Poeta
PRAZER
Canta o teu olhar intensa cantata
E há, no querer desejos seduzido
Como que uma harmoniosa sonata
Em sensações e prazeres contido
Ditoso olhar que minh’alma desata
Sentido e paixão no coração partido
Vibrando o afeto bom de ser vivido
Na satisfação, duma grata serenata
Alvor carinhoso de momentos impar
De encarar tão meigo e apaixonado
Suspirado no profundo do teu olhar
Ah! num deliquar duma sede louca
Vai-se o arrebatamento no teu beijo
Mergulhar o meu amor na tua boca
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14 de agosto de 2021 - Araguari, MG
UMA SAUDADE
Saudades sinceras a tristura sincera
Quando há solidão no coração, dor
Do vazio que a lembrança não altera
Transtorna, amorna e torna rancor
Saudade é um agridoce instante
Que escadeira a alma e a tortura
É pesar que norteia e vela errante
Cuja a lágrima na sensação figura
Saudade não teme o tempo, a hora
Embora na noite ser uma imensidade
E, com inquieta perturbação sonora
E quem se afirma não ser verdade
Se isso é fingido, e fingido passou
Não amou, e da saudade não provou...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14/08/2021, 05’58” - Araguari, MG
SONETO COBIÇOSO
Talvez, depois do soneto chorar o passado
De tanto malogro, de tanto nublar comigo
Eis que ressurge verso tão cheio de abrigo
Nunca perdido, sonhado, sempre inspirado
É bom conservá-lo sempre ao meu lado
Com o cheiro e prazer de desejo antigo
Sempre presente e assim transformado
Vivo, e como sempre adejante comigo
Um verso simples, singular, cotidiano
Mas bem alindado na poética a incitar
Nada ímpar, basta o sentir humano...
De amor, sensação que não se explica
Surgi tão vário como vário é o poetar
E o soneto cobiçoso só se multiplica!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
15/08/2021, 14’58” - Araguari, MG
ALVOROÇO
Rouba, sim, meu sossego, ó alvoroço, eles todos
O que acaso fiz eu, nos desencontros de outrora
Sonhos sonhados, ideados, nenhum, só engodos
Amor suspirado do meu coração não tenho agora
O amor que amei, meu romantismo me tomaste
E por sentir e viver o roubo não posso culpar-te
E de amor eu permaneço. Qual amor me baste?
Se qualquer não me basta, e me deixaste à parte
E para ter o perdão como eu posso ser gentil?
Se meu coração tremulo chora com tal frieza
Que nem mesmo o meu afeto sabe ser sutil
Nesta aflição, dos enganos, meu amor é presa
Verdadeiros amadores, ao amor não trapaceia
Nesta ilusão minha alma de poética está cheia
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
16/08/2021, 18’58” - Araguari, MG
Shakespeareando
A VIDA ESCREVE
O fado meu contente, que a vida escreve
Vivendo de amor, um desejo tão ingente
Vive em uma poética, e tão eternamente
Canta cá no soneto, tão puro e tão leve
Se lá no assento do coração, tudo breve
Não tem aquele olhar e, se não consente
Sente não poetar o que não será ardente
Sim, desencontros, triste sina prescreve
E se vires que dele podes então merecer
Não verseje a coisa duma dor que ficou
Viva o momento, assim, verseje pra ser
Rogue ao fado, pela sede que acreditou
Traga pra ti a poesia no melhor querer
O amor, a sensação do que não acabou.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
20 de agosto de 2021, Araguari, MG
SONETO DE APEGO
Esse amor que se lança, em melodia
lúdico aos meus braços, tão sedutor
me arrebata, e me acaricia e balbucia
sensações no desejo, agradável ardor
Esse amor, inteiriço, alma e poesia
que suspira paixão e põe a compor
emoção, única a que dei os, alegria
e mais e mais, então, mais eu daria
Esse amor que a predileção ganha
a grandeza de repartir a quem ama
e guarda aquele sentimento singelo
Esse amor é inocente. Tão donzelo
talvez, mas ao toque que se flama
é amor que se derrama, rijo e belo!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
22, agosto, 2021, 06’21’ - Araguari, MG
SOU RÉU DE POESIA
Sou réu de poesia! Confesso a minha sina
Porém não me penalizo desse ditado fado
Sublime, o poetar é também feita contina
Jeito tão mais gostoso e tão quão amado
Por certo o que nos redime, nos faz alado
Arte! A quem quer ter a poética inquilina
Eu cedo, e está fortuna, assim, me defina
Se eu portar, por acaso, e for um sorteado
E nesta ação, tão incrível, embora fique
Meu poetizar espalhado em mil pedaços
Eu rogo que a inspiração tenha o clique
Sou réu de poesia, mas também indefeso
Na criação, da geração e dos teus passos
Assim mesmo, da prosa quero ser preso!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
22/08/2021, 05’58’ - Araguari, MG
DESLIZE
Eu da saudade sou quem chora
Da ausência, ilusão, desencanto
Se eu caminho na solidão agora
São motivos de trovar em pranto
A saudade é dor, volúpia ardente
Viva sensação, um remorso vão
Dá-me emoção amarga e quente
Injetada gota a gota no coração
E nessa saudade tão fria e feroz
Da tua privação, a aflição corre
Rimando versos tristes e tão sós
Vivo a suspirar como quem morre
E a lamentar se assim vale a pena
Essa saudade do amor de te amar
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
22/08/2021, 15’18’ - Araguari, MG
SONETO À GOIÁS
Saudação cerrado! Bom dia alvorecer!
