mereço
Por um amor com apreço
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
sábado – 17/05/2008
Rio de Janeiro
TUDO LONGE (fado)
Tudo longe, tudo vazio, tudo sem encanto
do teu canto, teu olhar, no peito no entanto
que se põe a suspirar... as tuas lembranças!
Que são lágrimas em rodopios e em danças
na minha saudade. Você está ausente!
Só o cheiro dos teus beijos nos lábios presente
Insistente: - num poema, num verso, num canto
uivando o acalanto, tanto, me jogando num canto
Nem o teu calor, o teu amor, aqui posso tocar
Você está longe... como nostálgico não ficar?
Ai está dor, este pranto, este manto, ai...ai... ai...
não me deixes tão distante, solidão... vai... vai...
A dor do amor sozinho, é tristura grande
que invade a alma, de quem é amante
Tudo tão longe, tão grande, tão emudecido
aqui neste gemido em sofrido alarido...
Me ponho ao vento por ti clamar:
- como é bom poder te amar!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
23 de agosto de 2019
cerrado goiano
pálpebras
(de manhã)
pro cerrado abro a janela
vejo o horizonte, audaz
as nuvens içam sua vela
à noite as fecho, usual
a lua fica lá fora
o céu ruborizado, colossal
estrelado, avança a hora...
durmo neste ritual!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
24 de setembro de 2019
Araguari, Triângulo Mineiro
a chegada
já a quarta estação me rodeia
tece sua cadeia de flores
as trepadeiras na ameia
da temporada dos amores
florescendo toda a aldeia
cada canto, todas as cores
no cerrado o ar perfumado
em um festival derredores
coroando o ciclo propalado
ameno, pintado, amadores
de um tempo dulcificado
mais que bela, quimera
com seus abraços, laços
em botões em espera
da diversidade em maço
a chegada da primavera!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Setembro de 2019
Araguari, Triângulo Mineiro
FISIOTERAPEUTA,
Doutor do movimento,
auxilia na dor, no alívio, alento,
mãos que tocam manobra,
atento.
Ao aflito: regente, presente.
Profissional da saúde,
do amparo, da evolução,
o que está ali em plenitude,
no socorro da superação...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
outubro
Cerrado goiano
dia do fisioterapeuta
(en)canto
no cerrado canta a cigarra
quer o (en)canto dum par...
canta, numa tal algazarra
até o teu peito estourar...
e neste som de guitarra
baila, seduz, sem parar...
de carência ou garra
a cigarra quer casar...
é sofrença ou farra
ou carma a carregar?
neste mantra se agarra
até a lua raiar...
é fanfarra
é verão à anunciar...
então, canta cigarra
a vida tem de continuar!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
outubro de 2019
Cerrado goiano
Seu cheiro ficou comigo
Após este breve adeus
E ter-te nos braços meus
Ficou a inocência de seu odor
Misturados com seu calor
Nos labirintos do lençol
Enlaçados com a turbação
Do pensamento sem noção
Gravados no sentimento
Inebriando o contentamento
Com resíduos de nossa paixão
Que naufragaram na minha emoção
É pura essência de hortelã
Que bem cedo, ainda pela manhã
Exala por todos os meus poros
Em eternos cânticos sonoros
Dissolvendo minh'alma em ti
Acordando o meu coração
Marejado de saudosa comoção
Da necessidade de você ter partido
Mas, seu cheiro ficou comigo
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
28/02/2019
Rio de Janeiro, RJ
eleitos
no silêncio, predestinação, na solidão
desígnios dos sentimentos estreitos
o mistério do coração
feitos, leitos, imperfeitos...
eu não te aguardava mais
estava sentado no barranco do cerrado
calado, as entranhas prostradas no cais
do fado, e cá nossos olhares acordado
suspirando os mesmos sensos reias
que já a muito sepultado...
e agora fatais.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
14 de outubro de 2019
Cerrado goiano
bioma
me encanta o reino do cerrado
onde cresce o diverso na diversidade
o pôr do sol que é encantado
num pique esconde na luminosidade
(no horizonte)
e nesta magia viva de vivacidade
és dourado, é ponte, é fonte, é cerrado
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
Violeiro chora a viola
Violeiro, está viola canta
e chora a saudade deste chão
este chão árido que o pranto na garganta
canta os amores nas cordas desta canção...
No meu peito também chora
este choro que não vai embora
junto da viola, que vai no raiar da aurora
Violeiro, chora a viola no meu pranto
deste desencanto que a sorte me reservou
se podes neste canto me consolar tanto
não se acanhe em espantar a solidão que aproximou...
No meu peito também chora
este choro que não vai embora
junto da viola, que vai no raiar da aurora
Violeiro, canta a viola no choro dos amores
se hoje sozinho, tenho ela cancioneiro e senhora
então consola minha solidão e minhas dores
daqui só saio se a viola for embora...
Viola e violeiro deixam eu ter este proveito
do canto e choro da viola, em poesia
pois assim alivia o meu peito...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Maio, 2016
Cerrado goiano