Ouço o vento árido numa brisa quente
Que vem do planalto numa só vertente
Circunvalando os galhos num retorcer
Ipês amarelando o chão, ali cadente
Que divinal, a arte do desigual a ser
Numa beleza que o diverso é prover
Dum céu apinhado de estrela luzente
Boa noite! Pôr do sol da cor do açafrão
Da caliandra que enfeita todo o sertão
Onde a gente vai do cinzento ao lilás
Águas cascalhadas, de som e canção
Timbrando o capim santo em exalação
Numa superfície, num só lugar: Goiás!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Agosto de 2016 - Cerrado goiano
O Amor
Por muito tempo imaginei o amor, então
Lastimava, trovava, e sentia o teu vazio
Hoje sinto que não tinha qualquer razão
Não há o porquê, o tempo tem seu feitio
A solidão é só uma condição, e quão vão
Sinto-o no silêncio, no suspiro, no arrepio
Imagino, crio, sorrio, vive na exclamação
Porque o vazio, o vazio passageiro, assim
Dança, agita, fala, recria, balbucia ilusão
O amor, afim, este ninguém cala em mim...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
23, agosto, 2021, 13’58’ - Araguari, MG
UM BEIJO
Teu beijo, fostes a minha doce emoção
O melhor, o mais intenso e tão sedento
Contigo à alma elevou do firmamento
E devorei-te na boca a grata sensação
Apoderaste, a minha ideia não te olvida
Sente-te, arde, é imortal no pensamento
E o meu querer é desejo, é meu sustento
Com ele fui pela fervente paixão contida
Beijo ímpar, lascivo e precioso abrigo
Escravo, me sinto servo de tal instante
Por que, dado, não o deixei contigo?
Esputas-me, o gosto, de tão macio fruto
Beijo absoluto! afável, veludo delirante
Na constante presença daquele minuto!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
24, agosto, 2021, 15’17’ - Araguari, MG
Olavobilaquiando
QUASE TUDO
Quase tudo de poético em mim foi poetado
Quase tudo sussurrado de amor foi escrito
No versejar, o rimar do viver se fez infinito
Na cadência de mil sensações foi musicado
Tão fadado de emoções me tornei enamorado
Tão cheio de romantismo fiz do amor bendito
Cada soneto que fiz de agrado veio num grito
Suspiros, sentidos, em um ritmo compassado
Tenho dado o meu sentir a quem dele merece
Se em prece, honra, num coração sem escudo
Eu sou só gratidão, neste doar-se em benesse
E se por tanto romancear fiz engano, contudo,
Eu nunca fui do amor tirano, ou o mal fizesse
Pra ter no fado, quase tudo, sem dano e rudo!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
25, agosto, 2021, 09’58’ - Araguari, MG
SUSSURROS
Não há soneto que a poética visse
Que versasse como este que lemos
Um amor sentimental aqui teremos
Na prosa onde paixão certa fluísse
Olhe só! Cada verso em meiguices
Em sensações que o afeto teremos
Agrado que se faz em tais extremos
Adiante vai a poesia em fanfarrice
E, dando gestos de um amor profundo
Cantarola as trovas, suspira, bem isto
É o amor fluindo da alma bem fundo
Olhe com o olhar fecundo, bem visto
E, verás nas entrelinhas, num segundo
Sussurros, emoções, do amor, insisto!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
25, agosto, 2021, 15’27’ - Araguari, MG
DEIXE ESTAR
Se eu pudesse cambiar-te, se eu pudesse
Extrair-te de vez do meu repetitivo poetar
E a saudade de ter-te desapego eu tivesse
No esquecimento, pudesse, ali, te largar...
Ah se pudesse! ... se essa paz a mim viesse
Em canto ou em prece, me traga este lugar
Ao meu tormento, piedade, que seja benesse
Deste perdido amor, encantamento, se calar!
E, se a poesia insistir neste sofrimento meu
Do amor que eu senti um dia, e que foi seu
Silêncio. Permita ao amor, se quiser, chorar!
E olha, esqueça tudo por qualquer segundo
Tudo passa, mas doí tanto, e é bem profundo
Mas se é perdido, não esquecido, deixa estar!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
26, agosto, 2021, 11’03’ - Araguari, MG
ENCANTO
Se eu fosse uma prosa, eu te prosaria
Entre muitas, a de que te desejo tanto
Nesses versos seria o poético encanto
A beleza, sensação versada na poesia
Que és na composição amor e alegria
Não nego! pois, tem sedução no canto
A cadência que ao coração satisfazia
Gosto, toque, aquele possível recanto
E, se eu pudesse sem qualquer segredo
Recitaria: - em um sussurro profundo:
- como eu gosto de você. És meu ledo!
Te versaria, se pudesse, num segundo
Muito mais, o que não pouca é enredo
Inspiração, paixão, maior do mundo!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
27, agosto, 2021, 14’44’ - Araguari, MG
GALANTEIO
Não te desejo senão porque te desejo
De querer-te tanto, que te quero tanto
Um amor que vela e, espera o ensejo
Te tem no coração num doce encanto
Cortejo-te apenas porque a ti eu cortejo
Em meus versos, pra ti, sem fim, canto
Na ajustada medida de amor eu pelejo
Para amar-te, ter-te, neste amor santo
Me arde num sentimento verdadeiro
De sensação, emoção, cúmulo inteiro
Roubando minha paixão num canto
E, portanto, assim, eu me vejo e sofro
E sofrendo de amor, vivo e desespero
Porque te quero, amor, tanto... tanto!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28, agosto, 2021, 11’08’ - Araguari, MG
*aniversario de Araguari, MG
CANTAR EM VERSO
Tenho sede de poesia, tua rima, de tua poética
e por essa via vou sedento, falante, esfaimado
me sacia cada verso, cada sensação que libera
busco o som, a quimera, as prosas de cada dia
Sou faminto da imaginação, teu sonho alado
de tua sintonia, tons, fantasia, isto ou aquilo
tenho fome de emoção de tuas unas alcunhas
quero devorar cada ato na minha inspiração
Quero a poesia alinhada em sua formosura
alvura no verso, tal qual o claro luar posto
quero beber a luz fugaz de tuas centelhas
E, sequioso venho e vou provando o gosto
das palavras, catando toda paixão da gente
os cheiros, sentimentos, no sedutor cerrado
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28, agosto, 2021, 14’21’ - Araguari, MG
Serventia
Na minha alma tem uma condição
Na minha alma tem uma poética
E, na minha poética uma fonética
Vem comigo. Prove da sensação!
Tem força, vive no cerrado, ética
Que me chama, clama, doce ilusão
Na minha alma tem uma variação
Na minh’alma tem vária dialética
Na serventia, inspiração!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
29/08/2021, 08’20’ - Araguari, MG
ESPÍRITO DE UMA SAUDADE
Carrego comigo a tua recordação
No coração eu carrego a saudade
Nunca estou sem ela, uma prisão
Na minha calmaria, na liberdade
Onde quer que vá, comigo estão:
- o teu nome, o cheiro, a vontade
Você é o meu castigo, a sensação
A emoção suspira na calamidade
Eu carrego essa saudade comigo
Eu a carrego no aturado coração
Sem você o desejo é um mendigo
Comigo essa saudade eu carrego
No aturado coração, dura solidão
Saudade, a ti meu espírito entrego...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
29/08/2021, 15’31’ - Araguari, MG
ENFADA SAUDADE
Está saudade enfada que me devora
numa melancolia igualmente sentida
em uma ausência que brada e chora
aperta o ar numa sufocante batida
É uma sensação que do peito evapora
nesta aflição interior, inquieta, abatida
em mistérios duma sofreguidão sonora
que me atinge, desorganizada, sofrida
Entrego-te todo este mísero alvoroço
o sorriso, a nostalgia, a tranquilidade
quero contigo suspirar, sair do fosso
Então, não me deixe nesta imensidade
de sensações, vazio, o padecer vosso!
que me devora nesta enfada saudade...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
30/08/2021, 06’19’ - Araguari, MG
Dois anos de morte de meu 5º irmão.